Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia o pai, servia a ela,
e a ela só por prémio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
passava, contentando-se com vê-la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
lhe fora assi negada a sua pastora,
como se não a tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
dizendo: Mais servira, se não fora
pera tão longo amor tão curta a vida!
Luís de Camões
Qual a relação entre este soneto de Camões e a actual situação do País? Uma estória de expectativas defraudadas a de Jacob que, por amor de Raquel, cumpriu durante sete anos as exigências de Labão. Persistente, dispõe-se a recomeçar outros sete anos de serviço e mais ainda se não fosse "tão curta a vida".
Comparando com a actualidade, lembramos as boas palavras e promessas de mudança política da campanha eleitoral. Gostámos e votámos, mas, descorridos pouco mais de seis meses, o "contrato eleitoral" caíu no esquecimento. As promessas altissonantes do primeiro-ministro levou-as o vento e, por isso, chovem as críticas. A isto responde, dizendo-se confortável nas opções tomadas pelo Governo. Diferente é o sentimento dos portugueses, desagradados e desiludidos. Muitos eleitores não disfarçam já o incómodo do engano. É mau quando começa a esgotar-se a paciência com os políticos. Nunca se sabe onde isso vai parar. Deus queira que, tal como Jacob, a confiança do povo não esmoreça e que o Governo saiba tomar o rumo certo!