Conhece-se mal a biografia de Jerónimo Bosch, o pintor e gravador holandês que teria nascido cerca de 1450. O mesmo não acontece com a sua obra, cuja temática remete para uma época de crise: figuras fantásticas em cenas de sensualidade e pecado que se movimentam entre o paraíso e o inferno. Tem sido, por isso, interpretado como um precursor do surrealismo.
Pintado para a casa de Henrique III em Bruxelas, o "Jardim das Delícias" percorreu um longo caminho até chegar ao Museu do Prado. Confiscado em 1568 pelo Duque de Alba na Flandres, seria depois legado ao seu filho que acabou por vendê-lo a Filipe II. Colocado no quarto do Monarca no Escorial, este Bosch servir-lhe-ia de motivação durante as usuais crises de angústia de que foi possuído.Mais tarde, durante a guerra civil em 1936, a prudência exigiu a sua transferência para o Museu do Prado.em Madrid.
Para mim, o mais belo Bosch está no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa. Sem chauvinismos, acho. Ainda hoje contemplo "As Tentações de Santo Antão" como se fosse a primeira vez. Observo sempre qualquer coisa nova nesses paineis, onde as figuras biblicas coexistem com forças demoníacas, representações de pecado, de culpa e de angústia. Considerado o fundador do monaquismo, Santo Antão simboliza o homem pecador, sujeito às tentações. A misericórdia divina, aqui presente na Paixão, há-de finalmente redimi-lo de todas as fraquezas, elevando-o até ao paraíso. O "nosso Bosch", composto posteriormente ao de Madrid, teria agradado muito a Filipe II que, todavia, não pôde espoliar-nos deste tesouro.
Desconhece-se quem promoveu a compra das "Tentações de Santo Antão", não estando provada a intervenção de Damião de Gois que o conheceu na Flandres, Disso não restam dúvidas, porque os grandes espíritos sempre se encontram.
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