O envelhecimento é progressivo. Lentamente o corpo dá os primeiros sinais. Doi hoje aqui e ali, amanhã. Lentidão assume-se como uma palavra adequada aos velhos. Rápido é o cansaço das tarefas diárias, mas demorado é o restabelecimento. A vida faz-se de movimentos lentos, tal como decorre lento o raciocínio e a capacidade de decidir. O velho hesita, pondera e, muitas vezes. desiste. Perde a vontade de desfrutar aqueles prazeres de outrora...pára no tempo.
Como se sabe, o envelhecimento envolve um estado de tripla dimensão: físico, mental e emocional. Perda de capacidades e medos determina um sentimento inconfessável de solidão. E porque o mundo está virado para os jovens e para a beleza, os velhos aparecem como um estorvo. É assim para a família, para os amigos e, em geral, para a sociedade. Eles gostam de falar do passado e o mundo de hoje tem pressa, não dispõe de tempo para ouvir. Todos somos culpados disso, porque nos ensinaram os perigos de contágio da tristeza e a velhice é quase sempre triste.
Assim, vivemos fechados no nosso egoísmo, poupados a qualquer sacrifício. Passamos a vida, cruzamo-nos, mas sem parar. Os velhos, queixando-se da solidão, obrigam-se a ver e ouvir os outros que clamam. Contra o mundo, dizem eles, que não assegura os seus direitos. E continuam numa afronta aos velhos: estará garantido, no futuro, o pagamento das suas reformas?
Ocorreu-me este desabafo, cruzando-me esta manhã com uma vizinha que conheço há mais de quarenta anos. Então, era nova, despachada e vestia-se impecavelmente. Agora, gorda e trémula, de negro vestida, atravessava a rua muito agarrada à sua empregada. Apeteceu-me cumprimentá-la, dizer-lhe "olá". Ela já não me conhece e eu, cobardemente, desisti e continuei...
1 comentário:
O envelhecimento do seu texto fez-me pensar na morte da Matilde Rosa Araújo, na perda de pessoas que eram novas e referência há anos, quando eu era mais nova ...
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