sábado, 28 de novembro de 2009

O Desejado


Tão desejado foi este Príncipe que, desde o século XVI, tanto interesse e curiosidade desperta. E é assim que historiadores, ensaístas e romancistas escrevem e continuam a escrever acerca de D. Sebastião e a sua época e...o público corresponde, lendo sempre...

O tema parece não estar esgotado como concluí da leitura de "O Desejado", de Aydano Roriz. Retrato de uma época de crise sucessória e em que a identidade de Portugal corria perigo até soçobrar na União Dinástica em 1580. Romance que atravessa a conjuntura dos Reinos Ibéricos no espaço europeu e do norte de África: a política e a economia obedecendo a atitudes e comportamentos próprios das mentalidades do tempo.
Interessante o enfoque dado pelo autor aos pormenores do quotidiano e que, de certo, fará as delícias do grande público. Transcrevendo excertos da sinopse de O Desejado, fica o convite à leitura...


"Trata-se do terceiro romance histórico do escritor baiano. Aqui ele se debruça sobre a figura de D. Sebastião de Portugal, rei aos três anos, morto aos 24 na batalha de Alcácer Quibir e que, transformado em mito, séculos mais tarde ainda vive no imaginário popular. (...)
O livro de Roriz além de tentar encontrar a resposta para a rápida decadência da nação lusitana, que por mais de um século foi o país mais rico e poderoso do planeta, apresenta-nos ainda todas as intrigas palacianas e diplomáticas que cercaram o histórico nascimento do filho da princesa D. Juana de Áustria, filha do rei Carlos V de Espanha, imperador do Sacro Império Romano-Germânico e do jovem e frágil príncipe D. João Manuel. Ele ainda nos fala da vida na Europa do século XVI, dos casamentos contratados entre as famílias reais e que visavam apenas a expansão e o domínio econômico das monarquias em detrimento da vontade dos povos dos diversos reinos, da perseguição aos judeus e das relações incestuosas freqüentes nas diversas cortes.
Relata-nos também episódios da vida e da prática médica do famoso mestre-físico português, Amato Lusitano, que, na ficção criada por Roriz, diagnostica uma rara patologia genética com a qual teria nascido o tão ansiado monarca. Aquele que afastaria de uma vez por todas o fantasma de ver-se Portugal incorporado à Espanha, desde que o rei D. João III, o Piedoso, não tinha mais qualquer herdeiro, a não ser seu neto espanhol nascido do casamento entre a princesa Maria Manuela e o outro filho de Carlos V, o futuro rei de Espanha, Filipe II. E assim, entre cenas picantes, práticas sexuais proibidas pela Igreja católica e factos menos conhecidos, como a volta de D. Juana para a Espanha, contando D. Sebastião apenas três meses e o auto exílio do poderoso imperador Carlos V no mosteiro de Yuste na serra de Gredos, o autor vai traçando um curioso e interessante relato de uma História que não se aprende nos livros oficiais."

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Tempo de Natal


Este dia chuvoso de Outono atira-me para a proximidade do Natal que, para mim, é uma época nostálgica por excelência. Disparate dirão alguns, mas que querem?! É sempre com algum esforço que vivo estes dias feitos de música e luz natalícias, onde o marketing alicia para a compra de presentes e mais presentes...

Sentimentos de uma certa tristeza que David Mourão Ferreira soube exprimir de forma admirável.


Ladainha dos póstumos Natais

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito

David Mourão-Ferreira, in "Cancioneiro de Natal"

domingo, 22 de novembro de 2009

Luís de Freitas Branco




A música de Luís de Freitas Branco e as imagens do Alentejo, uma sugestão para um fim de tarde.

Ser Alguém!

Definiu César toda a figura da ambição quando disse aquelas palavras: "Antes o primeiro na aldeia do que o segundo em Roma!'' Eu não sou nada nem na aldeia nem em Roma nenhuma. Ao menos, o merceeiro da esquina é respeitado na Rua da Assunção até à Rua da Vitória; é o César de um quarteirão. Eu superior a ele? Em quê, se o nada não comporta superioridade, nem inferioridade, nem comparação?

