domingo, 28 de março de 2010

Alexandre Herculano


Não podia acabar o dia sem registar a efeméride, os duzentos anos do nascimento de Alexandre Herculano em Lisboa. Romancista e historiador, homem público e cidadão respeitado, que os contemporâneos admiravam, não viveu isento de polémicas e querelas. Lembre-se o caso com a Igreja.

Conviveu com reis e príncipes e também com os fundadores do futuro Partido Republicano. Talvez isso tivesse levantado suspeitas em alguns meios e, quem sabe, viria a desencadear a sua reacção de mal com o mundo. Virando costas a Lisboa, em 1867 fixou-se em Vale de Lobos, uma quinta de 43 hectares que tinha comprado anos antes. Aí cuidava das suas terras, nomeadamente da produção de azeite, Azeite Herculano, que Jerónimo Martins distribuía. Querendo transmitir a imagem de homem austero e solitário, chegou mesmo a deixar-se retratar de chapéu de palha como um lavrador. Até ao fim da vida continuou a ser procurado por jovens escritores que solicitavam o seu apadrinhamento. Morreu em 1877, tendo sido trasladado, em 1888, para um túmulo de honra nos Jerónimos.

Deste português ilustre, que nos ensinaram a venerar nos tempos de Liceu, ninguém fala hoje. Por que será? Ainda haverá tempo e lugar para cerimónias comemorativas?

sábado, 27 de março de 2010

Rio de Onor


Imagem de Rio de Onor, repescada na Internet, para avivar a memória de uma viagem realizada em Agosto de 1981. Então, porque o tempo era de economias, não fizemos férias no estrangeiro e daí a decisão de conhecer Portugal.

O grupo, distribuído por dois carros, andou por Trás-os-Montes e pelo Minho, visitou cidades e calcorreou caminhos...um espaço de culturas que guardarei para sempre. E ao ver o Jornal da Tarde, de hoje, apeteceu-me espreitar a caminhada que um jornalista, Nuno Ferreira , iniciou há dois anos: "Portugal a pé"...O testemunho dessa experiência regista-se no seu Blog, com a última paragem em Rio de Onor. Por aqui se justifica este meu regresso ao passado...

Lembro-me bem dessa tarde em Rio de Onor. Conversámos com os velhos da aldeia que recordaram episódios mirabolantes do tempo da Guerra Civil de Espanha e outras coisas triviais. Nesse rincão, onde mais se sente o "fim do mundo", as gentes estreitam mais os laços de vizinhança: a entre-ajuda nos trabalhos e a partilha das alegrias e dos desgostos. O isolamento gerou uma comunidade endogâmica e, curiosamente, uma rapariga de Rio de Onor de Cima confessou-nos que passava os dias do lado de cá, porque lá não havia rapazes casadoiros!!!

A linha de fronteira demarcava uma separação política que culturalmente não tinha razão de ser. As circunstâncias propiciavam a vida comunitária que mantinha uma identidade própria, a começar pela língua. Alguns filhos da terra demandavam já melhores condições nos grandes centros ou no estrangeiro, o que não impedia o grande o sentimento de apego ao torrão-natal e às tradições.

Hoje, as coisa mudaram. É, pelo menos, esse o registo do citado jornalista (consulte-se o seu Blog, clicando no título desta mensagem). Compreendem-se as circunstâncias, a extinção do ruralismo é irreversível, mas entristece-me o desaparecimento do quadro de vida comunitária que Jorge Dias admiravelmente descreveu. Restam as memórias...

Ouro Negro

Li algures que vai ser editado um disco em memória do duo Ouro Negro. Ainda bem, porque tenho saudades das suas canções.

As comemorações servem também para apreender a passagem do tempo. E é assim que já lá vão 50 anos desde a primeira gravação do duo Ouro Negro. Data de 1960 ou 61, no cinema Roma em Lisboa, a primeira lembrança do Raúl e do Milo. Passava-se no Carnaval quando as festas decorriam animadas entre a sessão cinematográfica e as variedades musicais com artistas escolhidos e baile... Mais palavras para quê?


Nota - Para ouvir as canções do Ouro Negro, basta clicar no título desta mensagem...

sexta-feira, 26 de março de 2010

Ultima Ceia


A mais famosa representação da Última Ceia serve de mote a um registo invulgar, o cálculo da quantidade de alimentos de uma refeição. É um estudo interessante que abarca um período longo, publicado no jornal Metro de 24 de Março.

"Através do computador, os investigadores compararam 52 pinturas da Última Ceia de Jesus Cristo com os seus discípulos e concluíram que o conteúdo do prato principal cresceu 69% e o pão ficou nos 23% maior.

