Não sei verdadeiramente se a vida é um circo, mas parece. É um desabafo que deixo nestes dias de crise, uma crise grande e profunda que se estende a todos os níveis. Esqueceram-se valores, o essencial não interessa e assim passam os dias...
Um estado de depressão abateu-se sobre o País. Mas manda o bom senso preservar a saúde mental, reagindo e denunciando casos e situações. Se possível com humor e se para tanto não chegar a paciência, assuma-se um tom mais acre.
Relembre-se este ciclo de estagnação económica e de crescente desemprego, enquanto os deputados aumentam os seus vencimentos e votam a liberalização do financiamento dos partidos. Desfile de desgraças acompanhado pela onda de corrupção e "uso e abuso" do "salve-se quem puder", isto é, por um comportamento de "desenrascanço" que já não exclui qualquer sector da sociedade. Sendo assim, o País foi agradavelmente surpreendido pela sessão da Assembleia da República que esta semana debateu a proibição de animais no circo. Muito bem, sim senhor, aí está o busílis para combater a "dita crise"!..
Não é apenas o meu ponto de vista, visto que comentadores abalizados afinam pelo mesmo diapasão. Transcrevo um excerto de um escrito com o qual não poderia estar mais de acordo...
"Agora, querem que deixemos de poder ver animais no circo. Eu gosto muito do Cirque du Soleil e afins, mas também gosto do circo da aldeia, que enchia de excitação e de alegria todas as aldeias e todas as crianças do mundo. O primeiro elefante que vi na vida foi num circo e, quando os meus pais me levaram um dia a ver o Circo de Moscovo, de visita a Lisboa, foi a única vez, até hoje, em que vi um urso. Não sei o que seja um circo sem os domadores de leões, sem os tigres a atravessarem anéis de fogo, sem os elefantes a passearem-se pela pista, sem os acrobatas hípicos. Acho muito bem que a Veterinária e a Direcção de Espectáculos vigiem as condições em que os animais são tratados nos circos. Mas é preciso exterminá-los?
Miguel Sousa Tavares, Números de Circo in Expresso, 9 de Maio de 2009.
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