Fernando Pessoa (Bernardo Soares), Livro do Desassossego

sábado, 21 de novembro de 2009

Quitandeira de ontem e de hoje



Angola e Brasil, identidade cultural de um ofício

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Santo António...de Lisboa e de Pádua

Santo António pregando aos peixes, Guimarães (Internet )

Ninguém ignora a universalidade de Santo António. Duas cidades, porém, guardam uma memória especial do Santo: Lisboa e Pádua. Ambas com razões para disputar a sua "posse".

Na Descrição da Cidade de Lisboa não podia Damião de Góis omitir uma referência ao Santo mais popular da cidade que o viu nascer. Aí existia uma capela que, após o Terramoto de 1755, deu lugar à actual Igreja. A dignidade dessa construção adequa-se ao fluxo ininterrupto de devotos e turistas que, por vezes, visitam também o Museu Antoniano anexo.

Da obra de Damião de Góis transcreve-se uma espécie de registo de identificação do lugar-berço do Santo. Vale a pena ler.

"Perto da Sé, um pouco mais abaixo, para o Ocidente, atravessando uma praça, levanta-se a capela de Santo António, que chamam de Pádua. É obra de construção admirável e maravilhosa elegância, e fora outrora moradia dos pais do Santo, onde ele também nasceu e se criou.

Ufana-se a cidade de Lisboa por ser o berço de Santo António, e ufana-se com razão; porque ele, com aplauso do povo fiel, foi incluído no número dos santos, e porque Deus, confirmando, com o selo dos santos, e porque Deus, confirmando, com o selo dos milagres, o parecer unânime dos fiéis cristãos, fez que se tornasse conhecido do mundo inteiro o nome de António e que a sua memória fosse engrandecida e apregoada por toda a parte e por toda a gente.

Sobre a capela está a casa municipal ou cúria urbana, de cuja constituição e regime poderíamos contar muitas coisas notáveis, se isso não fosse alheio ao nosso propósito."

Regras de Vida


De manhã, antes de vestir-se, acenda incenso e medite.
Coma a intervalos regulares e deite-se a uma hora regular.
Coma sempre com moderação e nunca até ficar plenamente satisfeito.
Receba as suas visitas com a mesma atitude que tem quando está só.
E, quando só, mantenha a mesma atitude que tem quando recebe visitas.
Preste atenção ao que diz e, o que quer que diga, pratique-o.
Quando uma oportunidade chegar, não a deixe passar,mas pense sempre duas vezes antes de agir.
Não se deixe perturbar pelo passado. Olhe para o futuro.
A sua atitude deve ser a de um herói sem medo,mas o coração deve ser como o de uma criança, cheio de amor.
Ao retirar-se, ao fim do dia, durma como se tivesse entrado no seu último sono.
E, ao acordar, deixe a cama para trás, instantaneamente, como se tivesse deitado fora um par de sapatos velhos.

Soyen Shaku ( 1859-1919), mestre do Zen-budismo japonês.


Pudéssemos nós viver segundo estas regras de vida e, então, seria a felicidade!...

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Fotografia, boa e má...

Barco na Ria de Aveiro (foto de Manuel Ribeiro)


Olhando ao longe

Fazer uma boa fotografia é para mim uma miragem. Gostar, gosto. Vontade de aprender, tenho. Mas falta-me jeito e a técnica. Quero iniciar-me no digital, mas como se prova os resultados não são animadores. Talvez um dia publique alguma coisa de interesse, quem sabe?...

Enquanto isso, delicio-me com as fotografias de outros. Descobri um site muito bom que partilho convosco:http://www.olhares.com/.

Muro de Berlim

John Kennedy junto ao Muro


Muro de Berlim

Queda do Muro de Berlim, um acontecimento que todos os meios de comunicação assinalam. Uma data que registo, porque o tempo corre veloz e a memória dos homens é curta. Diga-se que o alcance dessa barreira física foi muito para além da divisão da cidade e dos seus moradores, representou um "muro ideológico" mundial.

