quinta-feira, 19 de março de 2009

Pedro de Santarém


Conhecem Pedro de Santarém? Não, não é o navegador ou o diplomata da época dos Descobrimentos. Trata-se de um homónimo que remete para outra história, a de um Menino de Angola, Menino da Guerra, tal como se intitula a peça hoje transmitida pela TSF http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/AudioeVideo.aspx?content_id=1174996.

Trabalho radiofónico interessante pela forma como associa a narrativa-dramatizada com a "fala" dos principais personagens. Depoimentos emotivos que nos levam às memórias de uma criança de 5-6 anos e de militares em teatro de guerra, um ambiente feito de carinho e abnegação.

Pois, o Pedro de Santarém também faz parte das minhas memórias. Conheci-o em 1963, salvo erro no dia 3 de Setembro. Muito direito, cabeça levantada e bivaque preso ao ombro, marchava garbosamente à frente do pelotão da Escola Prática de Cavalaria que, cumprida a sua missão em Angola, aportara a Lisboa no Niassa.

Comentava há dias o facto de a História ser feita de casos, grandes e pequenos gestos ou situações. Parecendo pequeno, este inclui-se no rol dos grandes gestos, do mais puro que existe na natureza humana, a começar no militar alentejano, o Aljustrel, passando depois por todos os militares.

Comovedor ouvir o Pedro dizer que o pelotão substituiu a sua mãe, o seu pai e irmãs. De notar a superprotecção ansiosa dos soldados que chegaram ao ponto de o empanturrar e, depois, a atenção e cuidado com que o médico, dr. Noronha, tratou os efeitos daquele distúrbio intestinal. Escusado será dizer que tudo isto acontecia com a anuência do capitão Ricardo Durão que, entretanto, levantava já a questão acerca do futuro do Pedro. E, mais uma vez, a sensibilidade de um homem, alferes Sá que, tendo contado a situação a sua Mãe, obteve desta a disponibilidade generosa para receber o Pedro como um filho...

A peça radiofónica realça ainda as peripécias do embarque do Pedro que, pela mão do dr. Noronha, viu a sua entrada recusada pelo Comandante do navio. Muito haveria ainda para contar, nomeadamente acerca da família de acolhimento e do médico, entretanto, falecido. Estive com o dr. Noronha e a sua noiva (esposa, depois ) em vários encontros proporcionados pelo meu primo A., alferes nesse mesmo pelotão em Angola. Ainda o lembro: estatura média, introvertido, esboçando um sorriso meio envergonhado sempre que se falava dos cuidados médicos prestados!..


Nota: Tenho ideia que a fotografia do Pedro, menino-soldado, foi publicada em jornais desse tempo. Gostava de revê-la. Quanto à narrativa desta "estória", pode também ser lida em Guerra de África, de José Freire Antunes, vol.I, pp. 250-252, segundo o relato do general Ricardo Durão.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pode ver a foto de que fala aqui:
http://tsf.sapo.pt/Programas/programa.aspx?content_id=917979&audio_id=1174875
cumprimentos,
jpb