Mais uma vez, recorro a Wenceslau de Moraes; agora para falar da importância do sorriso no Japão.
Em todas as circunstâncias da vida, o japonês sorri sempre, pelo menos assim acontecia há cem anos. Mas os europeus residentes nesse país, alteraram esse hábito...como observa ironicamente, em 23 de Junho de 1905, o autor de Cartas do Japão.
Em todas as circunstâncias da vida, o japonês sorri sempre, pelo menos assim acontecia há cem anos. Mas os europeus residentes nesse país, alteraram esse hábito...como observa ironicamente, em 23 de Junho de 1905, o autor de Cartas do Japão.
"Imaginemos agora que uma criadinha, de tantas que circundam no serviço interno das habitações japonesas, partiu, por descuido, um objecto de valor - um vaso de porcelana, uma figura de marfim; - a criadinha anunciará o caso a seus amos a sorrir-se, querendo assim expressar, entre outras causas, que, reconhecendo a própria falta, se sente prestes a aceitar, sem azedume, a repreensão merecida.
A mesma criadinha, supondo que serviu numa mesma casa durante longos anos, despede-se um belo dia, sob um pretexto qualquer, a sorrir-s; mostra assim que não pensa no próprio desgosto e nas suas atribuições possíveis, mas unicamente se regozija em deixar seus amos em boa saúde e na esperança de que assim vão continuando. (...)
...quero trazer à tela uma cena vulgar qualquer, das muitas que que se passam em casa do estrangeiro residente no Japão. Por exemplo, o criado deixou fugir para a rua um cachorro de alto apreço. O patrão, tremendo em cólera, exclama: _ Boy! ( aqui os serviçais são todos boys, à inglesa) Boy! eu tinha recomendado a máxima atenção com o Gentle!...
O criado sorri. _ "Não te rias insolente; não percebes que que te estou repreendendo?..." O criado sorri mais. _ "É desaforo! ...ris-te de mim? da tua falta?..." O criado ainda mais sorri. Compreende-se o resto: o patrão é, sem dúvida alguma, membro de qualquer clube de sport; propenso ao murro, destro no pontapé; o criado não escapa a um des tes gesto de eloquência, recebeno-o ainda a rir, porque, como a lágrima é defesa ao nipónico, também o é um impeto de furor. No entretanto, convém dizer que o japonês raramente esquece uma afronta, e que não poucas vezes ao sorriso cortês sucede, oportunamente, a desforra terrível ... (...)
Acrescentarei finalmente que, para satisfação da colónia europeia no Japão, já se vai formando aqui como que um sindicato de criados e de criadas de servir, de vendilhões, de mercadores e de outros, todos deestinados ao uso exclusivo da mesma colónia, e com a virtude de não se rirem nunca; têm, além disto, o merecimento de se exprimirem em inglês e de adoptarem uma postura ocidental, cheirando a Londres e a Chicago. Estas constituem a cáfila dos verdadeiros parasitas do estrangeiro; odiando-o mais profundamente do que os outros indígenas, mas arremedando-lhe as maneiras, no intuito de explorá-lo com proveito. Eu prefiro, em todo o caso, a esta sisudez o sorriso nacional. "
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