quarta-feira, 30 de abril de 2008

Saudades do mini


Às vezes interrogo-me se não estarei a viver outra existência, tantas são as mudanças...
Acelera-se o progresso, multiplicam-se as descobertas e inovações; aquilo que ontem não passava de ficção, surge hoje como produto de consumo universal!

E que dizer da subida dos preços? Hoje anunciou-se mais um aumento da gasolina e isso deixa-nos quase indiferentes...Mas, há trinta anos, esses valores nunca poderiam ter sido imaginados!
Apetece-me por isso dizer como aquela senhora velhota do anúncio: "Eu sou do tempo em que....". Aqui vai! Sempre vos digo que comprei o meu primeiro carro, em 1971, por 52.500 escudos...Era um Austin mini club man, um carro resistente e mais caro do que um Fiat 600! E para completar, um litro de gasolina custava 1.20 escudo (menos de 1 cêntimo, pasmem todos!), depois passou a 1.50 escudos, atingindo com a crise, em 1973, 2.50 escudos...

Sei que tudo é relativo! Mas têm de concordar que há razões bastantes para sentir saudades do meu mini cor de café com leite. Acompanhou-me durante mais de 12 anos, com ele fiz o caminho para o trabalho e até algumas viagens mais longas. Alguém viu por aí o meu BI....?

terça-feira, 29 de abril de 2008

Comércio em crise

A crise está aí e veio para ficar. Não serve de nada olhar para o lado, fingindo que tudo vai bem !

Ao percorrer as ruas da Baixa de Lisboa sinto o coração apertado, observando como se degradou o comércio tradicional. A Loja das Meias encerrou portas e outros estabelecimentos de referência tiveram o mesmo destino...

É uma situação generalizada, dizem. Pois!... Experimentei, hoje, isso mesmo no Centro Comercial de Alvalade, onde entrei com o objectivo de comprar um livro. Julguei estar enganada e, só depois de perguntar, soube com espanto que também a Livraria tinha fechado. E assim ficou adiada a compra do presente!

Quase fugi daquele ambiente escuro de lojas cobertas com papel, espaço agradável de outrora,mas que hoje mais parecia um centro comercial-fantasma... E só no metro, encontrei alívio para tal pesadelo!

Mãos...


Da mão do Pai partiu o amor de Deus ao homem, tal como Miguel Ângelo retratou no acto da criação! Esta imagem, tantas vezes repetida e também utilizada por cineastas (quem não se lembra do ET?), apela ao sentido da vida.

A mão corresponde ao que somos, queremos e desejamos. Mão da dádiva, do trabalho, da franqueza, da ternura e delicadeza que todos damos e recebemos. Prolongamento do cérebro, a mão exprime sentimentos e instintos, independentemente da dimensão, da côr ou elegãncia...

Da mão saíu o primeiro gesto de boas-vindas ao nascermos, da palmadinha nas costas fica a ternura de felicitação e é ainda com um simples gesto de mão que apaziguamos a dôr de quem sofre ...o luto ou a dôr física e é sempre do afago de uma mão que espera o doente no último momento de vida!

Da mão se faz a grandeza ou a miséria. Mão calejada pela dureza do trabalho, mão gretada pelas tarefas rudes e pesadas, mão fina de artista que traça e dá côr às formas, de músico que recria e harmoniza sons, mão que alimentam os que têm fome, mão que salva a vida nos campos de guerra, na via pública e nos hospitais....Número infindável de mãos, de tantos profissionais ao serviço do próximo, minimizando carências, sofrimentos, mas também animando e alegrando os homens, despertando emoções e gosto pelo belo.

Daquela mão que pratica o mal, causa dor física e sofrimento... mão que fere, mata e estropia...não quero falar hoje!

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Visita ao Castelo de S. Jorge


A maioria das pessoas gosta de viajar. Há tempo e percursos para todos os gostos e idades. Regra geral, os jovens preferem lugares distantes e famosos pelo exotismo ou entretenimento...
No entanto, as circunstâncias nem sempre permitem "esse destino de sonho"e, então, por que não optar pelo conhecimento da nossa cidade, vila ou região?
Tenho de confessar que sou privilegiada por viver em Lisboa, onde há muito para descobrir ou revisitar. Pensava nisto na quarta-feira, ao regressar de mais uma visita que, mensalmente, a UTIL (Universidade da Terceira Idade do Lumiar) nos proporciona. Tratou-se de rever o Castelo de S. Jorge e a paisagem envolvente. Apetece-me perguntar a todos os meus amigos e conhecidos: há quanto tempo não vai ao Castelo de S. Jorge?

O dia enevoado punha em risco o principal objectivo: observar a Cidade a partir da "Torre de Ulisses". Mas, apesar disso, lá conseguimos reconhecer alguns espaços, vislumbrar alguns carros na Ponte 25 de Abril e as pessoas apressadas nas imediações de Santa Apolónia...
Muito interessante, mas incompleta e, por isso, ficou já programada nova visita, desta vez a título individual...

De facto, fiquei deveras agradada com a visita. Muitos eram os turistas que deambulavam pelas encostas do Castelo, bem dispostos. Alguns sentavam-se nas esplanadas que antecedem a entrada e deliciavam-se com o fado. Parei e gostei de ouvir o fadista "sob a luz de um candeeiro estava ali o fado inteiro, pois toda ela era fado..."

Passava pouco das quatro da tarde e eu, calmamente, revia as noites no Faia, deste e outros fados cantados pelo Carlos do Carmo. Continuei o percurso e cheguei ao Largo da Igreja de Santa Cruz, igreja fechada que aguarda restauro....

