Os velhos merecem estima e respeito. Era esta a prática nos tempos bíblicos e assim continua entre alguns povos. Casos que tendem a rarear nos dias de hoje, onde a juventude e a beleza dominam a decrepitude física e emocional dos velhos. Salvo raras excepções, em Portugal a velhice continua votada ao desprezo e esquecimento por parte da família e do Estado. Os políticos só pensam neles em tempos de campanha eleitoral, sendo lembrados por alguns familiares quando a doença os empurra para o leito do hospital, à espera da morte.
A notícia do dia de ontem reporta-se a uma dessas situações. Aconteceu na Rinchoa, concelho de Sintra. O desaparecimento de uma idosa que vivia só e assim morreu na indiferença de familiares e das instituições alertadas. Só os vizinhos sentiram a falta e deram sinal de preocupação. Mas tudo em vão durante quase nove anos. Implacavelmente, as Finanças actuaram, sem procurar a faltosa cidadã, aplicando logo o "castigo máximo" pela dívida de 1475 euros. É para dizer que só o Fisco funcionou ( ainda que desumanamente) neste país, onde é possível cobrar uma dívida irrisória por 30.000 euros no leilão de um apartamento. Que grande negócio para as Finanças Públicas!...
Este caso chocante não deve ser esquecido. Para memória futura fica o registo.
"Uma mulher esteve nove anos morta em casa. Vivia sozinha em Rinchoa, Sintra e, se estivesse viva, faria 96 anos na próxima semana. Apesar dos alertas dados por uma vizinha, a PSP só encontrou o corpo, dentro do apartamento, esta terça-feira, após este ter sido vendido num leilão pelas Finanças.
O cadáver esteve nove anos no chão da cozinha da casa onde vivia sozinha há 30 anos, na companhia de um cão. Nestes últimos nove anos uma vizinha, Aida Martins, tentou por diversas vezes alertar as autoridades para a situação e pediu mesmo para abrirem a porta do apartamento, o quarto andar direito.
O cadáver esteve nove anos no chão da cozinha da casa onde vivia sozinha há 30 anos, na companhia de um cão. Nestes últimos nove anos uma vizinha, Aida Martins, tentou por diversas vezes alertar as autoridades para a situação e pediu mesmo para abrirem a porta do apartamento, o quarto andar direito.
Aida Martins deu por falta de Augusta Martinho em Agosto de 2002. A idosa de 87 anos deixou de ser vista e as cartas começaram a transbordar na caixa de correio. Na GNR disseram-lhe que não podiam abrir a porta. Foi preciso o apartamento ter sido vendido num leilão das Finanças, por causa das dívidas, para que tal acontecesse. Quem comprou não tinha chave e houve ordem de arrombar a porta.
Até ao momento as autoridades não se mostraram disponíveis para falar sobre este caso. Augusta Martinho faria 96 anos no próximo sábado. Tal como a dona, o seu cão de companhia foi encontrado morto na varanda."
2 comentários:
Uma realidade bem triste na sociedade dos nossos dias.
Nunca há responsáveis por uma situação destas ? A culpa é da burocracia ? Do excesso de leis ?
Da falta de solidariedade e apoio à velhice solitária ?
Parabéns pelo seu post (sempre oportuno e com interesse) !
O nosso país não está preparado para a 3.ª idade, que cresce proporcionalmente com o aumento da esperança média de vida. Nos países nórdicos, os idosos são respeitados e considerados testemunhos de experiência de vida.Em África, nos seus países considerados emergentes, os mais velhos são venerados como sábios.
Em Portugal são esquecidos e abandonados, para serem encontrados mortos ao fim de oito anos, na solidão das suas casas!
É o triste País que nós temos...
Beijinhos, Peonia.
Parabéns pelo novo "look" do blogue"!
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