segunda-feira, 27 de abril de 2009

Ulisses e o Cão

" Cão grego nas ilhas gregas"

Não, não pode chamar-se uma beleza de cão a este exemplar que copiei da Internet. Mesmo assim, mantenho-o como homenagem ao fiel amigo de Ulisses.

A Odisseia regista o episódio...

"Chegados ao palácio, encontram Argo, o velho cão de Ulisses. Ao vê-lo, o cão levanta a cabeça e lança o seu último gemido, morrendo. Ulisses chora, secretamente, pois não quer que Eumeu descubra ainda quem ele é."

Depois de uma longa e atribulada viagem, Ulisses reaparece incógnito, podendo assim observar melhor o que se passa. Ressalta o velho cão que, com um sentido apurado, consegue antecipar-se no reconhecimento daquele mendigo andrajoso. Brevidade do reencontro, já que, cansado pelos anos de espera, morre. Enquanto isso, Ulisses esconde as lágrimas pela pela perda de um fiel amigo.

Sempre achei curiosa a forma como um Poema milenar retrata este sentimento de fidelidade. Do cão pelo dono, de Eumeu pelo seu amo e, mais ainda, a fidelidade capaz de gerar a astúcia de Penélope. Tecendo de dia o que desfazia de noite, conseguiu desse modo manter a expectativa dos pretendentes...até à chegada de Ulisses, seu esposo.

Uma última nota relativamente ao apego e ternura do cão. Registos actuais. Os media reportaram um canino que, tendo naufragado numa ilha deserta ao largo da Austrália, nadou para terra e, após meses de busca, reencontrou os donos.

Dir-se-ia que o faro do animal o conduz até àqueles que ama. Por essa espantosa sensibilidade busca socorro para o dono em perigo e, ainda mais, é capaz de pressentir "à distância", o sofrimento e morte daqueles que ama!..

sábado, 25 de abril de 2009

Convento do Carmo, memórias...


Lisboa. Na colina frente ao Castelo, o Convento do Carmo domina. A construção, meio arruinada pelo Terramoto de 1755, parece vigiar o Rossio e os lisboetas, salvo raras excepções, viram-lhe as costas...

Mas chega Abril. E aí Portugal acorda "pela mão"dos media que relembram a importância do Carmo em 1974. Passaram 35 anos desde esse dia da reconquista da democracia, embora o grande público continue a desconhecer os pormenores militares que antecederam a rendição do Professor Marcelo Caetano.

Liberdade no Carmo, um excelente trabalho da TSF, da autoria de Manuel Villasboas, "conta-nos tudo" sobre aqueles momentos de tensão no Convento do Carmo que "só por milagre", não foi destruído...

Evitou-se o derramamento de sangue e a perda de vidas. Acaso de erros de comando ou da protecção de Nuno Álvares Pereira? Ele que também lutou pela liberdade e que nesse espaço mandou construir o Convento, aonde se recolheu até ao fim dos seus dias... e que amanhã vai ser canonizado em Roma!

Convento do Carmo que, numa sequência de datas, assinala dois acontecimentos relevantes: a "conquista da liberdade" e o "lugar de santidade". Memórias da História de Portugal num espaço que urge preservar!


Três Tenores...




Alguns minutos para recordar os Três Tenores.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Kipling, de novo...


Nesta Primavera que, depois de dias quentes e soalheiros de Março regressou às imagens invernosas, até a Natureza parece querer associar-se às cores sombrias da crise...

"Mas onde há crise, há esperança", a matriz de uma afirmação que pretende renovar mentalidades. Colectânea de pensamentos distribuídos ao longo dos 365 dias do ano, da autoria de Vasco Pinto de Magalhães, padre jesuíta, onde se inscrevem verdades profundas que, bem assimiladas, podem gerar uma atitude positiva contra o ambiente de pessimismo e de crise.

Folheando ao acaso, deparei com uma referência a Kipling. Fica a transcrição.

"Aquele pai era um homem de grande fortaleza interior. Obrigou, entre aspas, o filho pequeno a decorar If, de Kipling, esse texto espantoso de imensa fortaleza e de imensa sabedoria. E houve uma frase que ficou àquela criança que se tornou entretanto um adulto, porque o pai achava que o filho devia saber aquilo bem e às vezes perguntava-lhe. A frase era: "recomeçar com ferramentas gastas". "Recomeça mesmo com ferramentas gastas, mesmo quando sintas que já as gastaste, então serás um homem!" E esta frase ficou-lhe para sempre."


Vasco Pinto de Magalhães, Onde há crise, há esperança, Edições Tenacitas, 2008, pag. 115

If...