Entre os anos 1000 e 2000 a quantidade de comida à mesa cresceu 2/3. Isto significa que as grandes porções não são, afinal, um fenómeno moderno.
A Universidade de Cornell (EUA) elaborou o estudo publicado no International journal of Obesity."

terça-feira, 23 de março de 2010

Ainda o Corpo Humano... e outras coisas

Eterno mistério é o homem que, ao longo dos tempos, sempre suscitou curiosidade. Objecto de análise e estudo de pensadores, artistas e cientistas que não se cansam de enaltecer a "perfeição" do funcionamento do corpo humano...

Certamente sugestionada ainda pela mensagem anterior recuei à Antiguidade Clássica, a Tito Lívio que, de forma fabulada, levanta a questão da importância das diferentes partes do corpo humano. Reler o texto, que poderia servir de legenda ao vídeo anterior, afigura-se um acto pedagógico. Mas na impossibilidade de recorrer ao original, a Internet ofereceu-me um resumo que transcrevo. Omitindo, claro, os comentários adequados à narrativa...


"Em Tito Lívio V/XXXII, encontramos o Apólogo de Nemênio Agripa - "A Revolta das partes do Corpo" - Conta a narrativa que em tempos em que no homem todas as partes ainda não formavam um todo único como agora, em que cada membro tinha sua opinião e sua linguagem, as diferentes partes se indignaram com o fato de ter a seu encargo o trabalho de fornecer tudo ao estômago, enquanto o estômago vadio no meio deles só fazia usufruir dos prazeres por eles proporcionados. Revoltados, fizeram um pácto: as mãos não mais levariam alimentos à boca; a boca não receberia os alimentos; os dentes não os triturariam... Dito e feito, o paro foi geral. Resultado: - sem os alimentos o corpo começou a definhar e caiu em extrema fraqueza; juntamente com o corpo todos os membros também se enfraqueceram. Daí compreenderam que a função do estômago também era produtiva e que os alimentos que para lá eram remetidos, eram devolvidos para todas as partes do corpo gerando força e energia. Essa energia era distribuida de forma igual para o corpo através do Sangue que circulava pelas veias indo a todos os pontos por menores e mais distantes que estivessem. E assim, a Vida de todos os membros era preservada."


Do Corpo Humano

Os mails distraem e servem também de reflexão. Ora vejam este que um amigo me enviou: o corpo humano visto por engenheiros. A estas imagens animadas ninguém fica indiferente, afinal trata-se da máquina mais perfeita do Universo!!!



segunda-feira, 22 de março de 2010

Portinho da Arrábida

A ideia nasceu e a RTP concretiza a eleição das " 7 Maravilhas naturais de Portugal". Direi que parece um projecto de encomenda para animar os portugueses que andam tristes e macambúzios como que contagiados por uma onda de mal-estar e depressão. Alegrem-se, pois, pensando nas belezas que o País oferece e votem, votem!!!

Afigura-se difícil a escolha. Pesam razões objectivas e de natureza pessoal: o bairrismo, em primeiro lugar, e a lembrança de vivências ou o imaginário cultural que o lugar suscita. Pensava nisto ao optar pelo Portinho da Arrábida, um lugar que, para mim, associo a todos esses factores. Deste recanto da Arrábida onde passaram frades e poetas, retiro um só nome: Sebastião da Gama que sentiu como ninguém a eternidade desse lugar...esquecendo o "tempo e a vida"...ontem, tal como hoje.

O tempo e a vida

Que bom ter o relógio adiantado!...
A gente assim, por saber
Que tem sempre tempo a mais,
Não se rala nem se apressa.
O meu sorriso de troça,
Amigos,
Quando vejo o meu relógio
Com três quartos de hora a mais!...
Tic-tac... Tic-tac...
(Lá pensa ele
Que é já o fim dos meus dias)
Tic-tac...
(Como eu rio, cá p´ra dentro,
De esta coisa divertida:
Ele a julgar que é já o resto
E eu a saber que tenho sempre mais
Três quartos de hora de vida).


Sebastião da Gama, Serra-Mãe


Nota - Para votar basta clicar no título e escolher as 7 maravilhas ....

domingo, 21 de março de 2010

Preocupação alimentar


Por estes dias a preocupação alimentar é geral. O acaso pôs-me no caminho bons conselhos acerca de alimentos que não devemos prescindir. Compartilho a informação, bastando para isso clicar no título, e... boa saúde!

sexta-feira, 19 de março de 2010

Biblioburro



Colômbia, uma imagem actual. Sem comentários!!

Ser Professor


Os sinais de mudança da escola não passam despercebidos. O movimento das obras de restauro dos edifícios e até a debandada dos "velhos" professores (que optaram por antecipar a aposentação), configura o rejuvenescimento do corpo docente. E bem diferentes dos rapazes e raparigas de outrora são os jovens que frequentam hoje a escola.

