quarta-feira, 14 de março de 2012

Lisboa, um olhar de Fernando Pessoa





Fernando Pessoa convida para uma visita: Lisboa, what the tourist should see. Assim mesmo, em inglês, texto do final da década de 1920, que só há poucos anos foi publicado pela editora Horizonte. Edição bilingue que vale a pena consultar, apreciando a sensibilidade e erudição do Poeta. Para alguns dias de visita, cujo roteiro o turista deve seguir com atenção, anotando as alterações da malha urbana, dos museus e respectivas entradas.



Sem pretender analisar exaustivamente a obra, registo dois exemplos. O primeiro, a partir da Basílica da Estrela, " da varanda que coroa o zimbório pode-se ver quase toda a parte moderna de Lisboa, assim como também o rio na sua parte mais larga e muitas das importantes aldeias da margem sul." (pg. 128). Sobre o Museu de Arte Antiga, cuja origem se pormenoriza, escreve que "O Museu está aberto todos os dias, excepto às segundas-feiras, das 11 da manhã às 5 da tarde. A entrada é, naturalmente, livre." (pg. 162). Bons tempos esses de entrada gratuita!!!



"... a maior das praças de Lisboa, a PRAÇA DO COMÉRCIO, outrora TERREIRO DO PAÇO, como é ainda geralmente conhecida; esta é a praça que os ingleses conhecem como Praça do Cavalo Negro e uma das maiores do mundo. É um vasto espaço, perfeitamente quadrado, contornado, em três dos seus lados, por edifícios de tipo uniforme. com duas arcadas de pedra. Os principais serviços públicos estão aí todos instalados ( ...) No centro da praça fica a ESTÁTUA EQUESTRE de bronze de D. José I, uma esplêndida escultura de Joaquim Machado de Castro, fundida em Portugal , de um só peça, em 1774. Tem 14 metros de altura. O pedestal é adornado com magnífica figuras representando a reconstrução de Lisboa depois do grande terramoto de 1755. Há uma figura segurando um cavalo que esmaga o inimigo sob a s patas, outra com as insígnias da Vitória, a Fama num outro grupo; e o conjunto é verdadeiramente notável. Além disso, podemos ainda ver as Amas Reais e o retrato do Marquês de Pombal, assim como uma alegoria que representa a Generosidade Real levantando Lisboa das ruínas. O monumento, acessível por degraus de mármore, é circundado por altas grades alternando com colunas.

Do lado norte da Praça, perpendiculares ao rio, há três avenidas paralelas; a do meio parte de um magnífico arco triunfal de grandes dimensões, indubitavelmente um dos maiores da Europa. É datado de 1873 mas foi projectado por Veríssimo José da Costa e começado a construir em 1755. O grupo alegórico que coroa o arco, esculpido por Calmels, personifica a Glória coroando o Génio e o Valor; as figuras reclinadas representam os rios Tejo e Douro, assim como as estátuas de Nuno Álvares, Viriato, Pombal e Vasco da Gama, são da autoria do escultor Vítor Bastos.

O Terreiro do Paço é um dos sítios onde atracam barcos para cruzar o Tejo; à nossa direita, deitando para o rio está a estação provisória da Linha do Sul. Também frequentemente os turistas desembarcarem aqui, como habitualmente fazem as tripulações de navios de guerra estrangeiros que visitam o porto."






Fernando Pessoa, Lisboa, O que o Turista deve ver, What the tourist should see, (pgs. 44-48)

Sem comentários: