Quem não conhece pessoas exageradas?
De todas as idades, de todas as condições sociais e de todos os tempos... Falam como são, um tanto nervosas atiram tudo para a "máxima expressão". Para elas não existe meio-termo, tudo ou nada!
A Mariana diz, toda a hora, espectacular e nesse rótulo cabem pessoas e coisas. Acho-lhe graça e acompanho as descrições, ouvindo e rindo... Ela não percebe e ainda bem!
Lembrei-me disto, porque estou a ler uma pequena obra-prima de Machado de Assis, um dos grandes autores brasileiros (juro que não exagero!), exímio na descrição de personagens. Retratos que nos fazem sorrir, onde ressalta de uma fina ironia o barroquismo das suas expressões e modo de ser. Transcrevo uma dessas passagens que o Autor apelidou Amaríssimo, mas que bem podia ser Superlativo...
José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental às ideias; não os havendo, servia a prolongar as frase. Levantou-se para ir buscar o gamão, que estava no interior da casa. Cosi-me muito à parede, e vi-o passar com as suas calças brancas engomadas, presilhas, rodaque e gravata de mola. Foi um dos últimos a usar que usaram presilhas no Rio de Janeiro, e talvez no mundo. (...) Levantou-se com o passo vagaroso do costume, não aquele vagaroso arrastado dos preguiçosos, mas um vagar calculado e deduzido, um silogismo completo, a premissa antes da consequência, a consequência antes da conclusão. Um dever amaríssimo!
Machado de Assis, Dom Casmurro
Sem comentários:
Enviar um comentário