sexta-feira, 25 de julho de 2008

Siracusa, Orecchio di Dionisio


Das cidades e dos lugares guardam-se muitas memórias: os espaços e as suas gentes, novos conhecimentos de História e, mais importante do que isso, os companheiros de viagem.
Hoje recordo com particular saudade a Margarida que, infelizmente já não está entre nós. Partilhei da sua companhia, tal como a de outros amigos, na última visita a Itália. De entre todos, era a mais entusiasta e revejo-a atenta, de guia na mão, procurando cada recanto e pormenor da Roma imperial...

A Itália será sempre o sonho de qualquer viajante. E assim não será de estranhar a determinação posta em cada viagem. Quando pisei terra em Fiumicino, pela primeira vez, fiquei, literalmente, paralisada; sorrindo, ouvia deliciada os bagageiros, falando uma língua que sempre me encantou pela musicalidade.
Era Setembro de 1978 e, por casualidade, pudemos assistir, na Praça de S. Pedro, à entronização de João Paulo I, o "Papa do sorriso". Inesquecível cerimónia religiosa, onde senti verdadeiramente o espírito do ecumenismo cristão!
A par e passo, andámos pelos sítios essenciais da civilização Romana e do Renascimento. No Vaticano vimos "tudo" o que pudemos, concluindo que devíamos repetir, muitas e muitas vezes, este itinerário. E por isso, lançámos, como todo o turista que se preza, uma pequena moeda na Fontana de Trevi...

Para contar tudo em poucas palavras, digamos que passámos duas semanas de comboio, carregando malas, entre Roma, Florença, Nápoles e Catânia. Um sacrifício compensador.

A última etapa entre Nápoles e Catânia, passando o Estreito de Messina no ferry-boat. Perseguíamos a rota da Magna Grécia, visitando apenas Catânia e Siracusa.
Além dos monumentos característicos da pólis grega, cada uma destas cidades possui a sua especificidade. Pela proximidade do Etna, Catânia mantém o seu destino ligado à história deste vulcão, mas a Cidade requer uma visita mais demorada às construções barrocas e neoclássicas. Destaque para o Teatro da Ópera de Bellini, cujo nome assinala o compositor nascido na cidade (1801). Registe-se também o Palácio Manganelli, onde Visconti filmou O Leopardo, de Tomasi di Lampedusa.

De Siracusa deve dizer-se que a sua excelente localização foi a causa de constantes cobiças e disputas. Terra de conflitualidade e guerra, desde os combates entre gregos até ao tempo dos cartagineses... e, mais recentemente, durante a II Guerra Mundial.
Apesar de limitada, a estadia em Siracusa deixou-me saudades. Recordo o Orecchio di Dionisio, uma gruta artificial (65 m de profundidade, 6-11m de largura e 23 de altura) que, durante a época grega, teria sido utilizada como prisão. A lenda atribui a Dionísio a construção da gruta que, possuindo uma excelente acústica, permitia o total controlo dos presos. No entanto, a história parece ser outra. Orecchio foi o nome atribuído, em 1608, por Caravaggio, pela semelhança física. E daí ao tirano Dionísio, nada mais que um pequeno passo...
Resta-me falar do povo siciliano. simples e simpático, mas nada entendendo de Português. Para eles, nós éramos malteses ou italianos do Norte. Confesso, no entanto, que uma amiga minha muito deve ter contribuído para agravar tal confusão. Então, ela falava italiano, talvez não muito perfeito, mas tão depressa e com algumas "graças" que as pobres mulheres não se atreviam a duvidar do seu escorreito linguajar!
Atenção, hoje, não seria nada assim! A Guida frequenta o Instituto Italiano e teve a melhor nota no exame! E será uma excelente guia numa futura viagem a Itália!

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