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Rock in Rio, que ontem começou em Lisboa, despertou-me para a década de 1950, o tempo da minha Instrução Primária e Liceu.
Começava a afirmar-se o rock, mas ainda assim que contraste com as imagens transmitidas pela Sic! Em todo o caso, escolhi a excepção: dois ícones dessa época, ambos marcados pela rebeldia e angústia que, depois, haveria de generalizar-se...
Estava-se ainda longe das grandes manifestações musicais como as do Parque da Bela Vista ou da Zambujeira. Então, os ídolos da música internacional chegavam a Portugal através do cinema, da rádio e, mais tarde, da televisão. Os espectáculos musicais, como então se dizia, escasseavam e, se aconteciam ficavam vedados à maioria das bolsas. O estudante com um orçamento baixo não podia lá chegar e, por outro lado, reduzido era também o número de estudantes!
Os comportamentos e atitudes traduziam o quadro sócio-económico do País, que contava uma classe média reduzida. E assim entre o atraso económico e a a resistência à mudança de mentalidades, a vida prosseguia sem grandes sobressaltos. Nas classes mais pobres os jovens entravam cedo no mercado de trabalho. E de maneira geral, fazia-se depender o casamento da existência de uma pequena poupança, o suficiente para montar casa. Era assim no campo e na cidade, porque "quem casa, quer casa", naturalmente, casa alugada.
De maior disponibilidade dispunha a juventude da alta burguesia. No entanto, tal não significava necessariamente esbanjamento. A sobriedade no estilo de vida constituía a norma geral, fosse pela educação inculcada no seio familiar, fosse pelos valores propagandeados pelo regime.
De modo geral, a juventude seguia os padrões conservadores, onde a educação e o respeito pelas instituições eram regra. Conservadorismo que se manifestava em todos os aspectos da vida social, a começar pela maneira de vestir: feminilidade e glamour da moda feminina que casava bem com o fato e gravata dos rapazes, um traje que, só raramente, trocavam pelo casual de camisa e pull-over. As saias compridas não conheciam a alternativa dos jeans e, na praia, usava-se fato de banho completo.
Do estrangeiro sopravam sinais de modernidade que causavam algum frisson, mas sem consequências. Os jovens de boas famílias assumiam o peso do nome e dos princípios de seus avós. As jovens de famílias ricas, em Portugal, seguiam um modelo que visava a preparação de boas esposas e boas mães e, por isso, o seu diploma académico não passava do 2º ano do Liceu. Embora continuassem a estudar, só frequentavam as aulas de cultura geral: línguas, história, geografia, pintura, piano e aquelas "prendas" de uma boa dona de casa (lavores e culinária). Para elas não havia exames!
Esses hábitos padronizados da alta burguesia coadunavam-se com a mentalidade retrógrada desse tempo; uma veleidade que, mais tarde, veio a ser paga por elas, esposas e mães, que não tinham sido preparadas para trabalhar.
E que dizer do casamento? Também aí vingava o conservadorismo, sendo a escolha limitada a um número reduzido de famílias. Casamento de conveniência havia muitos nessa época, preservando a junção de heranças: terras, negócios e carreiras. No entanto, a regra começava a quebrar-se, multiplicando-se as excepções de livre escolha...