quarta-feira, 29 de junho de 2011
Em Barcelona, Eliane afugenta os carteiristas
"Um galo sozinho não tece uma manhã..."
"Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos."
João Cabral de Melo Neto
Sempre o Poeta para exprimir o que comum dos homens não sabe...
terça-feira, 28 de junho de 2011
Sinais do Governo de Passos Coelho
"Bernardo Bairrão foi convidado por Miguel Macedo para ser seu secretário de Estado da Administração Interna e, depois do primeiro-ministro ter vetado o seu nome, viu o convite anulado. Aconteceu em pouco menos de 48 horas...
O até agora administrador delegado da TVI renunciou ontem de manhã oficialmente ao cargo através de um comunicado enviado pela Media Capital à CMVM, depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter dado como certa, no domingo à noite na TVI, a sua integração no Governo. Em vão. Pedro Passos Coelho só mais tarde terá tido conhecimento das duras críticas que Bairrão fez no fim-de-semana à privatização da RTP por ser "absolutamente contra a privatização de um canal de televisão neste momento"- uma das primeiras medidas que o primeiro-ministro anunciou, numa entrevista ao Financial Times.
A privatização de um dos canais públicos tem sido um ponto de discordância entre PSD e CDS, mas Pedro Passos Coelho tem feito desta sua decisão, sufragada nas urnas, um ponto de honra. Ontem, no final do ‘briefing' do Conselho de Ministros, Miguel Macedo recusou responder a qualquer questão relacionada com Bernardo Bairrão sendo certo que a forma como o até ontem administrador da TVI participou no afastamento da jornalista Manuela Moura Guedes também não foi esquecido no momento em que o chefe de Governo decidiu deixar cair o convite feito pelo ministro da Administração Interna."
In Diário Económico on line
Salvador Caetano
domingo, 26 de junho de 2011
Viver na Terra...
"Viver na Terra é caro, mas o preço inclui uma viagem grátis em redor do Sol cada ano."
Guy de Maupassant (1850-1893).
Repetem-se as notícias das agências financeiras. À penalização dos juros do Estado corresponde o anúncio das medidas de contenção. Evasão precisa-se, sendo o melhor remédio utilizar o bom humor. Guy Maupassant parece confirmar esta necessidade de viver, sorrindo. Ou seja, dar a volta às coisas...
Maria Amália, rainha de Espanha
sábado, 25 de junho de 2011
Recordando Vinicius...
Nesta tarde quente de Verão, um regresso ao passado na poesia de Vinicius de Moraes.
Afinal o Governo não poupou nada ao Estado!
Uma notícia desmentida. Ficamos à espera de outras poupanças!
quinta-feira, 23 de junho de 2011
O Alentejano retrata-se...
É, assim, a modos que atravessado.
Nem é bem branco, nem preto, nem castanho, nem amarelo, nem vermelho....
E também não é bem judeu, nem bem cigano.
Como é que hei-de explicar?
É uma mistura disto tudo com uma pinga de azeite e uma côdea de pão.
Dos amarelos, herdámos a filosofia oriental, a paciência de chinês e aquela paz interior do tipo "não há nada que me chateie";
dos pretos, o gosto pela savana e pelos prazeres da vida;
dos judeus, o humor cáustico e refinado e as anedotas curtas e autobiográficas;
dos árabes, a pele curtida pelo sol do deserto e esse jeito especial de nos escarrancharmos nos camelos;
dos ciganos, a esperteza de enganar os outros, convencendo-os de que são eles que nos estão a enganar a nós;
dos brancos, o olhar intelectual de carneiro mal morto;
e dos vermelhos, essa grande maluqueira de sermos todos iguais.
O alentejano, como se vê, mais do que uma raça pura, é uma raça apurada.
Ou melhor, uma caldeirada feita com os melhores ingredientes de cada uma das raças.
Não é fácil fazer um alentejano.
Por isso, há tão poucos.
É certo que os judeus são o povo eleito de Deus.
Mas os alentejanos têm uma enorme vantagem sobre os judeus:
nunca foram eleitos por ninguém, o que é o melhor certificado da sua qualidade.
Conhecem, por acaso, alguém que preste que já tenha sido eleito para alguma coisa?
Até o próprio Milton Friedman reconhece isso quando afirma que
«as qualidades necessárias para ser eleito são quase sempre o contrário das que se exigem para bem governar».
E já imaginaram o que seria o mundo governado por um alentejano?
Era um descanso..."
quarta-feira, 22 de junho de 2011
De Angola...uma história de vida
Desde segunda-feira que não me sai da cabeça uma história de guerra passada há cinquenta anos. Em Mucaba, depois de uma operação militar com a UPA, foi encontrado um menino de cerca de três anos, ferido e amedrontado ao lado do cadáver do pai. Levado para um orfanato em Luanda, distinguia-se de todos os outros pelo olhar vivo e pela singularidade de um gesto repetido. De braços levantados, gritava "viva Portugal!".
