quinta-feira, 31 de março de 2011

Muito sofrem as Princesas...


Hoje deu-me para falar sobre o sofrimento das princesas. Tudo isto, porque no dia 31 de Março de 1718 nasceu uma princesa, Mariana Victoria de Bourbon, filha de Filipe V e de Isabel Farnésio. Destinada a casar com o futuro Luís XV, apenas com com quatro anos, Mariana foi levada para corte de França. E aí, longe do afecto de seus pais, passou dois anos a Princesa-menina. Sofrimento de que pouco ou nada se fala, dado que só as razões de Estado contavam. E por tais motivos aconteceu a ruptura do acordo matrimonial, porque urgia assegurar a sucessão dinástica em França.


A pretensa noiva de Luís XV acaba "devolvida" à corte de Madrid, o que muito humilhou a Rainha. Então, recomeça a procura de um bom "partido" para a Princesa, tudo numa acção concertada entre diplomatas e cabeças coroadas. As diligências emergiam das cortes interessadas, sendo de realçar os representantes de D. João V em Espanha, França e da Holanda. Traçado o projecto e depois de prolongadas negociações chegou-se a um "acordo de matrimónios" entre as duas monarquias Ibéricas.


Operação política que teve o seu epílogo no Caia, em 1729, na designada "troca de Princesas". Para Portugal a Infanta Mariana Vitória, saindo D. Maria Bárbara (filha de D. João V) para casar com Fernando, o sucessor ao ao trono de Espanha. Os preparativos e a cerimónia, que José Saramago descreve com maestria e humor, decorreu entre percalços e a pompa requerida.

Se à documentação oficial não cabia referir o desgosto da separaçâo nem os problemas de adaptação das princesas a uma corte estrangeira, o mesmo não pode dizer-se da correspondência trocada entre Mariana Vitória e a Rainha, sua Mãe. Escusado dizer que o mesmo se aplica a D. Maria Bárbara, uma situação agravada pela ambição de Isabel Farnésio...

O título vai propositadamente no presente. Mudam-se os tempos, as circunstâncias, mas os deveres exigidos a uma princesa persistem. Basta deitar os olhos por essa Europa das monarquias. E logo agora que correm os preparativos de mais um casamento principesco em Inglaterra...



A vida é magia

Do tempo colhe-se a sabedoria. Sendo testemunha dos acontecimentos, o tempo relativiza as coisas e imprime uma nova expressão à vida. Disso sabe o povo no dito "o tempo é bom conselheiro". Lembrei-me disso ao rever Ana Maria Matute e a ideia-chave dessa entrevista: "A vida é magia".

Ninguém de bom senso pode deixar de concordar com a conhecida novelista espanhola, nascida em 1926 em Barcelona. Por ela passou já muito tempo de vida, anos que marcaram indelevelmente a sua infância. Para o mundo literário transpôs a experiência da vida que será sempre mágica e sem rancores. É a dimensão dessa sabedoria que apetece conhecer na obra da novelista que foi galardoada com o último prémio Cervantes. Dado que em Portugal é ainda quase uma ilustre desconhecida, transcrevo um extracto do jornal i.



"Se ganhasse o Prémio Cervantes desatava aos saltos. Bem... Aos saltos espirituais", disse a escritora Ana María Matute, de 85 anos, ao jornal "El País". Uma semana antes da entrega do galardão mais importante da literatura espanhola, a frase soava a profecia. Mas a sua inseparável bengala não permitiu que materializasse a promessa quando recebeu o Prémio Cervantes 2010. "Sinto-me enormemente emocionada, contentíssima, enormemente feliz e contente porque me deram um prémio que me encanta", afirmou Ana María Matute na quarta-feira quando soube que era a vencedora.


A eterna candidata à mais importante distinção da literatura espanhola é a terceira mulher a receber o prémio que vale 125 mil euros, depois da espanhola María Zambrano e da poetisa cubana Dulce María Loynaz. O Cervantes é entregue de forma alternada a escritores espanhóis e latino-americanos, no ano passado foi para o mexicano José Emilio Pacheco. "Acho que o prémio está mais que bem atribuído, ela merece o Nobel pela obra que tem. Ana María Matute escreve sobre temas sociais, com uma prosa muito poética. Ela consegue pôr-nos os problemas da vida de forma pungente e comovedora", diz ao i Paula Nascimento, editora da divisão portuguesa da Planeta que publica os livros da autora.