O Castelo de ruas estreitas, nomes condizentes com o ambiente que aí se respira, assim é a Travessa do Recolhimento. Mais abaixo, a Igreja de Santa Luzia. Entrei e aí fui conduzida pela música que, em boa hora, nos convidava a rezar em paz connosco e com o mundo!
Do exterior, o Miradouro e a vista deslumbrante sobre a Outra Banda e Santa Apolónia.

Prossegui a caminhada: Teatro Romano, Aljube, Sé de Lisboa, Igreja de Santo António... Tantas divagações no tempo da História e no meu próprio tempo de vida. E até nem faltou a lembrança das noites de Santo António em que quase morríamos de fome se não fosse uma sardinha comida no pão no Largo de S. Miguel!

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Sporting



Imagem do Estádio de Alvalade, por certo em noite de glória do Sporting.
É este o meu clube que é capaz de grandes coisas... Lembre-se (5-2 ao Benfica) no passado 16 de Abril, um dia histórico para mais tarde recordar!
Alegria de curta duração, logo ensombrada pelo resultado em Leiria... azar dos azares!
E por isso, vale perguntar: ainda será possível alcançar o 2º lugar no Campeonato?
Não desanimemos... o verde sempre foi esperança...

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Mar e vida



Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram!
Quantos filhos em vão rezaram!


Cito de cor o início de um dos mais conhecidos poemas de Fernando Pessoa, evocando Portugal de outrora, mas sempre actual...
Grande riqueza tem o mar, fonte de alimento em tantas espécies, mas que configura também obstáculo a ultrapassar. Os poetas projectaram em monstros terríficos a imagem dessas dificuldades: adamastor, mostrengo...Mas, em última análise, temos de concordar que o mar funciona também como caminho para alcançar mais e melhores coisas!
Vem tudo isto a propósito de um provérbio curdo: Queres pérolas? Mergulha no mar! Verdade em sentido restrito, mas também uma "mensagem" de vida!




quarta-feira, 9 de abril de 2008

Rosmaninho

9 de Abril, um dia para lembrar Las Lys em 1918, a batalha em que tombaram muitos portugueses.Desde a infância que ouvi falar da I Guerra Mundial e já passaram 90 anos.

Ninguém da minha geração poderá desconhecer a "guerra das trincheiras", já que a data de 9 de Abril era assinalada condignamente. Todos os anos um grupo de ex-combatentes (cada vez em menor número) prestava homenagem no cemitério do Alto de S. João aos companheiros mortes. Era uma espécie de "registo para memória futura"que a RTP (no tempo do preto e branco)transmitia. Decorrido quase um século e ninguém lembra La Lys, porque há mais notícias e outros interesses...Talvez a RTP memória ainda passe a efeméride!...

Pensava no excesso de informação e na relatividade dos acontecimentos em História quando atravessava hoje a Quinta das Conchas. Apesar do mau tempo, a Primavera já deixou um ar da sua graça e, entre tantas tantas flores, logo os olhos foram cair no rosmaninho...
.. E, então recuei, mais uma vez no tempo, lembrando a terra onde nasci e cresci. Recordei um velho combatente da I Guerra chamado Manuel Eusébio, homem simples que trabalhava para o meu avô. Gostava de mim e eu sempre ouvia deliciada as suas estórias: relatos de guerra, dos tempos de agitação em Lisboa durante a I República e muitos casos anedóticos!
Muitos anos depois, percebi que tinha começado nessas "estórias" o meu gosto pela História. E assim fica demonstrado como um pé de rosmaninho em Lisboa pode originar tanta nostalgia!

terça-feira, 8 de abril de 2008

Mudam-se os tempos...


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...
Assim começa um soneto de Camões, o poeta que, como homem do Renascimento, tanto apreciava a Natureza e a sua mudança....
Mudança que se opera a todos os níveis, a começar pela repetição cíclica das estações: Primavera, Verão, Outono e Inverno!
Por hoje, convido-vos a olhar a imagem, o começo de Outono numa alameda de jardim!



sábado, 5 de abril de 2008

Lisboa e lisboetas


Pertenço ao número de pessoas que, embora tendo nascido fora de Lisboa, aqui mora e trabalha. Lisboetas por adopção que, de muitas e variadas origens, possuem um património cultural que não deve ser menosprezado. De resto, o cuidado na preservação desses valores manifestou-se ( e manifesta-se!) na existência de "casas" e "associações": espaços de convívio e memórias e de promoção de eventos que, por vezes, assumem o carácter de notícia a nível nacional.

A minha experiência diz-me como pode ser enriquecedor o relacionamento entre diversos géneros de lisboetas. A minha origem provinciana chegou a constituir motivo de certa inveja de uma amiga minha, nascida e criada nas "avenidas novas". Lamentava o facto de os naturais de Lisboa serem desprovidos do sentimento de "amor à terra", explicando a gravidade dessa falha afectiva. Quase lhe dávamos razão, mas logo contrapúnhamos argumentos: necessidade das "minorias" (os provincianos) se defenderam em relação aos mais fortes.... mas ela, como muitos lisboetas, sentia a falta do sentido de posse da sua casa e do seu quintal. Onde plantar as suas roseiras e as suas árvores? E assim como haveria de colher os seus figos ou maçãs? E, nós meninas de Letras, fazíamos coro neste gosto pela Natureza, como se vivêssemos em tempos da "aurea mediocritas"!

Talvez isto explique que, sentindo-me lisboeta, continue presa à minha terra natal. Vou lá com frequência, embora verifique que vai diminuindo o número de pessoas que conheço. Morreram muitos e agora são os "filhos e netos de....", daqueles com quem convivi na infância...