sábado, 5 de abril de 2008

Lisboa e lisboetas


Pertenço ao número de pessoas que, embora tendo nascido fora de Lisboa, aqui mora e trabalha. Lisboetas por adopção que, de muitas e variadas origens, possuem um património cultural que não deve ser menosprezado. De resto, o cuidado na preservação desses valores manifestou-se ( e manifesta-se!) na existência de "casas" e "associações": espaços de convívio e memórias e de promoção de eventos que, por vezes, assumem o carácter de notícia a nível nacional.

A minha experiência diz-me como pode ser enriquecedor o relacionamento entre diversos géneros de lisboetas. A minha origem provinciana chegou a constituir motivo de certa inveja de uma amiga minha, nascida e criada nas "avenidas novas". Lamentava o facto de os naturais de Lisboa serem desprovidos do sentimento de "amor à terra", explicando a gravidade dessa falha afectiva. Quase lhe dávamos razão, mas logo contrapúnhamos argumentos: necessidade das "minorias" (os provincianos) se defenderam em relação aos mais fortes.... mas ela, como muitos lisboetas, sentia a falta do sentido de posse da sua casa e do seu quintal. Onde plantar as suas roseiras e as suas árvores? E assim como haveria de colher os seus figos ou maçãs? E, nós meninas de Letras, fazíamos coro neste gosto pela Natureza, como se vivêssemos em tempos da "aurea mediocritas"!

Talvez isto explique que, sentindo-me lisboeta, continue presa à minha terra natal. Vou lá com frequência, embora verifique que vai diminuindo o número de pessoas que conheço. Morreram muitos e agora são os "filhos e netos de....", daqueles com quem convivi na infância...

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