quarta-feira, 28 de setembro de 2011

"Para quê? Até quando?"


Rir faz bem. E, uma vez mais, os portugueses não perderam o sentido de humor. Exemplo disso está num mail que, por estes dias, invadiu as nossa caixas de correio. Assunto, o déficit. Tema inesgotável pela diversidade e dimensão de buracos financeiros. O mail, oriundo de uma hipotética agência de viagens, convida a uma visita à Madeira para apreciar a recém-descoberta cratera. Sem comentários...

Entretanto, a dimensão "daquele" buraco cresce todos os dias. Não se sabe onde irá parar, acrescentando os mais pessimistas que existem outros buracos por destapar. Para os já conhecidos e futuros existe uma certeza: a factura ao povo pertence. Só não sabemos bem como e quando. A prometida austeridade ainda só agora começou. Resultado do despesismo que grassou por este país e do sistema financeiro internacional.

Induzida pela leitura de um livro referente aos últimos tempos do Estado Novo, concluí que já passámos por dificuldades maiores. Então, havia guerra, austeridade e também não se vislumbrava um fim à vista. Desânimo era o estado de espírito dos soldados que combatiam em África, onde os mais esclarecidos se interrogavam. "Para quê? Até quando": estas as palavras de um coronel que, em 1971, manifestava em Moçambique um claro cepticismo em relação à guerra. Hoje, salvaguardadas as devidas proporções de um país outrora em guerra, apetece-me também perguntar qual o sentido da austeridade a que estamos sujeitos. "Até quando?"...

Vodafone, publicidade vergonhosa




Indigna-me este anúncio da Vodafone, exemplo flagrante do vale tudo na publicidade. Socialmente ofensivo, atentando contra a dignidade da mulher, da professora em particular. Recorrer à sexualidade configura uma imaginação pobre e que, no presente caso, convida ao desrespeito e indisciplina.


Felizmente existem outros operadores de comunicações. Por que não aderir à TMN, à Optimus ou outro ?

sábado, 24 de setembro de 2011

A última Tourada em Barcelona

O fim de qualquer coisa é sempre de assinalar. Nostalgia por antecipação...por uma data que marca o encerramento da Monumental de Barcelona. Uma construção centenária que há muitos dias esgotou para o último espectáculo. Amanhã, por esta hora, apresenta-se um cartel de luxo. Uma tourada para recordar...

Espera-se uma gloriosa faena de José Tomas. Muita sorte lhe desejamos. A felicidade que faltou a um outro José. Chamava-se José Falcão, o matador de Vila Franca, colhido mortalmente em Barcelona no dia 11 de Agosto de 1974. Mais um motivo para registar.







quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Júlio Resende deixou-nos...
































Um dos "grandes" artistas do século XX, Júlio Resende, que nasceu em 1917, terminou a viagem da vida. Depois da cremação do corpo nada resta do Homem, mas o Artista não morre. Permanece a obra em museus, casas particulares e lugares públicos. Revelando um gosto especial pela temática social, Júlio Resende manifesta forte influência do expressionismo e do cubismo.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

"É bom ter amigos em cargos importantes"

"É bom ter amigos em cargos importantes", W. Buffet dixit (ver mensagem anterior). Nada que não soubéssemos já. Uma vez na vida, pelo menos, beneficiámos da experiência de conhecer alguém bem posicionado. Por cá, chama-se "cunha" a este "empurrãozinho" para obter um pequenino favor... ou de um tamanho que só Deus sabe...

Verdadeira instituição que, sendo muito nossa, prolifera à escala global. Com outros nomes, mas com igual funcionalidade. Ninguém escapa à sua prática. Aquele "jeito" para ganhar tempo no atendimento de uma repartição pública ou num qualquer serviço de saúde e outros, muitos outros casos. Quem não recorreu a um qualquer destes expedientes que atire a primeira pedra. Não vale mentir.Habituámo-nos a isto como uma fatalidade. Quase aceitamos, mas há limites. Ocorrem-me alguns casos inaceitáveis.

Uma notícia recente dava conta de Escolas que abriram concurso para colocação de professores, exigindo tais condições que, dizem os interessados, apontam directamente para uma determinada personalidade. Assim sendo, mais valia acabar com o rótulo de concursos e contratar directamente os "eleitos" pelas direcções.

Um segundo caso. Vão ser retomados os concursos na função pública. Aplaudo, mas segundo os jornais, a nomeação ficará dependente do Governo que deve escolher um dos primeiros. Vislumbra-se aqui uma distorção de critérios ou será que estou errada?