If, o poema de Kipling, era do conhecimento universal entre os jovens da minha geração. Palavras que funcionavam como um programa de vida que os educadores veiculavam, aliciando-nos para a luta futura, mas sempre conduzida por princípios e valores éticos.
Ses que traduziam um modelo de pessoa forte e corajosa que nunca desistia, por maior que fosse o infortúnio e a desgraça. Recomeçar sempre!...


"Se consegues manter a calma quando à tua volta
Todos a perdem e te culpam por isso,
Se consegues manter a confiança em ti próprio quando todos duvidam de ti,
Mas fores capaz de aceitar também as suas dúvidas;
Se consegues esperar sem te cansares com a espera,
Ou, sendo caluniado, não devolveres as calúnias;
Ou, sendo odiado, não cederes ao ódio,
E, mesmo assim, não pareceres paternalista nem presunçoso:

Se consegues sonhar – e não ficares dependente dos teus sonhos;
Se consegues pensar – e não transformares os teus pensamentos nas tuas certezas;
Se consegues defrontar-te com o Triunfo e a Derrota
E tratar do mesmo modo esses dois impostores;
Se consegues suportar ouvir a verdade do que disseste,
Transformada, por gente desonesta, em armadilha para enganar os tolos,
Ou ver destruídas as coisas por que lutaste toda a vida,
E, mantendo-te fiel a ti próprio, reconstruí-las com ferramentas já gastas:

Se és capaz de arriscar tudo o que conseguiste
Numa única jogada de cara ou coroa,
E, perdendo, recomeçar tudo do princípio,
Sem lamentar o que perdeste;
Se consegues obrigar o teu coração e os teus nervos
A ter força para aguentar mesmo quando já estão exaustos,
E continuares, quando em ti nada mais resta
Que a Vontade que lhes diz: “ Resistam!”

Se consegues falar a multidões sem te corromperes,
Ou conviveres com reis sem perder a naturalidade,
Se consegues nunca te sentir ofendido
Seja por inimigos, seja por amigos queridos;
Se todos podem contar contigo, mas sem que os substituas;
Se consegues preencher cada implacável minuto
Com sessenta segundos que valham a pena ser vividos,
É tua a Terra e tudo o que nela existe,
E – o que é ainda mais – então, meu filho,
Serás um Homem.

R. Kipling, nascido em Bombaim, 30 Dezembro 1865, faleceu em Londres no dia 18 de Janeiro de 1936.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Como cantam as aves...

A imagem de um tucano remete para a Amazónia, um paraíso de cores e sons. Quem ama a Natureza deseja visitá-la, embora nem todos possam concretizar esse sonho...

Em todo o caso, existem paraísos mais próximos e nem sempre valorizados. Recantos lindíssimos, onde abunda uma fauna e flora acessíveis à nossa curiosidade. Para começar, uma viagem virtual. Ouvir o canto de aves, algumas espécies bem conhecidas, outras nem tanto.Mas todas deliciosas!


segunda-feira, 20 de abril de 2009

Adiando sempre...





Viver adiando, um hábito comum. Adiamos tudo para o dia seguinte. Amanhã faço, amanhã começo, amanhã trato disso...e o tempo passa, vai passando!

A graça e a ironia de Fernando Pessoa retrata esta atitude de "vida adiada" ... para o "depois de amanhã". E assim vivemos até chegar à impossibilidade de adiar mais...

A Relatividade do Homem


Naturalmente, o tempo da História é selectivo. A escrita da História selecciona e regista uma ínfima parte do passado. Acontecimentos, personalidades e fenómenos de toda a espécie vão sendo empurrados, pouco a pouco, para o campo de "arquivo morto", onde apenas alguns interessados os procuram e estudam.

O desejo de transmitir algo aos vindouros faz parte da condição humana. Assim acontece com a herança em testamento a familiares, o registo de uma actividade ou a criação em qualquer domínio cultural. Reflexo da ideia de imortalidade que, desde as mais antigas civilizações, os documenta registam.

Pensava em tudo isto quando deparei com um poema de António Gedeão que transmite bem a relatividade da condição humana. Por aqui passa também a angústia pelo esquecimento a que está votada a memória de todo o homem, mesmo sendo um poeta como ele!


"Compreende-se que lá para o ano três mil e tal
ninguém se lembre de certo Fernão barbudo
que plantava couves em Oliveira do Hospital,

ou da minha virtuosa tia-avó Maria das Dores
que tirou um retrato toda vestida de veludo
sentada num canapé junto de um vaso com flores.

Compreende-se.