Por isso, o Muro de Berlim marcou todas as gerações de alemães e não só. Lembre-se o impacto da declaração emocionada de John Kennedy: "Eu sou um berlinense" em 1963 aquando da sua primeira visita à Alemanha. Foi o despertar das consciências para a situação do Mundo em confronto ideológico, desse tempo das superpotências em guerra fria que se afrontavam em conflitos e guerras em pontos estratégicos do Globo...

A hora de mudança soou em 1989. Para trás ficaram muitas mortes, sofrimento e esforço daqueles que nunca desistiram de acreditar. E foram muitos. Daí a alegria desse dia 9 de Novembro em Berlim, derrubando o Muro...num sentimento feito de raiva e de esperança em dias melhores!

Dava (dá ) gosto ver (ou rever) o entusiasmo dos manifestantes naquela noite...

sábado, 7 de novembro de 2009

Tecnologia e Religião


Nada parece escapar à influência das novas tecnologias. A imagem do muezin que, do varandim do minarete, apela à oração é hoje um caso raro. Uma poderosa instalação sonora substitui a tradição e ninguém parece estranhar.

Também os católicos não ficam alheios a esta onda de modernidade. Ouvir o repicar dos sinos nem sempre significa a existência dos mesmos, especialmente nas igrejas mais recentes.
Mas os recursos tecnológicos não param aqui. Um simples toque de telemóvel pode accionar um sino distante como acontece numa aldeia próxima de Teruel em Espanha. À falta de sacristão ou de quem o substitua, o pároco dá um toque no telemóvel e os sinos tocam, chamando para a Missa. E, meia hora depois, o padre chega à igreja, onde os fiéis o esperam...

Timor-Leste

As possessões portuguezas na Oceania (1867)

"Este livro de autoria de Affonso de Castro, um capitão de infantaria do Exército Português que serviu como governador de Timor-Leste (actualmente Timor-Leste) no período de 1859 a 1863, é um dos primeiros estudos históricos desta antiga colónia Portuguesa. A obra é dividida em duas partes. A primeira parte examina a história de Timor Leste desde sua ocupação pelos portugueses no século XVI, e relata a conversão da rainha Mena ao Cristianismo e as disputas com os Holandeses na região. Na segunda parte do estudo, o autor examina as condições económicas, físicas e administrativas da colónia, incluindo a questão da fronteira, que foi resolvida por um tratado entre os Portugueses e os Holandeses em 1860, dividindo a ilha em duas metades."

Espreitar o site da Biblioteca Digital Mundial, satisfaz a nossa curiosidade até aos limites das obras já editadas. Desta vez, Timor-Leste e um pouco da sua História na segunda metade do século XIX.

Na época, conhecida como Regeneração, a política portuguesa confrontava os seus interesses coloniais com outros Estados, uma disputa pela hegemonia em África e no Oriente. Para Timor acordava-se, em 1860, a partilha entre holandeses e portugueses.

Lição de Esgrima

Johann Gottfried Schadow (1764-1850)
"Esta caricatura original, em pena-e-aguarela, mostra um pequenino e saltitante Napoleão lutando com um forte e dominador Gerhard Leberecht von Blücher, enquanto que um marinheiro britânico julga a disputa. Os participantes do duelo são apoiados por torcedores: a facção de Napoleão inclui generais franceses, enquanto que a de von Blücher inclui camponeses alemães e um cossaco russo. A caricatura satiriza as condições políticas da época. Após a retirada de Napoleão da Rússia, os estados germânicos, liderados pela Prússia, retomaram as guerras contra Napoleão. Na época em que a caricatura foi feita, incursões prussianas eram a principal ameaça à França e von Blücher era o marechal-de-campo que pressionou o exército prussiano a entrar na própria França. A obra é do artista prussiano Johann Gottfried Schadow (1764-1850). Embora mais conhecido como escultor, Schadow desenhou muitas caricaturas políticas durante a guerra. A aguarela é da Colecção Militar Anne S.K. Brown, na Biblioteca Universitária Brown, a principal colecção americana dedicada à história e à iconografia de soldados e da vida militar, e uma das maiores colecções mundiais dedicadas ao estudo de uniformes militares e navais."


