Continuo a pensar que uma afeição perfeita é a que resulta de um processo gradual. Aconteceu assim a minha relação com Timor.
Pouco sabia da Ilha de "sândalo perfumado" e de especiarias finas até ao dia em que conheci um velho padre timorense. Alto e sorridente, o Padre Ximenes frequentava as aulas do curso de História e falava-nos muito da sua terra. Relatos da ocupação japonesa em 1945, da simplicidade do povo e da beleza do pôr do Sol. Então, sob o espectro da guerra colonial, os rapazes da minha geração suspiravam por uma comissão militar em Timor, onde reinava a paz...
Ninguém desconhece os acontecimentos dos últimos trinta anos. De novo, a ocupação, desta vez, pelos indonésios (1975), seguida da opressão e dos anos da resistência que culminaram com o massacre no Cemitério de Santa Cruz. Este despertou a consciência da comunidade internacional, traduzida não só na atribuição do Nobel da Paz a D. Ximenes Belo e Ramos Horta, mas também na decisão do referendo votado pela ONU.
Embora sob pressão dos militares indonésios, os timorenses acorreram maciçamente à votação, refugiando-se, depois na montanha. Em Portugal, todos nós, vivemos intensamente esses difíceis dias dos timorenses. E foi com emoção que içámos panos brancos nas janelas, parámos um minuto pela paz e recebemos, em apoteose, D. Ximenes Belo em Lisboa.
A alegria pela libertação de Xanana Gusmão e pela vitória do "sim" à independência faziam acreditar que era possível a reconciliação e a paz. Puro engano. Os homens continuam a errar e Timor tem a fatalidade de possuir petróleo!
Por isso, o mal estar social e político persistem e os movimentos de contestação surgem. A propósito, transcrevo uma nota da Agência Lusa. Entretanto, já ocorreram graves incidentes no passado dia 8 de Julho, desejamos que não se repitam.
12-06-2008 10:54:38
Dili, 11 jun (Lusa) - Estudantes universitários se manifestaram nesta quinta-feira, pelo segundo dia, em Dili, capital do Timor Leste, contra a aquisição de 65 carros para o Parlamento, considerada mais uma regalia dos deputados.
1 comentário:
Se calhar os estudantes têm razão... Tenho dificuldade em compreender a falta de bom senso,já para não dizer de vergonha, da maior parte dos governantes, em qualquer dos continentes. É muito desanimador!
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