E até mesmo que já ninguém se lembre que houve três impérios no Egipto
(o Alto Império, o Médio Império e o Baixo Império)
com muitos faraós, todos a caminharem de lado e a fazerem tudo de perfil,
e o Estrabão, o Artaxerpes, e o Xenofonte, e o Heraclito,
e o desfiladeiro das Termópilas, e a mulher do Péricles, e a retirada dos dez mil,
e os reis de barbas encaracoladas que eram senhores de muitas terras,
que conquistavam o Lácio e perdiam o Épiro, e conquistavam o Épiro e perdiam o Lácio,

e passavam a vida inteira a fazer guerras,
e quando batiam com o pé no chão faziam tremer todo o palácio,
e o resto tudo por aí fora,
e a Guerra dos Cem Anos,
e a Invencível Armada,
e as campanhas de Napoleão,
e a bomba de hidrogénio,
e os poemas de António Gedeão.

Compreende-se.

Mais império menos império,
mais faraó menos faraó,
será tudo um vastíssimo cemitério,
cacos, cinzas e pó.

Compreende-se.
Lá para o ano três mil e tal.

E o nosso sofrimento para que serviu afinal? "


António Gedeão, Poema

sexta-feira, 17 de abril de 2009

BÔ, um famoso Cão...

Bô, o mais famoso cão de água do Globo...
Assim vai o orgulho de Portugal! Não podendo concorrer a outros níveis, fica-nos um cão. Animal bonito, muito nosso e que os espanhóis nos quiseram tirar, chamando-lhe "cão ibérico". Sempre os mesmos estes nuestros hermanos, mas Obama sabe Geografia e não se deixa enganar!...

A propósito, o Inimigo Público dá-nos alguns pormenores deste caso...


"O Presidente da República, algarvio nado e criado em Boliqueime, está muito irritado. Não só a família Obama acaba de escolher um cão de água emigrante tuga de Newark de 28ª geração, como a imprensa espanhola referiu o bicho na imprensa de segunda-feira como “cão ibérico”. Segundo Nunes Liberato, chefe da Casa Civil da Presidência, “chamar cão ibérico ao cão de água algarvio é a mesma coisa que dizer que o segredo da receita dos pastéis de Belém é o torrão de Alicante, ora chiça!”

Cavaco mobilizou as forças armadas, pediu vigilância nas movimentações junto à fronteira e já encomendou um estudo ao LNEC que prove de uma vez por todas que o cão de água é tão algarvio como a Ria Formosa, o cimento ou Gerry McCann. MB."
Inimigo Público, 15 Abril, 2009

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Pirataria no Índico


Pirataria no Índico. Navegar nesta área, a de maior intensidade de tráfego a nível mundial, tornou-se um sério problema. Os incidentes diários constituem uma ameaça ao tráfego comercial, à pesca, à circulação de navios militares e de barcos de recreio. Consta já que estes serão os próximos alvos, em especial os super iates.

Ameaça à liberdade de circulação que vai determinar um concerto entre Estados, independentemente da sua localização. Os efeitos sentem-se já no custo dos produtos que a ONU faz chegar às populações carenciadas da costa oriental de África. E, em breve, não será de estranhar a subida do preço do petróleo e de outras matérias, uma vez que as dificuldades de navegabilidade na costa da Somália e no Golfo de Adem acabarão também por afectar a rota do Suez.

Razões para uma declaração de guerra à pirataria marítima. Mas como definir este inimigo?

Por estes dias de crise económica e financeira, a análise dos meios e preparação técnica dessas "forças piratas" suscitam grande perplexidade. Será tudo isto uma rede de pirataria bem estruturada ou significará antes uma organização apoiada em interesses políticos?

Simples pirataria ou uma actividade de corso? Piratas e corsários que a História de séculos passados registou. E não haverá coincidências?...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Haendel




1759, 14 de Abril, morreu Haendel. E, porque estamos ainda em tempo pascal, nada melhor que ouvir um extracto de Messias, uma obra ímpar do grande compositor.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Berlusconi, gaffe ou insensibilidade?


A compaixão sente-se e demonstra-se. Não foi isso que Berlusconi revelou, aconselhando os desalojados pelo desastre sísmico nos Abruzzos. Os media registaram as palavras do primeiro-ministro.

"Berlusconi aconselha sobreviventes a pensarem que estão num "acampamento de fim-de-semana"

O estranho conselho do primeiro-ministro italiano para relativizar a situação poderá facilmente cair mal perante o drama dos 17 mil desalojados que sobreviveram aos sismo de segunda-feira."

