sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Família Von Trapp


Na sequência da mensagem anterior, a notícia da morte de um membro da família Von Trapp. Agathe, a mais velha dos sete filhos do capitão Von Trapp, faleceu no dia 28 de Dezembro, aos 97 anos.


Deixo o registo, uma vez que tinha revisto há dias o filme. Agathe, que então vivia o encantamento do primeiro amor, fixou-se nos Estados Unidos. Das suas memórias nada sei, mas os jornais dizem que ela se mostrava muito desagradada com a imagem demasiado austera que Sound of Music deu de seu pai...


"Agathe von Trapp, a filha mais velha da família que inspirou o filme "Música no coração", morreu ontem, terça-feira, aos 97 anos, numa clínica nos arredores de Baltimore, nos Estados Unidos.

A notícia foi dada à agência AP por uma amiga de Agathe, a mais velha dos sete filhos do primeiro casamento do oficial austríaco Georg Ritter von Trapp, a família que esteve na base do filme de 1965 "Música no Coração".
Mary Louise Kane viveu 50 anos com Agathe, com a qual dirigiu um jardim de infância na paróquia católica do Sagrado Coração, em Glyndon, Maryland.

"Música no coração" foi realizado por Robert Wise e teve como protagonistas os actores Julie Andrews e Christopher Plummer. Foi galardoado com cinco óscares, entre os quais de melhor filme e melhor realizador.
Filmado em Salzburgo, na Áustria, e na Baviera, na Alemanha, o musical está em 55.º lugar na lista dos melhores filmes norte-americanos do American Film Institute e encontra-se nos arquivos históricos da Biblioteca do Congresso dos EUA."


In Jornal de Notícias, 29 de Dezembro

Sound of Music




Música no Coração, assim se designa este filme ternurento que combina com esta quadra do ano. Revi-o no dia de Natal e, uma vez mais, deliciei-me. Recordei cenas e espaços que, em 1982, tive ocasião de visitar: Salzburg, a mansão, o jardim, o lago e os Alpes...

Feliz Ano Novo!!


Poucas horas e 2010 vai acabar e com ele vão alegrias e tristezas, imprevistos e desilusões. Mas diz o povo que "rei morto, rei posto" e já outro ano prepara a sua entrada. O ritual já começou com mails, sms, telefonemas, amigos e gente anónima com desejos de boas festas. E será impressão minha ou as pessoas parecem mais cordiais nestas manifestações de simpatia?!

Mesmo caindo na banalidade, também quero deixar o meu brinde a 2011. Indispensável o champanhe ou qualquer espumante para viver a meia noite e receber o novo ano na plenitude de todos os sentidos. Olhe a cor do néctar, segure bem a taça, aproxime-a ligeiramente do nariz e aspire o perfume, depois toque-a nas taças dos seus familiares e amigos... tchim-tchim, risos e desejos que acabam num gole!...

A síntese de um momento da vida numa taça de champanhe, seja nesta passagem de ano ou numa qualquer comemoração, porque a felicidade está em ter saúde, paz e alegria. Feliz 2011 para todos!

sábado, 25 de dezembro de 2010

Ode à Paz, Natália Correia


Natal, tempo de amor e fraternidade. E também tempo de paz que se quer na família, na sociedade, no mundo. Daí a lembrança desta Ode à Paz, de Natália Correia. E caso curioso, as palavras lidas soam-me como se ouvisse Natália naquele modo tão especial de sentir a poesia.



Ode à Paz

Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,

Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a Vida!

Natália Correia, in "Inéditos (1985/1990)"

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Adeste Fideles




É sempre com emoção que ouço "Adeste..." neste dia cheio de lembranças...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Marussia

Marussia, o nome não engana, nem a foto. Pois é, a Rússia produz agora este fabuloso carro de luxo. O povo admira-o, sonhando o dia em que há-de experimentar uma destas máquinas de 80 cavalos de potência e uma parafernália de grandes e pequenas modernices. Obstáculo único, o preço!!!

Portugal avaliado

A autoflagelação dos portugueses é por demais conhecida. A crítica supera de longe as atitudes positivas e de valorização daquilo em que somos bons. Assim sendo, nada melhor que recorrer à apreciação objectiva de estrangeiros.
Para contrariar o nosso estado depressivo, deixo alguns extractos do artigo de Alex Ellis, institulado Coisas que nunca deverão mudar em Portugal.Publicado no Expresso de sábado, o Embaixador britânico opina sobre Portugal: retrato favorável, onde transparece a diplomacia ( noblesse oblige)com um toque irónico. Compreende-se e aceita-se a simpatia, agora que está de regresso ao seu país...