Se ainda é cedo para avaliar a oportunidade dos novos sinais, manda a verdade destacar a função do professor que, independentemente das circunstâncias materiais e humanas em que assenta o processo educativo, se reveste de uma enorme responsabilidade. Daí a importância da sua formação humana e pedagógico-didáctica.

Diz o povo que o "bom professor", que é de todos os tempos e sistemas educativos, nasce por vocação. A isto acresce o trabalho na formação e disponibilidade contínua. Talvez resida aqui um dos segredos do êxito de um docente...

Nem sempre a escolha de uma carreira obedece a critérios de inteira e plena liberdade. Mas a excepção confirma a regra; muitos professores exercem por vocação e só por isso continuam a trabalhar honesta e dedicadamente. Um deles, Alexandre Costa, professor de Física na Escola Secundária de Loulé, agora premiado como "Professor do Ano", simboliza todos esses anónimos de uma profissão tão pouco reconhecida.
Parece-me ler no depoimento daquele Professor a ideia de um bom relacionamento com os alunos que, todavia, não se confunde com permissividade e igualdade, baseado antes na autoridade e respeito pelo outros. Será assim?

quarta-feira, 17 de março de 2010

"Professor do Ano"

Distinguido hoje, terça-feira, com o Prémio Nacional de Professores, Alexandre Costa confessou manter uma relação de "grande empatia", mas não de amizade, com os alunos e defendeu que pais e docentes não se devem demitir das suas funções educativas.

"Os meus alunos e eu temos uma relação de grande empatia no trabalho, mas não é de amizade. Não sou amigo no sentido em que eles são amigos dos seus colegas adolescentes. Sou tão amigo quanto um pai ou um educador pode ser", afiançou.

Para este professor de Físico-Química, natural de Almada e, desde 2001, colocado na Escola Secundária de Loulé (Faro), é importante que estes papéis não se confundam e que pais e encarregados de educação não se demitam do papel que têm como educadores.
"A educação não se pode isolar da sociedade", alertou, sustentando que um dos "maiores problemas" actuais, neste âmbito, é a existência de "uma certa demissão das pessoas" relativamente ao que são "as suas funções".
"Os pais, às vezes, demarcam-se de ser pais e da sua responsabilidade na educação, transferindo isso para a escola", exemplificou, indicando ainda que, noutros casos, é o professor que "está mais preocupado em ser amigo dos alunos do que em ser seu professor".
"Há um contexto social no seu todo que leva a que, neste momento, o ensino tenha algumas deficiências", disse.
Este cenário, defendeu, só se ultrapassa através da "educação da própria sociedade" e da "redescoberta" do que é "ser pai, professor ou aluno" e das "regras básicas de convivência entre as pessoas".
Docente há duas décadas, Alexandre Costa, de 45 anos, recebeu hoje o Prémio Nacional de Professores, numa cerimónia realizada na Universidade de Évora e presidida pela ministra da Educação, Isabel Alçada.
Este professor, que também já deu aulas por "terras alentejanas", mais precisamente em Beja, "tira partido das novas tecnologias para motivar os alunos, apostando em estratégias pedagógicas inovadoras", realçou o Ministério da Educação.

Os computadores portáteis e o quadro interativo fazem parte dos meios tecnológicos que usa nas aulas, a par do material de laboratório que serve de base às muitas experiências científicas que propõe aos alunos de Físico-Química.

Nos últimos dois anos, acrescenta o ME, a taxa de aprovações dos alunos dos cursos científico-humanísticos da Secundária de Loulé atingiu "cem por cento", o que se deve à "grande preocupação, dedicação e capacidade de motivação" do professor premiado.

In Jornal de Notícias, 16 de Março

Camilo Pessanha


Camilo Pessanha (1867-1926), o mais esquecido dos poetas da geração de Orfeu. Poesia de imagens ricas e aparentemente simples que revelam a sensibilidade do Autor embalado pela música das palavras...


Crepuscular

Há no ambiente um murmúrio de queixume,
De desejos de amor, d'ais comprimidos...
Uma ternura esparsa de balidos,
Sente-se esmorecer como um perfume.

As madressilvas murcham nos silvados
E o aroma que exalam pelo espaço,
Tem delíquios de gozo e de cansaço,
Nervosos, femininos, delicados.

Sentem-se espasmos, agonias d'ave,
Inapreensíveis, mínimas, serenas...
- Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,
O meu olhar no teu olhar suave.

As tuas mãos tão brancas d'anemia...
Os teus olhos tão meigos de tristeza...
- É este enlanguescer da natureza,
Este vago sofrer do fim do dia.

