sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Empresas e Empresários


Gosto de ler biografias. Percursos de vida de grandes homens e mulheres que deixaram marcas na família, na terra onde nasceram, na região ou no país onde viveram. Vidas aprecidas a nível local ou mesmo de relevância mundial. Gente que assinalou o espaço da sua passagem pelo tempo. É assim a nível cultural, social, político ou económico...

E porque vivemos em tempos de crise, apetece-me falar em empresários e empresas. “Gente feita” de acaso ( se é que os acasos existem ) e das circunstâncias “pessoais” e “históricas”. Personalidades relevantes pelas suas aptidões e qualidades de trabalho que souberam aproveitar os ventos da História para crescer e singrar em determinados sectores. Empresários dotados de um legado familiar e outros que, do nada, chegaram ao sucesso. Herdeiros uns, no rol de “self made man” os outros, todos merecem a atenção de sociólogos e historiadores. Agrada-me saber que a “história de vida” de empresários e de empresas dos últimos séculos em Portugal começa já a ser escrita.

Por mim, falo de um caso, a “Metalúrgica Duarte Ferreira”. Nome que, desde criança me habituei a ler inscrito em alfaias e máquinas agrícolas, daí a curiosidade em conhecer as origens de uma empresa já desaparecida.

Fundada por Eduardo Duarte Ferreira (1856-1948) , originário de uma família modesta e pobre de Abrantes, que começou como aprendiz de ferreiro no Rossio ao Sul do Tejo. Depressa aí adquiriu o gosto pelo trabalho do ferro, alimentando o desejo de montar oficina própria, o que fez aos 26 anos de idade. A Forja, esse o nome da oficina, havia de tornar-se a grande fornecedora de alfaias agrícolas e com o crescendo dos negócios veio a necessidade mudar para novas instalações.
Em 1920 num espaço mais amplo junto da linha da Beira-Baixa, passa a designar-se Fábrica de Metalúrgica e emprega já 250 operários. Três anos depois transforma-se numa sociedade por quotas com o nome de Duarte Ferreira e Filhos.

Um laboratório químico e metalúrgico para investigação e ensaio de materiais davam à empresa um carácter de modernidade a que não faltava também a vertente social com a criação de um sistema de segurança para os trabalhadores. O reconhecimento público do empresário foi confirmado pelo Presidente da República, general Carmona que, em 1927, visitou o Tramagal e entregou a Eduardo Duarte Ferreira a comenda de Mérito Agrícola e Industrial. Nas décadas de 1930-40 a actividade incidiu na produção de enfardadeirs e debulhadores-mecânicas e, numa fase posterior, a caixas para lubrificação e eixos de locomotivas e gasogénios para automóveis. A empresa, que projectou o nome de Tramagal, toma o nome de Metalúrgica Duarte Ferreira, SARL em 1947. À data da morte do empresário-fundador, contava com 800 trabalhadores.

Na década de 1960, durante o período da guerra colonial, a Metalúrgica Duarte Ferreira lançou-se na linha de montagem de veículos militares, calculando-se em 3300 o número de Berliet Tramagal destinadas à guerra em África.
Porém, a reconversão da empresa que, durante dez anos, abandonou a produção de máquinas agrícolas, e o fim da guerra em África, em 1974, ditaram o fim da empresa. Intervencionada pelas autoridades governamentais na sequência do 25 de Abril, a ameaça de desemprego para os 2300 trabalhadores pairava a cada dia. As dificuldades administrativas e financeiras preanunciavam a falência da Metalúrgica Duarte Ferreira, cujos bens acabaram penhorados e vendidos em 1995. Esse ano formaliza a extinção de uma empresa, cujo crescimento atravessou as vicissitudes do tempo, até à conjuntura da década de 1970 que ditou a sua morte...

As notas para a redacção destas linhas recolhi-as na Wikipédia. Apenas traços do ciclo de vida de uma empresa, cujo nascimento, desenvolvimento e agonia acompanham as circunstâncias dos tempos.

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