Aconteceu a 10 de Março de 1826 a morte de D. João VI, um dos mais injustiçados reis de Portugal. À aparência física, que pouco ficava a dever à beleza, acresciam os qualificativos de pouco inteligente e indeciso com que a historiografia o brindou. Nascido e educado numa época conturbada da Europa, viu-se promovido, por morte de seu irmão primogénito, à condição de Príncipe herdeiro. E nas funções governativas entrou bem cedo, devido à doença da rainha D. Maria.
O casamento com Carlota Joaquina, a ambiciosa princesa de Espanha de má memória, revelou-se um desastre pessoal e político. Talvez estas circunstâncias posssam justificar o comportamento desajeitado do Rei que Oliveira Martins descrevia como anafado e glutão, comendo pernas de frango que guardava nos bolsos. No Rio de Janeiro sentia-se mais distendido e feliz durante os anos de permanência da corte. Satisfeito com a beleza da terra e o clima, promoveu uma politica de incremento económico e cultural que os brasileiros nunca esquecerão...
Ainda na sequência da revolução francesa, Portugal aderia finalmente ao regime liberal. Chamado a regressar em 1821, D. João VI assina a Constituição e inicia a etapa mais difícil da governação. O País dividia-se entre os apoiantes do antigo regime e liberais (também eles repartidos entre facções) e essa imagem de confronto reflectia-se também na família real. No Brasil, optando pelo caminho da independência do País, estava D. Pedro. Enquanto isso, D. Miguel e D. Carlota Joaquina conspiravam a favor do regime absoluto. Vivendo entre ameaças de guerra civil e tentativas de acordos politicos, D. João VI sentia faltar-lhe a saúde. Antes, porém, ditou o testamento. E depois seria a sucessão de outros acordos e desavenças até à guerra civil...
Envenenamento teria sido a causa da morte do Rei, acto atribuído à rainha D. Carlota. Mas a voz do povo, que a historiografia veiculou, só recebeu confirmação na década de 1990. Quis o acaso que em S. Vicente de Fora, na Capela da Encarnação, fosse sentido um forte odor proveniente do solo. E logo a análise às vísceras de D. João VI, retiradas aquando do processo de embalsamamento, comprovou vestígios de arsénico...
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