Mario Vargas Llosa, amigo da escritora, parece concordar com a editora portuguesa. O Prémio Nobel da Literatura 2010 afirmou à RTVE que Ana María Matute "possui uma das obras mais ricas da literatura contemporânea em língua espanhola".Bosque Publicou o primeiro romance, "Pequeño Teatro", aos 17 anos e recebeu logo o Prémio Planeta. Antes, tinha-se estreado com um conto na imprensa, depois de o pai a autorizar formalmente a publicar. Ficou tão emocionada que comprou quatro exemplares para guardar o "El chico de al lado". "O escritor nasce, não se faz: é uma questão de ser ou não ser", defende a autora que começou a escrever aos 5 anos. Frágil, mas ainda cheia de energia, Ana María Matute está neste momento a terminar o que diz ser o seu último livro. Quanto ao tema, nem uma palavra.Paula Nascimento, a editora portuguesa, defende que o que melhor caracteriza os livros de Matute é a humanidade. "Ela é muito sofrida e aborda os temas mais marcantes da sociedade, da guerra civil espanhola, que viveu, aos sem terra."


Mas há ainda outro lado na literatura da escritora que nasceu em 1925 em Barcelona: o imaginário e a natureza. Com 4 anos quase morreu, com um problema nos rins, e foi passar um período no campo com os avós, em San Mansilla de la Sierra. Aí descobriu o bosque. "A natureza e eu entendemo-nos bem. Pertenço ao bosque", explicou a professora universitária que se divorciou nos anos 60 e ficou sem poder ver o filho durante anos.

Considerada uma das autoras mais importantes da época posterior à Guerra Civil Espanhola - com mais de 40 obras traduzidas em 20 línguas - nunca foi muito famosa em Portugal. Antes da Editora Planeta, outras chancelas nacionais publicaram as suas obras. Pode ser que desta vez o público dê mais atenção à autora intitulada "fada do bosque". A editora Paula Nascimento revelou ao i que vão ser traduzidos mais livros da catalã. Estão em debate vários títulos e em breve se saberá quais são."

segunda-feira, 28 de março de 2011

Japão, annus horribilis

Aconteceu há poucos minutos no Japão. Um novo sismo, no norte do país, de 6,5 na escala de Ritcher. Para os japoneses que vivem um annus horribilis, resta a solidariedade no sofrimento. Porque grande é a força do espírito...

domingo, 27 de março de 2011

E porque é domingo...



Ao domingo apetece caminhar pelos parques e jardins. Andar sem tempo, olhar e apreciar as mudanças da passagem dos dias. Sinais de Primavera na grande Cidade...para usufruir em paz.




quinta-feira, 24 de março de 2011

Portugal, a crise e o humor...


Para desanuviar. Caíu o Governo, agravou-se a crise. Mas, graças a Deus, os portugueses não perderam o humor. A este propósito, registo dois mails que recebi há pouco. O primeiro mostra uma caricatura de Bento XVI que, na sua autoridade de Papa, avisa o Ministro das Finanças: " Meu Filho, não Pecs mais!"...

Quanto ao segundo mail são desnecessárias palavras. Para a Senhora do Vencimento é o sentido que todos pedimos. E que não nos falte ao fim do mês, o vencimento!!

terça-feira, 22 de março de 2011

Artur Agostinho partiu...

Artur Agostinho, o grande comunicador, deixou-nos. Connosco conviveu em diferentes palcos, tantas as facetas do seu talento. Dele hão-de ficar os registos, mas um de especial significado. Da sua voz inconfundível no relato do Portugal-Coreia em 1966, um momento de emoção na sua carreira e na nossa memória. Que descanse em paz, Artur!

Brahms...

Começou a Primavera

Finalmente, a Primavera! Ansiávamos pelo fim dos dias chuvosos e tristes e a Natureza, condoendo-se de nós, trouxe o Sol e a esperança. De paz e de luz, de poesia e de renovação. Que as flores corporizam num "festival de pétalas e cores"...

"Depois do Inverno,
morte figurada,
A Primavera,
uma assunção de flores.
A vida
Renascida
E celebrada
Num festival de pétalas e cores."

Miguel Torga

quarta-feira, 16 de março de 2011

Em Portugal "os deuses devem estar loucos!"

Aqui está uma imagem de um comboio de alta velocidade que o Governo defende para Portugal. Mais um sorvedouro de dinheiro ou um "brinquedo caro" se aceitarmos a expressão do antigo embaixador americano a propósito dos submarinos...

Em tempos de crise fico estupefacta com esta teimosia do Governo em investir em grandes obras. Mesmo que os custos públicos na construção fossem nulos ( e não são), deverá pensar-se na rendibilidade da empresa, ou seja, nos utilizadores. E, salvo melhor opinião, não se vislumbra um fluxo de passageiros suficiente para manter o TGV. Às vezes até parece que estamos todos amnésicos. Então e a crise? Ela está aí e veio para ficar...

terça-feira, 15 de março de 2011

Japão..."aceitar o inaceitável"


Quando em meados de Agosto de 1945, o imperador Hirohito anunciava, pela rádio, a necessidade de "aceitar o inaceitável", muitos japoneses não compreenderam. Só que depois da destruição de Hiroshima e de Nagasaqui a guerra não fazia mais sentido. A rendição, cobrada à custa do nuclear, deixava em todos um gosto amargo. E disso falam as cerimónias alusivas que se repetem no dia 6 de Agosto, de todos os anos...

