Sempre fui uma observadora atenta aos sinais do campo na cidade. Explico o facto pela minha condição de provinciana transplantada para Lisboa, ao tempo em que a ruralidade se fundia com o espaço urbano, relevando a importância das quintas e hortas na economia local. Era assim até ao início da década de 1970, especialmente nas áreas periféricas da cidade: Campo Grande, Lumiar, Carnide, Benfica, Olivais, Marvila. Por aí adquiria-se directamente no produtor os produtos frescos e criação, legumes, fruta e leite.
O progresso extinguiu este hábito que ainda pude encontrar, em 1984, na Rússia, nos arredores de S. Petersburgo (Leninegrado na época). Um russo carregava uma melancia e um outro segurava uma velha vasilha de alumínio de leite igual àquela que conheci na infância.
Se já pouco resta das velhas quintas de Lisboa (algumas apenas no registo toponímico), outros casos de ruralidade teimam em resistir na malha urbana. Basta chegar ao Bairro de Alvalade para ver crescer limoeiros, nespereiras, alfaces e couves galegas nos pátios e quintais. Gosto antigo que hoje se fez moda!
Lisboa e as grandes cidades europeias preconizam a importância destes espaços hortícolas, uma necessidade que, além dos benefícios do consumo de produtos biológicos, traz uma enorme vantagem ao orçamento de muitas famílias. Cumpre-se assim o desejo do arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles que, desde há muito, advogava o retorno às hortas em Lisboa...
Na Casa Branca, a nova primeira dama criou uma horta: um exemplo para o povo americano e para o mundo. É assim o efeito avassalador dos media. A este propósito, a Única de hoje, regista nos Ditos e Feitos uma pequena nota, Horta Real, que transcrevo:
"A Rainha Isabel II decidiu criar uma horta nos jardins do Palácio de Buckingham, para consumo da Família."
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