A caricatura, vista como obra de arte ou apenas como ilustração de uma época, revela bem o sentir de um momento. Sabemos como o humor, parodiando uma figura ou uma situação, alivia tensões e acalma...
E quando o presente nada tem de aliciante, procura-se refúgio no passado. Aqui, a época de Napoleão que tanto sofrimento e destruição espalhou pela Europa.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Rainha D. Amélia, recortes biográficos




Tomei a decisão de reproduzir este vídeo que me foi enviado por uma amiga. Para que não se apague a memória da Rainha D. Amélia...

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Revisitando a pintura holandesa

Pieter de Hooch

Representação da prosperidade na Holanda, em meados século XVII. Distinção e bom gosto na decoração da casa de uma família abastada que, posando para o retrato, revela os valores da burguesia do tempo. Sentados, os cavalheiros dispõem-se para tomar uma bebida que a anfitriã prepara. Atrás, a criada observa discretamente a cena.

Composição harmonicamente distribuída em planos que obedece com rigor ao "modelo". A preocupação pelo pormenor, a riqueza cromática e bom domínio na utilização da luz explicam o apreço pela pintura holandesa.

El sombrero de tres picos

Diz o povo que as conversas são como as cerejas ...e assim aconteceu hoje. Ainda a propósito do centenário dos Ballets Russes de Serge Diaghilev (1872-1929), ocorre-me uma série de personalidades ligadas à música, ballet, coreografia e pintura...e assim, percorrendo esse mundo das artes, chego até Manuel de Falla(1876-1946). Músico espanhol de uma geração marcada por Diaghilev.


segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Gripe, vacinação e prioridades...



Escolhi como notícia do dia: a prioridade dos funcionários dos partidos políticos na primeira fase de vacinação. Será uma decisão consensual?

domingo, 1 de novembro de 2009

Na Natureza nada se perde...

Na Natureza nada se perde, tudo se transforma... e o engenho humano pode ajudar no processo. Assim acontece com o lixo dos cemitérios quando as flores murchas cedem lugar a ramos floridos e vistosos. A partir da reportagem da RTP, fica-se a saber como é.

Trata-se de um projecto iniciado em 2004 e que envolve já 90 cemitérios do Grande Porto. Em datas-pico, como a de Finados, acumulam-se muitas toneladas de flores que entram na produção de um composto orgânico. Este fertilizante de grande procura é, em parte, canalizado para pomares e para as vinhas da região do Douro. E, ainda como que a a fechar o ciclo da Natureza, muito dele cumpre a sua função em jardinagem...

Por estes dias calcula-se que o principal cemitério de Gondomar produza de 8 a 11 toneladas de resíduos verdes, já devidamente separados. Comprova-se assim que os bons hábitos começam a multiplicar-se. Oxalá o exemplo sirva a outras unidades do País!

Dia de Todos os Santos




"Cuidamos que o céu, onde subiram os santos, está muito longe, e enganamo-nos: o céu não está longe, senão muito perto, e mais ainda que perto, porque está dentro de nós, e dentro do que está mais dentro, que é o coração. E que haja almas, e tantas almas, que tendo o céu dentro de si na vida, fiquem fora do céu na morte, e que podendo tão facilmente purificar o coração e ser santas, só porque não querem o não sejam? Se para amar a Deus e ganhar o céu houvéramos de atravessar os mares tormentosos e contrastar com todos os elementos, pouco era que se fizesse pela bem-aventurança certa do céu o que tantos fazem por tão pequenos interesses da terra; mas, tendo-nos Cristo tão facilitada a bem-aventurança, que entre a mesma bem-aventurança e o coração não haja mais que a condição de ser limpo: Beati mundo corde, e, podendo o mesmo coração alcançar essa limpeza em um instante de tempo e com um ato de amor, e de amor ao sumo bem, que não sejamos todos santos, e não queiramos ser bem-aventurados? "

Padre António Vieira, Sermão de Todos os Santos

Em Dia de Todos os Santos, por que não ouvir Benjamin Britten e o Padre António Vieira? Obras tão diferentes no tempo, mas nunca contrárias em espírito.