Teimosamente, o Império do Sol Nascente persiste em manter viva a memória da II Guerra Mundial. Para exorcizar os erros do passado, alimentar o amor ao Japão e promover o seu desenvolvimento. E, em poucos anos, o País reconstruíu-se e desenvolveu-se até assumir um lugar cimeiro no contexto das Grandes Potências do Globo. Crescimento económico extraordinário que os observadores não hesitaram em rotular como milagre. "Milagre japonês" em contraponto a um outro na Europa, o "milagre alemão"...

Mas ao êxito da economia, cujos sectores são demasiado conhecidos, corresponde a fraqueza em fontes de energia. Para suprir a falta de petróleo, o Japão apostou nas centrais nucleares. E de tal maneira que, embora de reduzidas dimensões, veio a tornar-se a terceira potência mundial, depois dos Estados Unidos e da França. Admirado pela sua cultura e resistência às calamidades naturais, o Japão virou actualidade em todos os media. Pelo sismo de enorme poder destruidor, pelo tsunami, pelo colapso nuclear, pela actividade vulcânica. À desvastação causada pelas forças da Natureza acresce o desastre nuclear e da radioactividade. O progresso ameaça agora transformar o País num espaço desertificado e carenciado de bens de primeira necessidade. Faltam alimentos, falta água, gás e electricidade. O perigo da radioactividade e as baixas temperaturas aconselham os japoneses a fecharem-se em casa, enquanto outros buscam os seus familiares e amigos por entre os destroços. E outros ainda abandonam as casas e a sua terra para fugir aos efeitos do nuclear.

Ironia da História. Por mais uma vez, os japoneses vêem-se obrigados a "aceitar o inaceitável". Uma calamidade que, em parte, poderia ser minimizada pelo homem. O mesmo perigo das bombas em 1945 reside agora nas centrais nucleares. O mesmo princípio com idênticos efeitos: a morte e a contaminação do meio ambiente. Calamidade que não se confina àquele canto do Planeta, porque assim ditam os efeitos da globalização...

sábado, 12 de março de 2011

Terramoto no Japão




A violência do terrramoto que atingiu o Japão ou a calma das pessoas...Quem diria possível tal comportamento ?

quinta-feira, 10 de março de 2011

O dia da morte de D. João VI

Aconteceu a 10 de Março de 1826 a morte de D. João VI, um dos mais injustiçados reis de Portugal. À aparência física, que pouco ficava a dever à beleza, acresciam os qualificativos de pouco inteligente e indeciso com que a historiografia o brindou. Nascido e educado numa época conturbada da Europa, viu-se promovido, por morte de seu irmão primogénito, à condição de Príncipe herdeiro. E nas funções governativas entrou bem cedo, devido à doença da rainha D. Maria.

O casamento com Carlota Joaquina, a ambiciosa princesa de Espanha de má memória, revelou-se um desastre pessoal e político. Talvez estas circunstâncias posssam justificar o comportamento desajeitado do Rei que Oliveira Martins descrevia como anafado e glutão, comendo pernas de frango que guardava nos bolsos. No Rio de Janeiro sentia-se mais distendido e feliz durante os anos de permanência da corte. Satisfeito com a beleza da terra e o clima, promoveu uma politica de incremento económico e cultural que os brasileiros nunca esquecerão...

Ainda na sequência da revolução francesa, Portugal aderia finalmente ao regime liberal. Chamado a regressar em 1821, D. João VI assina a Constituição e inicia a etapa mais difícil da governação. O País dividia-se entre os apoiantes do antigo regime e liberais (também eles repartidos entre facções) e essa imagem de confronto reflectia-se também na família real. No Brasil, optando pelo caminho da independência do País, estava D. Pedro. Enquanto isso, D. Miguel e D. Carlota Joaquina conspiravam a favor do regime absoluto. Vivendo entre ameaças de guerra civil e tentativas de acordos politicos, D. João VI sentia faltar-lhe a saúde. Antes, porém, ditou o testamento. E depois seria a sucessão de outros acordos e desavenças até à guerra civil...

