quarta-feira, 1 de junho de 2011

Dia da Criança

Assinalar o Dia da Criança é uma forma de olhar o mundo. De crianças esquecidas e carentes dos meios básicos, de crianças maltratadas e obrigadas a trabalhar, mas também daquelas que, embora "cheias" de brinquedos, sentem a falta dos pais e de amor...

Olhar a criança de hoje é verificar a diversidade de "mundos", onde o desrespeito pelos direitos humanos persiste. Prova disso está no enfoque dado pelos mass media, alertando a sociedade e o Estado. Efeito positivo que toca a todos, mas existe também a outra faceta: a perversidade de um instrumento que facilita e esconde a exploração infantil. Nunca é demais denunciar a pedofilia, um fenómeno sem fronteiras nem limites sociais.

A criança na diversidade de espaços e de sociedades, hoje. Um tema geral que nem sempre atende os aspectos invisíveis das relações humanas. Sentimentos intemporais: a ruptura de laços familiares e as suas circunstâncias, a criança e o adulto "sempre criança" para os mais velhos. A este propósito lembrei-me de Fernando Pessoa: um poema de amor que combina bem com a foto do Zé, um menino muito amado que já completou três anos...



O Menino de Sua Mãe

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado,
- Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe

Fernando Pessoa

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