Injustiças, cunhas e situações pouco transparentes podem também ocorrer com as alterações à Lei dos Despedimentos. Uma leitura atenta leva-nos a tais receios...

domingo, 18 de setembro de 2011

"Parem de mimar os super-ricos"




Warrren E. Buffett será, de certo, o americano mais badalado nestes tempos de crise. Pela coragem que assumiu ao criticar o favorecimento dado aos ricos: em carta pública explica a injustiça da tributação nos Estados Unidos...




"Os nossos dirigentes pediram "sacrifícios partilhados". Mas eu fui poupado a esse pedido. Falei com os meus amigos megarricos, para saber quais as aflições de que estavam à espera . Também eles tinham escapado.

Enquanto os pobres e a classe média combatem por nós no Afeganistão, e enquanto a maior parte dos americanos sofre tormentos para esticar o dinheiro, nós, os megarricos, continuamos a beneficiar de extraordinárias reduções de impostos. Alguns de nós somos gestorres de investimentos e ganhamos milhares de de milhões graças ao nosso esforço diário mas é-nos permitido classificar os nossos rendimentos com "comissões de desempenho"(carried interest, participação nos lucros a título de compensação pela gestão9 e conseguimos assim uma taxa de imposto de 15% - uma verdadeira pechincha. Outros adquirem contratos de futuro sobre índices de acções durante dez minutos e vêem 60% dos seus ganhos tributados a 15% como se fossem investidores a longo prazo.

Os legisladores de Washington derramam estas e outras benesses sobre nós. Parecem sentir-se na obrigação de nos proteger, como se fossemos mochos da floresta ou qualquer outra espécie ameaçada. É bom ter amigos em cargos importantes.

No ano passado, a conta dos meus impostos federais foi de 6.938.744 dólares (4.800 milhões de euros) - o imposto sobre o rendimento que paguei, bem como o imposto sobre o salário que paguei ou foram pagos em meu nome. Parece muito dinheiro mas a verdade é que representa apenas 17,4% do meu rendimento colectável - uma percentagem inferior à que foi paga por qualquer outra das 20 pessoas que trabalham nos nossos escritórios. A carga fiscal dessas pessoas oscilou entre os 33% e os 41%, o que dá uma média de 36%.

Quem ganha dinheiro com o dinheiro como fazem alguns dos meus amigos super-ricos, pode ter uma taxa um pouco mais baixa do que a minha. Mas quem ganha dinheiro porque tem um emprego pagará sem dúvida uma taxa superior à minha - muito provavelmente muito superior.(...)

Os meus amigos e eu já fomos suficientemente mimados por um Congresso que favorece os multimilionários. Chegou a altura de o Governo levar a sério a partilha dos sacrifícios."



In Expresso, 20 de Agosto de 2011.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

À cem anos eram neologismos...









Agora que o Acordo Ortográfico tanto dá que falar, repesquei alguns neologismos com cem anos. Tais palavras, que Ramalho Ortigão abominava, passaram a uso corrente. Passou tempo e agora ninguém mais dá por issso...





"A conversa seguia sempre com bom humor e eles nem davam por mim, que ia tomando apontamento do que diziam...Em certa altura o escritor disse a propósito do neologismo que a Imprensa começou, então, empregando...


- Secretariar!.. Secretariar!..Olhem que ratice destes mágicos do jornalismo!...


Disse uma frase engraçadissima que não fixei. Não pude conter uma gargalhada...


- Oh! oh! o nosso rapazinho achou graça! exclamou o senhor sorridente. E querem ver que ele conhece outro neologismo dos bons, dos autênticos...empregados pela jornalice da época?


- Conheço, sim, senhor Ramalho Ortigão...E um que vale bom dinheiro!...


- Abramos bem os nosso tímpanos, oh! Manuel de Macedo; a juventude catou coisa de tomo, pelo que oiço!!


- Os jornais e os presidentes de sessões inventaram uma palavra que me tem divertido imensamente, mas que não está bem espalhada...ainda não é clássica!...- Vamos lá a ouvi-la, jovem esperançoso!...


- Ho-me-na-ge-ar. Informei destacando muito bem as sílabas para fazer ressaltar a palavra...


- Homenagear?!...Ah! ah! exclamou o escritor com grandes risadas e batendo palmadas nas coxas! ah! ah! Ainda não ouvi, nem li essa nova chalaça!!... Não lembra ao diabo! Oh! Manuel de Macedo, o rapazinho caçou-a bem!...