O futuro daquela criança havia de mudar com a visita do Ministro do Ultramar a Angola. Conhecendo o desejo do Dr. Almerindo Lessa em adoptar um orfão de guerra, o Professor Adriano Moreira decidiu-se pelo "menino de Mucaba" que voou para Lisboa acompanhado por uma enfermeira paraquedista. Pareceu consenual o nome a dar-lhe: João Mucaba Lessa. João para homenagear o rei restaurador ( D. João IV) e derivados da localidade de origem e da família adoptiva, os apelidos.
João cresceu rodeado de carinho e de bem-estar num ambiente familiar que sempre o poupou às memórias pesadas da guerra. Estudante de medicina, o menino seguiu as pisadas do pai adoptivo e trabalha hoje no Serviço de Sangue do Hospital de S. José em Lisboa. Tendo usufruído de um bom nível de vida, casado e pai de dois filhos, o dr. João dispõe de todas as condições para ser feliz. Tal não acontece, porque no seu espírito pairou sempre uma nuvem de tristeza inexplicável que, não raras vezes, se transformava em pesadelo nocturno. Valeu-lhe o apoio da família e, especialmente, da mulher. Nunca esquecidos, os traumas de guerra parecem começar a ser ultrapassados depois de um encontro casual com uma tia em Lisboa.
Finalmente, chegou o momento de conhecer pessoalmente os irmãos e parentes, visitar o espaço onde nasceu e viveu os primeiros anos. A reportagem da TVI acompanhou também essa visita. A emoção do homem, que ainda mantém as lembrança dos lugares da primeira infância, com os familiares é indescritível. Dir-se-á que a viagem a Angola configura a catarse de uma vida. Hoje, o dr. João é angolano por fora, mas português por educação e formação. Como ele próprio explicou: aqui está a sua família, a sua mulher e filhos, a sua irmã (também ela adoptada pelo casal Lessa), o seu trabalho. Aqui trabalha e aqui acabará os seus dias, embora sem renegar as origens angolanas...
Esta história de vida, que mais parece ficção, remete-nos para a responsabilidade da educação e dos traumas que, desde a mais tenra idade, marcam a personalidade. Afinal, isso representa uma lição a tomar por todos.
Nota - A reportagem da TVI pode ser vista na Internet. Passou no dia 20 de Junho no Jornal das 20 horas, na parte final da segunda parte. A não perder...
terça-feira, 21 de junho de 2011
Veni Creator!
O canto gregoriano para ouvir neste primeiro dia de Verão. Ou como a música nos transporta às portas do Paraíso...
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Cuidado com as crianças!
Repetem-se os acidentes com crianças. Descuidos dos familiares e dos adultos que esquecem a natural traquinice e curiosidade infantil. Comprova-o este vídeo. Felizmente, passados momentos de grande aflição, a criança saíu ilesa...
O Tempo entre Costuras
terça-feira, 14 de junho de 2011
Teixeira dos Santos e o novo Governo
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Procissão...
O tempo de santos populares remete também para a procissão. António Lopes Ribeiro evocou essa manifestação de fé popular que João Villaret soube interpretar de forma admirável. Os mais velhos gostam de recordar, enquanto os mais novos...não sei!
Fernando Pessoa e Santo António
Treze de Junho, quente de alegria,
Citadino, bucólico e humano,
Onde até esses cravos de papel
Que têm uma bandeira em pé quebrado
Sabem rir...
Santo dia profano
Cuja luz sabe a mel
Sobre o chão de bom vinho derramado!
Santo António, és portanto
O meu santo,
Se bem que nunca me pegasses
Teu franciscano sentir,
Católico, apostólico e romano.
(Reflecti.
Os cravos de papel creio que são
Mais propriamente, aqui,
Do dia de S. João...
Mas não vou escangalhar o que escrevi.
Que tem um poeta com a precisão?)
Adiante ... Ia eu dizendo, Santo António,
Que tu és o meu santo sem o ser.
Por isso o és a valer,
Que é essa a santidade boa,
A que fugiu deveras ao demónio.
És o santo das raparigas,
És o santo de Lisboa,
És o santo do povo.
Tens uma auréola de cantigas,
E então
Quanto ao teu coração —
Está sempre aberto lá o vinho novo.
Dizem que foste um pregador insigne,
Um austero, mas de alma ardente e ansiosa,
Etcetera...
Mas qual de nós vai tomar isso à letra?
Que de hoje em diante quem o diz se digne
Deixar de dizer isso ou qualquer outra coisa.
Qual santo! Olham a árvore a olho nu
E não a vêem, de olhar só os ramos.
Chama-se a isto ser doutor
Ou investigador.
Qual Santo António! Tu és tu.
Tu és tu como nós te figuramos.