O Expresso

Palavras levianas que traduzem a insensatez de um político habituado a todo o luxo e conforto. Só assim se compreende a insensibilidade em relação ao sofrimento daqueles que, tendo perdido tudo, vivem horas de angústia e desconforto e, pior ainda, sem perspectivas. É assim a vida num parque de campismo, senhor Berlusconi?

terça-feira, 7 de abril de 2009

Sismo em Itália


Itália, um sismo de 6,3 de intensidade atingiu o centro do país. Surpresa e choque pela notícia de uma catástrofe que ocorreu na madrugada de ontem na região dos Abruzzos.

Dezenas, centenas de mortos...não sabemos. A dimensão da tragédia continua por avaliar nestas primeiras horas. A comoção compartilhada em espírito é o mínimo que, todos nós, podemos dar aos italianos que vivem a dor física e o sofrimento por esta imensa catástrofe.

Angústia, dor, mas também coragem e esperança. Misto de sentimentos que se traduzem na vontade de prestar auxílio aos feridos, de escavar com as mãos os escombros na tentativa de salvar o próximo. Esquece-se o medo das réplicas sísmicas e das derrocadas e quando o corpo fraqueja, existe sempre uma uma centelha de esperança que faz recuperar forças e prosseguir...

As imagens e os relatos hão-de ficar para registo dos factos e sentimentos. Por mim, deixo a nota de solidariedade que a fotografia escolhida demonstra. Solidariedade e compaixão de vizinhos, das forças de segurança, dos italianos e de todos os homens que, face às forças da Natureza, continuam impotentes!

domingo, 5 de abril de 2009

Domingo de Ramos

Giotto, Entrada de Jesus em Jerusalém

Domingo de Ramos, designação popular que assinala a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém.

De entre tantos artistas que trataram o tema, a minha opção recaiu em Giotto. Sendo uma interpretação simples e ingénua, o Artista revela já sinais de modernidade pela visão tridimensional do espaço, pelo volume e expressão das figuras.

A Igreja celebra com pompa e solenidade esta festa. De manhã, na Praça de S. Pedro decorada com oliveiras e tapetes de relva, a cerimónia teve a grandeza adequada ao espaço. Por cá, a benção dos ramos chama muitos fiéis à Missa, incluindo os não praticantes. A tradição manda guardar esses pequenos ramos até ao ano seguinte, a oliveira e uma palma que hão-de proteger a família e as suas terras.

Habituei-me, desde criança, a assinalar este Dia. E mesmo vivendo na cidade, tive a sorte de prosseguir esse ritual. Grandes ramos de oliveira colocados à porta da igreja permitem que todos disponham desse símbolo do início da semana da Páscoa...

Deste pequeno gesto do Pároco, fácil de executar, dado haver muitas e velhas oliveiras no adro da igreja, se alimenta a fé! E foi assim que numa igreja cheia, coro de gente nova e de excelentes vozes, me senti transportada a outros tempos. Será que os portugueses estão mesmo mais devotos?

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Nem tudo é fácil


Cecília Meireles, vista por Arpad Szènes

Tantos os temas, tantos os momentos e emoções que Cecília Meireles soube traduzir em poesia...

Difícil escolher um dos seus poemas, porque "nem tudo é fácil.".. diria eu, parafraseando Cecília. Registo um de entre muitos. Palavras simples e cheias de sabedoria: um tema para reflexão e, talvez quem saiba, alterar comportamentos e amenizar as relações de sociabilidade!

"Nem tudo é fácil

É difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste.
É difícil dizer eu te amo, assim como é fácil não dizer nada
É difícil valorizar um amor, assim como é fácil perdê-lo para sempre.
É difícil agradecer pelo dia de hoje, assim como é fácil viver mais um dia.
É difícil enxergar o que a vida traz de bom, assim como é fácil fechar os olhos e atravessar a rua.
É difícil se convencer de que se é feliz, assim como é fácil achar que sempre falta algo.
É difícil fazer alguém sorrir, assim como é fácil fazer chorar.
É difícil colocar-se no lugar de alguém, assim como é fácil olhar para o próprio umbigo.
Se você errou, peça desculpas...
É difícil pedir perdão? Mas quem disse que é fácil ser perdoado?
Se alguém errou com você, perdoa-o...
É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender?
Se você sente algo, diga...
É difícil se abrir? Mas quem disse que é fácil encontrar
alguém que queira escutar?
Se alguém reclama de você, ouça...
É difícil ouvir certas coisas? Mas quem disse que é fácil ouvir você?
Se alguém te ama, ame-o...
É difícil entregar-se? Mas quem disse que é fácil ser feliz?
Nem tudo é fácil na vida...Mas, com certeza, nada é impossível
Precisamos acreditar, ter fé e lutar
para que não apenas sonhemos, Mas também tornemos todos esses desejos,
realidade!!! "

Cecília Meireles