Envenenamento teria sido a causa da morte do Rei, acto atribuído à rainha D. Carlota. Mas a voz do povo, que a historiografia veiculou, só recebeu confirmação na década de 1990. Quis o acaso que em S. Vicente de Fora, na Capela da Encarnação, fosse sentido um forte odor proveniente do solo. E logo a análise às vísceras de D. João VI, retiradas aquando do processo de embalsamamento, comprovou vestígios de arsénico...

sexta-feira, 4 de março de 2011

Dvorak e o violoncelo




O talento de Dvorak num concerto magistral. Para ouvir religiosamente...

"Chapéus há muitos..."

"Chapéus há muitos...", uma afirmação por demais conhecida . Só que, desta vez, não se reporta aos heróis do cinema da década de 1940. Falo de um tempo bem recuado, século XVI, uma imagem de Portugal em 1578-1580: Ritrato e Riuerso del Regno di Portugallo. Documento que merece uma leitura atenta, uma apreciação do nosso País que não se afasta do tom crítico de outros textos da época. Por ora, fixei-me nos "chapéus", embora os mais curiosos possam saber mais acerca do vestuário daquele tempo. Basta pesquisar na Internet...

" Os trajes, como antes disse, são longos e pretos., de tecidos muito reles e usam-nos por mutio tempo. Andam sempre de chapéu, de botas e com meia espada se vão muito a cavalo. Não há diferença alguma entre o fato dos nobres e o dos não-nobres, dos pobres e dos ricos, nem dos amos e dos criados. Aliando-se a estes trajos os comportamentos e os rostos morenos e melancólicos, ao entrar uma um estrangeiro em Lisboa parece-lhe contemplar um horror inferna, porque as casas, as ruas, os homens, os trajos, a língua e os costumes todos clamam horrendamente. Têm diversos tipos de chapéus que usam consoante os lugares e as horas e não chega, como nas outras partes, pôr o chapéu quando chove e o barrete quando faz Sol. Para as suas circunspectas cabeças tornou-se necessário prover diversas espécies de cobertura, para que não se evaporem, todas feitas de modo diferente e com diversos nomes: chapéus, gorra, carapuça, barrete, gualteira simples, gualteira de rebuço, monteira e outras.

Quando se anda na rua deve-se levar chapéu, quando se está em casa a gualteira, e quando se vai à igreja ou visitar um amigo a carapuça, no campo usa-se a monteira, e assim se vai variando. Deve-se estar atento e não cometer erros, porque levar chapéu em visitas é falta, e a gualteira nas ruas seria notada como loucura, e assim com todos os outros fora do devido lugar. Aconteceu às vezes, em casamentos e em outras festas importantes, muito nobres portugueses terem de vestir-se à maneira de Itália. Fizeram-no de modo tão rico que não se podia exigir mais. Tinham sobre si toda a seda e todo o ouro que é possível usar, tendo mandado vir também da corte de Castela alfaiates e sapateiros. Com tudo isto, apresentavam-se tão sem garbo e tão mal amanhados que pareciam vilãos disfarçados."


Uma Descrição de Portugal em 1578-80, Tradução do Italiano e notas por A. H. Oliveira Marques, in Revista Nova História , nº 1, 1984

quarta-feira, 2 de março de 2011

De Beethoven a Goya



Um título que merece explicação. Ontem, Goya e agora, Beethoven. Tudo começou com a lembrança do grande músico, Beethoven (1770-1827). Dois génios coetâneos, irmanados pela infelicidade da surdez. Uma limitação terrível que, apesar de tudo, não impediu a sua realização pessoal. Um e outro, cada um à sua maneira, conseguiram ultrapassar os obstáculos.

Observe-se uma cena do filme, retratando Beethoven, totalmente surdo, na direcção da orquestra...

terça-feira, 1 de março de 2011

Acerca de Goya...













Francisco Goya ( 1746-1828) viveu numa época conturbada. Percurso aventuroso de uma vida longa, de prazer e onde também as dificuldades marcam presença. De entre todas, a doença foi a maior. A surdez e as limitações a nível visual determinaram a segunda metade da vida, embora sem lhe diminuir o talento. Afectado psicologicamente, troca a alegria fácil pela realidade. Sem abandonar a temática cortesã, opta agora pelo realismo no retrato e nas cenas. A deformação das figuras e as cores sombrias emergem nos seus quadros que retratam preferencialmente a mulher, a criança e os ambientes de raiz popular.

Goya abre caminho às novas correntes modernistas. Do classicismo, onde começou a sua carreira, passa ao romantismo, produzindo uma obra que aponta para o expressionismo e o surrealismo. É, pelo menos, essa a minha percepção quando olho as suas telas e gravuras...

Tchaikovsky e o eterno "Concerto para Piano"




Só um pedacinho deste Concerto que nos transporta até onde quisermos....

Novo Mundo


Nesta terça-feira de Sol, embora fria, quero partilhar a alegria deste scherzo do Novo Mundo.