Valem mais que os sermões que deveras pregaste
As bilhas que talvez não concertaste.
Mais que a tua longínqua santidade
Que até já o Diabo perdoou,
Mais que o que houvesse, se houve, de verdade
No que — aos peixes ou não — a tua voz pregou,
Vale este sol das gerações antigas
Que acorda em nós ainda as semelhanças
Com quando a vida era só vida e instinto,
As cantigas,
Os rapazes e as raparigas,
As danças
E o vinho tinto.
Nós somos todos quem nos faz a história.
Nós somos todos quem nos quer o povo.
O verdadeiro título de glória,
Que nada em nossa vida dá ou traz
É haver sido tais quando aqui andámos,
Bons, justos, naturais em singeleza, Que os descendentes dos que nós amámos
Nos promovem a outros, como faz
Com a imaginação que há na certeza,
O amante a quem ama,
E o faz um velho amante sempre novo.
Assim o povo fez contigo
Nunca foi teu devoto: é teu amigo,
Ó eterno rapaz.
(Qual santo nem santeza!
Deita-te noutra cama!)
Santos, bem santos, nunca têm beleza.
Deus fez de ti um santo ou foi o Papa? ...
Tira lá essa capa!
Deus fez-te santo! O Diabo, que é mais rico
Em fantasia, promoveu-te a manjerico.
És o que és para nós. O que tu foste
Em tua vida real, por mal ou bem,
Que coisas, ou não coisas se te devem
Com isso a estéril multidão arraste
Na nora de uns burros que puxam, quando escrevem,
Essa prolixa nulidade, a que se chama história,
Que foste tu, ou foi alguém,
Só Deus o sabe, e mais ninguém.
És pois quem nós queremos, és tal qual
O teu retrato, como está aqui,
Neste bilhete postal.
E parece-me até que já te vi.
És este, e este és tu, e o povo é teu —
O povo que não sabe onde é o céu,
E nesta hora em que vai alta a lua
Num plácido e legítimo recorte,
Atira risos naturais à morte,
E cheio de um prazer que mal é seu,
Em canteiros que andam enche a rua.
Sê sempre assim, nosso pagão encanto,
Sê sempre assim!
Deixa lá Roma entregue à intriga e ao latim,
Esquece a doutrina e os sermões.
De mal, nem tu nem nós merecíamos tanto.
Foste Fernando de Bulhões,
Foste Frei António —
Isso sim.
Porque demónio
É que foram pregar contigo em santo?
Que viva Santo António!
Desta vez, venceu o Alto do Pina. Esta marcha alegre e "brilhante" iluminou a rua de Lisboa e os espectadores que, em todo o mundo, puderam assistir ao tradicional desfile na Avenida.
Gostei das marchas e do espectáculos coreográfico onde nunca faltam as crianças. É de pequenino que se torce o pepino ( mas que mania de chamar o pepino para tudo!!), daí a precocidade desta "educação bairrista". Responsabilidade de pais, avós e padrinhos como os mais jovens marchantes confessaram...
Gostei da alegria que transparecia nos rostos dos participantes no desfile e da resistência e boa disposição dos espectadores que marcaram lugar desde o meio da tarde. Música, luz e cor na Avenida: ambiente de festa sentida ou um último respiro para suportar o que aí vem? Se calhar estas imagens encheram de espanto os senhores das agências financeiras internacionais que logo trataram de carregar nas taxas de juro da dívida portuguesa. E só inveja e maldade, digo eu. Enquanto houver lisboetas não acaba a festa de Santo António. Compreendam isso, senhores, é só um dia por ano!!!
domingo, 5 de junho de 2011
O que será?
Dois grandes da música brasileira de outrora: Chico Buarque e Milton Nascimento. Quase esquecidos, mas sempre haverá quem os recorde.
Acabou-se! Valha-me o Jacarandá...
sábado, 4 de junho de 2011
Pegadas na Areia,um poema popular
Eduardo Souto Moura recebe o Prémio Pulitzer
"Barack Obama elogiou o arquiteto português e destacou o Estádio de Braga, "a obra mais famosa" de Souto Moura. Segundo o líder norte-americano, o arquiteto "teve grande cuidado para posicionar o estádio de maneira a que quem não possa ter bilhete pudesse ver o jogo dos montes circundantes"."O estádio em Braga expressa uma harmoniosa combinação de forma e função, de arte e acessibilidade", continuou Obama, que comparou até Souto Moura ao antigo presidente dos EUA, Thomas Jefferson. "Como Jefferson, Souto de Moura passou a sua carreira não apenas a redefinir as fronteiras da sua arte, mas a fazê-lo de maneira que serve o bem público", comentou o presidente dos EUA na cerimónia de entrega do 'Óscar da arquitetura'. "
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Dia da Criança
O Menino de Sua Mãe
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado,
- Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe
Fernando Pessoa