terça-feira, 15 de março de 2011

Japão..."aceitar o inaceitável"


Quando em meados de Agosto de 1945, o imperador Hirohito anunciava, pela rádio, a necessidade de "aceitar o inaceitável", muitos japoneses não compreenderam. Só que depois da destruição de Hiroshima e de Nagasaqui a guerra não fazia mais sentido. A rendição, cobrada à custa do nuclear, deixava em todos um gosto amargo. E disso falam as cerimónias alusivas que se repetem no dia 6 de Agosto, de todos os anos...

Teimosamente, o Império do Sol Nascente persiste em manter viva a memória da II Guerra Mundial. Para exorcizar os erros do passado, alimentar o amor ao Japão e promover o seu desenvolvimento. E, em poucos anos, o País reconstruíu-se e desenvolveu-se até assumir um lugar cimeiro no contexto das Grandes Potências do Globo. Crescimento económico extraordinário que os observadores não hesitaram em rotular como milagre. "Milagre japonês" em contraponto a um outro na Europa, o "milagre alemão"...

Mas ao êxito da economia, cujos sectores são demasiado conhecidos, corresponde a fraqueza em fontes de energia. Para suprir a falta de petróleo, o Japão apostou nas centrais nucleares. E de tal maneira que, embora de reduzidas dimensões, veio a tornar-se a terceira potência mundial, depois dos Estados Unidos e da França. Admirado pela sua cultura e resistência às calamidades naturais, o Japão virou actualidade em todos os media. Pelo sismo de enorme poder destruidor, pelo tsunami, pelo colapso nuclear, pela actividade vulcânica. À desvastação causada pelas forças da Natureza acresce o desastre nuclear e da radioactividade. O progresso ameaça agora transformar o País num espaço desertificado e carenciado de bens de primeira necessidade. Faltam alimentos, falta água, gás e electricidade. O perigo da radioactividade e as baixas temperaturas aconselham os japoneses a fecharem-se em casa, enquanto outros buscam os seus familiares e amigos por entre os destroços. E outros ainda abandonam as casas e a sua terra para fugir aos efeitos do nuclear.

Ironia da História. Por mais uma vez, os japoneses vêem-se obrigados a "aceitar o inaceitável". Uma calamidade que, em parte, poderia ser minimizada pelo homem. O mesmo perigo das bombas em 1945 reside agora nas centrais nucleares. O mesmo princípio com idênticos efeitos: a morte e a contaminação do meio ambiente. Calamidade que não se confina àquele canto do Planeta, porque assim ditam os efeitos da globalização...

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