Camilo Pessanha

segunda-feira, 15 de março de 2010

Filho Pródigo



Regresso do Filho Pródigo. Do amor e do perdão do Evangelho para a tela de Murillo e Rembrandt. Tema recorrente e sempre actual... o arrependimento do filho pródigo, a compaixão do pai e o "legalismo" do filho mais velho. Três figuras para reflexão...

quinta-feira, 11 de março de 2010

Timor-Madeira...e a generosidade


















Timor e Madeira, duas ilhas separadas por milhares de quilómetros... Distantes e diferentes, mas semelhantes pelo sofrimento que, por momentos, tocou o território e as suas gentes.Ontem, Timor, a Madeira por estes dias...

E porque o tempo tudo traz e tudo leva, todos precisamos uns dos outros... Se alguns esquecem, outros retribuem em generosidade. Um caso que merece o comentário do jornalista.


"Uma bofetada de luva branca"Data: 26-02-2010

Faço parte daquele enorme grupo de madeirenses que nunca esqueceu a arrogância do presidente do Governo Regional da Madeira quando, em 1999, disse: "Nem um tostão para Timor!" Fiquei ainda mais magoado quando, um ano depois, tive a oportunidade de visitar Timor-Leste integrado na comitiva que acompanhou o Presidente da República Jorge Sampaio em visita oficial. Vi casas destruídas, vi gente humilde, sem nada. Gente que ainda falava algum português, que pedia ajuda e que precisava mesmo dessa ajuda. E lembrava-me, nessa Díli ainda destroçada, do presidente do governo da minha ilha: "Nem um tostão para Timor!".

Agora que Timor começa a erguer-se mas revela ainda muitas fragilidades, é a nossa Madeira, a 'Singapura do Atlântico', a merecer a ajuda de fora. Ao contrário de mim, Ramos-Horta e Xanana Gusmão já esqueceram o que disse Jardim. E agora, em vez de nem um tostão para a Madeira, vejo com emoção um país bem mais pobre que a nossa rica Região a dizer: "100 mil contos para a Madeira!". Timor, um dos países mais pobres do mundo, desvia dos seus cidadãos 556 mil euros (ou 750 mil dólares) para ajudar a manter o bom nível de vida de uma Região que se apresenta com indicadores que a deixam como uma das mais ricas da União Europeia. E Timor não se limita a um tostão: oferece mais de dois euros a cada madeirense.

Sei que este não é o momento para tricas políticas. Que a hora é de trabalhar pela reconstrução, chorar os mortos e proteger os vivos. E, sinceramente, acho que estamos a fazer bem o que é possível fazer nesta altura. O Governo, as Câmaras, as Juntas, os Voluntários. Mas é difícil ficar insensível perante os contributos vindos de fora. Além dos efeitos práticos na reconstrução, a solidariedade de anónimos e as visitas dos 'cubanos' Sócrates e Cavaco e ainda o dinheiro do patrão do 'Pingo Doce' obrigam-nos não apenas a ter mais cuidado com o planeamento urbanístico como também a ter mais tento na língua. Nas desgraças é assim: hoje eles, amanhã nós.
Miguel Silva, Editor de Política

domingo, 7 de março de 2010

Bullying


Quando procurava as últimas notícias no Expresso on line, deparei com um comentário sobre a questão do bullying em Portugal. Um registo importante que aconselho: "Bullying: alertas na Net". Para quê mais comentários?! http://aeiou.expresso.pt/bullying-alertas-na-net=f569323

sábado, 6 de março de 2010

Violência, porquê?

A vida no Bairro, foto de Carlos Franco ( Internet)

Se a violência atravessa todos os patamares da sociedade, porquê então estranhar os inúmeros casos de bullying nas nossas escolas?

Pobres "Leandros" e "Ritas", vítimas da agressão física e psicológica de outros estudantes e de adultos! Desconhecem como viviam outrora os seus avós, um tempo em que se jogava livremente na rua, mesmo numa grande cidade como Lisboa, e as crianças seguiam sozinhas o caminho da escola...

Educava-se no respeito pelo próximo e aí residia toda a diferença. Havia praxes e brincadeiras, mas balizadas pelos princípios da dignidade do outro. Reconheço que são diferentes os contextos sociológicos, hoje apregoa-se muito a prática dos direitos, incluindo os Direitos da Criança. Esquece-se, porém, o princípio de que todos os direitos implicam deveres. Por aqui deve começar a educação e é por isso que apetece gritar: - "crianças respeitem-se umas às outras!"

sexta-feira, 5 de março de 2010

Tudo depende de mim...




Neste ano dominado pela tristeza e depressão ( a todos os níveis), as palavras de Chaplin constituem uma chamada de consciência. Para os "menos desafortunados", os das queixas comezinhas, é hora de olhar para o sofrimento, o mundo de gente como nós...