- O pior é se a coisa pega! disse Macedo rindo muito...- Basta ser tolice para pegar ! acudiu Ramalho Ortigão continuando a rir.


-E ainda apanhei outra! disse eu muito contente com o aplauso do celebrado crítico...


- Oh! oh! tornou Ramalho Ortigão, o nosso rapaz vai bem na crítica! Vamos lá então ouvir essa outra laracha!...


- Não é tão aplicada nos jornais, mas lá irá com o tempo!...Lá irá também!...


- Bom! bom! O introito promete!...


- Pa-ra-nin-fa-ram os noivos os excelentíssimos senhores fulanos..........................................


- Olha o demonico que não a deixou escapar, oh! Macedo!...


Então é que foram risadas naquela casa abobadada do Museu das Janelas Verdes!...Calcule-se a alegria que se apossou o meu coração de aprendiz das letras...Estava radiante!...


Daí para o futuro tratou-me sempre com amizade e interesse. Quando nos encontrávamos vinha sempre com o inevitável:


- Paraninfaram os noivos, os excelentíssimos senhores...............................................................


E terminava com uma gargalhada prolongada, caústica, como só ele sabia despedir, e que tanto arreliava os insignificantes!...


- O facto é, caro amigo, que o vocábulo ficou!...Teve razão! disse-me um dia o grande crítico daí a anos; porque será que as palavras forçadas, pedantes e burlescas se fixam no toitiço de certa gente?..."



Júlio de Sousa e Costa, O rei Dom Carlos - Factos inéditos do seu tempo (1863-1908)




sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Velharias ou a descoberta de outros tempos

Espreitar uma feira de velharias é um vício. Mostra variada que, por estes tempos, acontece com frequência. Exercício de regresso ao passado feito de peças diversas,de objectos de uso comum e outras mais requintadas. Aí aparecem também fotos, gravuras e livros. Pechinchas umas e outras nem tanto, daí a necessidade de discutir preço. E esta interacção com o vendedor anima e alegra o negócio. Por mim, confesso que nunca perco oportunidade de regatear.

Desta vez, detive-me nos livros. Havia de tudo numa diversidade de títulos: arte, geografia, história, romance em obras de referência ou pequenas brochuras. Do romance clássico à literatura light, obras didácticas de divulgação e escolares. E, porque o tempo é de férias, dá para observar capas, mirar fotos, folhear e ler alguns excertos, adivinhando a importância dessas obras aquando da sua publicação. Outras épocas, gostos e preocupações de um público sedento de saber e que nem tão pouco sonhava com os actuais recursos de informação...

Andava em tais cogitações quando dei com o livro de Finalistas do Curso de Letras da Universidade de Coimbra do ano de 1945. Misto de caricaturas e poemas desses "jovens" de outrora, já falecidos, hoje. Sim, porque chegar aos 90 anos não é para todos. Procurei nomes, li poemas e, de forma um tanto intrusa, espreitei esses protagonistas, os seus sonhos e projectos. Descobri entre eles um meu antigo professor de História que já por essa altura usava e abusava de um vocabulário erudito... Achei graça e não resisti a comprar o livro. Baratinho, uma vez que escasseavam os interessados por tais "velharias"...

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A Queda de Kadaphi

Mais tarde ou mais cedo, todos os ditadores ( ou quase todos ) caem. Chegou a vez de Kadaphi, ainda que se desconheça o seu paradeiro. Do luxuoso baluarte em Tripoli fica o vandalismo dos "rebeldes", disputando o espaço e os objectos daquele que, durante quarenta e dois anos, dominou a Líbia com mão de ferro.

Fragilidade do destino do homem: ontem líder amado que, de um dia para o outro, passou a objecto de ódio feroz. Uma onda de incerteza paira sobre o futuro político da Líbia que, com toda a probabilidade, está condenada a manter-se dividida étnica e socialmente. E daí a dúvida quanto ao desenvolvimento do País, o mesmo é dizer, se tal riqueza poderá servir verdadeiramente os interesses do Povo.

A responsabilidade da diplomacia externa não pode excluir-se deste processo de catavento, de "anti-pró-anti" Kadaphi, uma orientação política determinada por razões económicas. A importância do petróleo e de diversos sectores de investimento, comprovando que o dinheiro não tem cor nem país. Assim foi no passado e será no futuro. Disso sabem os media, apresentando provas. Esperamos para ver...