sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Josefa de Óbidos

Menino Jesus Salvador do Mundo, 1673, Igreja Matriz, Cascais.

Filha de pai português e de mãe sevilhana, Baltazar Gomes Figueira e D. Catarina d´Ayala e Cabrera, Josefa nasceu na cidade-natal de sua mãe. Cedo veio para Portugal, onde cresceu e exerceu o seu mester. Fixou-se na terra que a posteridade haveria de associar ao seu nome: Josefa de Óbidos (1630-1684) que continua como garante do património da sua localidade de adopção.

A segunda metade do século XVII em Portugal saldou-se por um reduzido número de pintores, facto que mais contribuiu para dar fama a um caso raro de mulher-artista. Óbidos e muitas outras igrejas e museus do País guardam muitas das suas obras de temática religiosa e não só. Bem conhecidas são as naturezas mortas em telas coloridas de expressão naturalista misturadas com grinaldas de flores à maneira barroca. Produção artística multifacetada que, reflectindo a mentalidade de uma época, recebeu também a influência do espaço de vida de Josefa. É o que pode subentender-se das palavras de Vítor Serrão.


"Encafuada nas muralhas medievais da vila de Óbidos, ora meditando ao sopro marinho da Várzea obidense e à calma do planalto da sua Quinta da Capeleira, esta mulher pintora deleitou-se nos efeitos lumínicos e na plasticididade naturalista da observação directa, sem outra escola de base do que a ditada pelos seus talentos multiformes; devia ser pessoa de hábitos solitários e de sincera alma mística, com uma existência pautada por certa banalidade bucólica de usos e costumes - lembremos que designava as suas vacas do Casal da Capeleira por carinhosos epítetos: a Galante, a Cereja, a Formosa -, limitando as suas deslocações ao aro de Peniche, do Bombarral e das Caldas, ou mais excepcionalmente, à zona de Alcobaça, Coimbra e Buçaco, onde trabalhou, e é neste quadro provinciano que encontramos as raízes da sua arte, por vezes enternecedora e saborosa, com todos os defeitos e potencialidades."
Vítor Serrão, O Essencial sobre Josefa de Óbidos

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