A autoflagelação dos portugueses é por demais conhecida. A crítica supera de longe as atitudes positivas e de valorização daquilo em que somos bons. Assim sendo, nada melhor que recorrer à apreciação objectiva de estrangeiros.
Para contrariar o nosso estado depressivo, deixo alguns extractos do artigo de Alex Ellis, institulado Coisas que nunca deverão mudar em Portugal.Publicado no Expresso de sábado, o Embaixador britânico opina sobre Portugal: retrato favorável, onde transparece a diplomacia ( noblesse oblige)com um toque irónico. Compreende-se e aceita-se a simpatia, agora que está de regresso ao seu país...
"1. A ligação intergeracional. Portugal é um país onde os jovens e os velhos conversam - normalmente dentro do contexto familiar. O estatuto de avô é altíssimo na sociedade portuguesa - e ainda bem. Os portugueses respeitam a primeira a terceira idade para benefício de todos.
2. O lugar central da comida na vida diária. O almoço conta - não uma sandes comida à presssa e mal digerida, mas uma sopa , um prato quente etc, tudo comido à mesa e em companhia. (...)
3. A variedade da paisagem. Não conheço outro país onde seja possível ver tanta coisa num só dia, desde a imponência do Douro até à beleza das planícies do Alentejo, passando pelos planaltos e pela serra da Beira.
4. A tolerância. Nunca vivi num país que aceita tão bem os estrangeiros. Não é por acaso que Portugal é considerado um dos países mais abertos ao emigrantes pelo estudo internacional MIPEX.
5. O café e os cafés. Os lugares são simples. acolhedores e agradáveis; a bebida é um prazer diário, especialmente quando acompanhado por um pastel de nata quente.
6. A inocência. É difícil descrever esta ideia em poucas palavras sem parecer paternalista; mas vi meu primeiro fim de semana em Portugal, numa festa popular em Vila Real, adolescentes a a dançar danças tradicionais com uma alegria e abertura que têm, na sua raiz, uma certa inocência.
7. Um profundo espírito de independência. Olhando par ao mapa Ibérico parece estranho que Portugal continue a ser um país independente. Mas é e não é por acaso. No fundo de cada português há um espírito profundamente autónomo e independentista.
8. As mulheres. O adido de Defesa na Embaixada há 15 anos deu-me um conselho: " Jovem se quiser uma coisa para ser mesmo bem feita neste país, dê a tarefa a uma mulher. "Concordei tanto que me casei com uma portuguesa.
9. A curiosidade sobre, e o conhecimento do mundo. A influência de "lá" é evidente cá, na comida, nas artes, nos nomes. (...)
10. Que o dinheiro não é a coisa mais importante no mundo. As coisas boas de Portugal não são caras. Antes pelo contrário; nada melhor do que sair da praia ao fim da tarde e comer um peixe grelhado, acompanhado por um simples copo de vinho."