Quando o calendário assinala a festa e o convívio, os media publicam uma notícia triste: a morte de João Serra, o Senhor do adeus durante a noite de S. Martinho. Figura popular de Lisboa que, no Saldanha, acenava, sorrindo... para quem passava de carro.
As origens burguesas transpareciam no porte e no gesto de uma existência que a perda da mãe lançou num isolamento indescritível. A solidão da noite contornava-a, saindo de casa para a Praça do Saldanha, onde "convivia" com os passantes. Partiam dos jovens as manifestações mais esfusiantes e essas buzinadelas, acenos rasgados e gritos deixavam-no feliz. Devo confessar que, da primeira vez, julguei-o mal. Desconhecia a sua história.
Desde então, aquela aparente insanidade passou a significar o drama dos solitários desta cidade...e de todas as vilas e aldeias deste mundo. Gente que busca o jardim, que toma o autocarro até fim da linha e, de imediato, regressa. Gente que trata pelo nome os empregados do supermercado, do café, da farmácia e do banco. Gente que, embora conhecida por "todos no bairro", recebe pouca atenção daqueles com quem entabula conversa. Vagarosos e sem pressa, uns, enquanto outros prosseguem na agitação da corrida diária.
Todavia, o Senhor do adeus conquistou muitos "amigos". Mereceu até as honras de um fado e hoje foram muitos os que, no Saldanha, repetiram o seu gesto. E nessa postura e riso podia-se adivinhar emoção e tristeza...
1 comentário:
Linda publicação, nomeadamente pelo seu "tocante" conteúdo...
Também eu fiquei comovida quando ouvi a notícia da morte do "senhor do adeus.
Bjs.
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