sábado, 14 de junho de 2008

Pina Martins




Os livros vão sempre ao encontro de quem os ama, assim justificava o Professor Pina Martins o valioso acervo da sua Biblioteca. Livros preciosos e raros, reunidos ao longo da vida, e que ele muito amava. Tinha-os por perto, num andar do prédio onde morava, e para aí subia diariamente para os admirar e estudar.
Aí, o Professor transfigurava-se, tal como se fosse um humanista do Renascimento. Tocava os livros com delicadeza, acariciava-lhes a lombada e relia excertos... Cena comovente quando visitei, com outros colegas em 1990, esse espaço na Avenida Marquês de Fronteira...
Para cada livro havia uma história recheada de pormenores, fosse quanto ao modo de aquisição, fosse a respeito do conteúdo da obra e do autor ou do editor. A erudição do Professor Pina Martins esmagava-nos, dada a subvalorização dos estudos humanísticos.
Um artigo do Expresso, de ontem, refere a aquisição da Biblioteca pelo BES, por 800 mil euros, um preço inferior ao seu real valor, mas que servirá para custear as despesas de saúde do Professor. Desta vez, segurou-se um património que se temia ir parar algures, ao estrangeiro.
O Professor Pina Martins marcou uma geração de alunos da FLL nos anos 60. Assistente do Padre Manuel Antunes, leccionava as práticas de História da Cultura Clássica. Esmagava-nos com as edições dos clássicos e, muitos alunos chamavam-lhe "O Incunábulo".
Pessoalmente, tive ainda duas outras cadeiras com o Professor: História da Civilização Grega (cadeira semestral) e História da Cultura Portuguesa.
Dessas aulas práticas, recordo a análise dos Poemas Homéricos, particularmente a Ilíada. Aos 18 anos, mal podíamos apreciar a emoção com que o Professor discorria acerca de Aquiles, "dos pés ligeiros", ou do périplo de Ulisses. Mas gostávamos das aulas que tentávamos acompanhar com o apoio de uma reduzida bibliografia em português. Retenho Os Gregos, de Kitto, obra (que releio sempre com prazer) essencial para a compreensão dos Poemas. Já em Cultura Portuguesa lembro a análise de Camões e da obra de Sá de Miranda, tema em que o Professor dominava com mestria.
Simples registo do tempo em que fui aluna do Professor, o qual hei-de sempre recordar!

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