Morreu Salvador Caetano, um dos últimos grandes empresários portugueses. De origens humildes, subiu a vida a pulso com muito trabalho, estudo e perseverança. Esses os valores que estiveram na origem da construção do "império" deste self made man, cuja escolaridade não ultrapassou a 4ª classe da Instrução Primária. Crítico e disciplinado, gozou do respeito dos seus pares, que hoje não lhe regateiam elogios. De carácter reservado, Salvador Caetano dava-se mal com a exposição pública, escusando-se às luzes da ribalta.
Por razões de saúde, nos últimos tempos, delegou o executivo do grupo nos seus filhos. Este facto, todavia, não significava alheamento dos negócios que gostava de acompanhar. Em resumo, uma personalidade relevante na economia do País que. o jornal Público regista. Desse percurso de vida ficam alguns excertos.
"O envolvimento nos negócios começou desde cedo: aos 11 anos, Salvador Fernandes Caetano teve o primeiro trabalho como ajudante de pintor; aos 18, estabeleceu-se por contra própria numa oficina; dois anos depois abre a primeira empresa com dois sócios, pouco depois do fim da Segunda Guerra Mundial.
Seria a nova fábrica de carroçarias de madeira para autocarros que acabaria por dar origem, já sem os sócios, à Salvador Caetano, Indústria Metalomecânica e Veículos de Transporte, em 1949. Já na altura, mostrava ser "um empresário com vistas largas e um homem de futuro": nos anos 1950, no concelho de Gaia, as pessoas trabalhavam três ou quatro meses e depois iam para a lavoura, mas Salvador Caetano tinha a preocupação "de dar trabalho às pessoas, arranjar maneira de mantê-las permanentemente ocupadas", lembra José Abreu Teixeira.
Foi desta forma que, nos anos 1960, o empresário iniciou contactos para representar a Toyota em Portugal, mesmo sem formação noutras línguas. Não foi isso que lhe tolheu os passos: viajou para Londres, onde aprendeu inglês, o que veio a tornar-se essencial na comunicação com o grupo nipónico. E em 1968 torna-se representante exclusivo da Toyota, um ano depois de ter assegurado o primeiro contrato de exportação de autocarros para Inglaterra.
Foi já no início dos anos 1970 que nasceu a fábrica de Ovar, que viria a montar veículos comerciais. Entretanto, os japoneses adquiriram 27 por cento da Salvador Caetano, em 1972, um passo que o empresário sempre esperou que desembocasse na produção de um veículo da Toyota em Ovar, para todo a Europa. "Espero que sim", afiançava já em 2003, quando questionado se acreditava realizar esse sonho. Mas nunca foi derrotado por não concretizar essa ambição.
Ao longo dos anos, torna-se importador e distribuidor da BMW, expande o fabrico de autocarros, e alia-se noutros negócios a empresários como Laurindo Costa (hoje já falecido, accionista da Soares da Costa), Rodrigo Leite (Tertir), Belmiro de Azevedo (Sonae). É também um dos fundadores do BCP e BPI. Ao comemorar os 50 anos de actividade, em 1996, tinha criado ou adquirido meia centena de empresas.
Outros que o conheceram lembram que era "implacável nos negócios" e que "as relações familiares ou de amizade de nada valiam quando era preciso fazer sangue". Mas foi essa resistência que se estendeu ao lado da vida privada: durante anos lutou contra a doença, fez várias operações no estrangeiro. E assim teve tempo para preparar o futuro cuidadosamente, dividindo os bens pela família para que nada corresse mal depois do fim."
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