"1. A ligação intergeracional. Portugal é um país onde os jovens e os velhos conversam - normalmente dentro do contexto familiar. O estatuto de avô é altíssimo na sociedade portuguesa - e ainda bem. Os portugueses respeitam a primeira a terceira idade para benefício de todos.
2. O lugar central da comida na vida diária. O almoço conta - não uma sandes comida à presssa e mal digerida, mas uma sopa , um prato quente etc, tudo comido à mesa e em companhia. (...)
3. A variedade da paisagem. Não conheço outro país onde seja possível ver tanta coisa num só dia, desde a imponência do Douro até à beleza das planícies do Alentejo, passando pelos planaltos e pela serra da Beira.
4. A tolerância. Nunca vivi num país que aceita tão bem os estrangeiros. Não é por acaso que Portugal é considerado um dos países mais abertos ao emigrantes pelo estudo internacional MIPEX.
5. O café e os cafés. Os lugares são simples. acolhedores e agradáveis; a bebida é um prazer diário, especialmente quando acompanhado por um pastel de nata quente.
6. A inocência. É difícil descrever esta ideia em poucas palavras sem parecer paternalista; mas vi meu primeiro fim de semana em Portugal, numa festa popular em Vila Real, adolescentes a a dançar danças tradicionais com uma alegria e abertura que têm, na sua raiz, uma certa inocência.
7. Um profundo espírito de independência. Olhando par ao mapa Ibérico parece estranho que Portugal continue a ser um país independente. Mas é e não é por acaso. No fundo de cada português há um espírito profundamente autónomo e independentista.
8. As mulheres. O adido de Defesa na Embaixada há 15 anos deu-me um conselho: " Jovem se quiser uma coisa para ser mesmo bem feita neste país, dê a tarefa a uma mulher. "Concordei tanto que me casei com uma portuguesa.
9. A curiosidade sobre, e o conhecimento do mundo. A influência de "lá" é evidente cá, na comida, nas artes, nos nomes. (...)
10. Que o dinheiro não é a coisa mais importante no mundo. As coisas boas de Portugal não são caras. Antes pelo contrário; nada melhor do que sair da praia ao fim da tarde e comer um peixe grelhado, acompanhado por um simples copo de vinho."

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Acontece...adeus a Carlos Pinto Coelho


Ontem a longevidade de Oscar Niemeyer e, horas depois, falo da morte inesperada. Carlos Pinto Coelho partiu. A notícia dada de supetão, pela manhã, deixava-me incrédula. Seria possível? Acontece que o coração não perdoa...

Os limites do corpo não se compadecem com o stress do quotidiano, especialmente se a vida é levada com paixão. Era assim que Carlos Pinto Coelho vivia. Angustiado e preocupado com o mundo à sua volta, não podia calar os erros e injustiças, o que fazia dele uma pessoa incómoda. Sentimento que perpassa na última entrevista à RTP na véspera da sua morte.

Uma nota para a lembrança que ofereceu à RTP, um DVD com a cerimónia da sua condecoração. Mensagem de um legado-memória: o reconhecimento público do mérito da sua carreira na televisão, na rádio, nos jornais e no ensino. E enquanto essa imagem perdurar, CPC não morre...

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Oscar Niemeyer

Neste dia do ano de 1907, no Rio de Janeiro, nasceu Oscar Niemeyer. Expoente da arquitectura internacional do século XX festejou 103 anos de uma vida plena de realização pessoal. Talento e actividade que, apesar das limitações da idade, prossegue com uma vontade inabalável. E ainda bem que assim é, porque os seus admiradores desejam apreciar a concretização dos seus projectos.

Pearl Harbor




7 de Dezembro de 1941, o ataque japonês à base americana de Pearl Harbor no Pacífico. As imagens documentam o acontecimento que origina a intervenção directa do Japão na II Guerra Mundial. Conflito de destruição e mortes, marcado pelo lançamento de duas bombas atómicas, cujas consequências permaneceram para além dos acordos de paz em 1945...

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Acabar, morrer...


Francisco Lacerda, músico açoriano (1869-1934) que merece ser lembrado. Fez a sua formação e carreira em França, mas nunca perdeu o gosto pelas raízes pátrias. A recolha de elementos do folclore da sua terra traduziu-se numa inspirada obra poética e musical. Palavras simples de raiz popular que exprimem sabedoria e sensibilidade.

Uma dessas trovas joga com a ideia de vida e de morte. Possivelmente um pensamento recorrente em alguém de saúde débil, um estado que o impedia de trabalhar. Só que a vida não acaba com a morte do corpo. Veja-se como...


"Quem disser que a vida acaba,
Decerto que nunca amou...
Quem deixou ficar saudades,
Não morreu, nem acabou!"

domingo, 5 de dezembro de 2010

Juanita Banana




Recordando um êxito de décadas...

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Folhas caídas em Novembro...

Novembro, folhas caídas de Outono. Imagens de sombra e frio que precedem o Natal. Repetição de um ciclo de vida que se configura nas estações do ano. Morrer e renascer, porque é assim a Natureza...
Encarnando em Ricado Reis, Fernando Pessoa exprime esses sentimentos...


"Nada fica. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam.

Leis feitas, estátuas vistas, odes findas
— Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, por que não elas?
Somos contos contando contos, nada."

Ricardo Reis

domingo, 21 de novembro de 2010

Noivado do Ano


Notícia atrasada, mas não esquecida. Finalmente, no dia 16 de Novembro o anúncio do noivado de William e Kate. E sendo tão longo o namoro, augura-se um casamento feliz. Eles merecem e todos nós gostamos, afinal não é esse o final próprio das histórias de princesas? Assim aprendemos na infância...

Abstenho-me de comentar o noivado, uma vez que os media hão-de esmiuçar cada pormenor. Porém, não resisti à fotografia do anel de noivado. O mesmo que Carlos ofereceu a Diana. Superstições à parte, pensei que Kate teria desejado um outro anel. Menos valioso, mas que simbolizasse um amor mais verdadeiro...

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Castanhas, maçãs e batatas...














A culpa é das "castanhas quentes e boas" que, por estes dias, chamam por nós. Castanhas e maçãs que outrora representaram a base da alimentação na Península Ibérica e nas Gálias. E tudo isso aconteceu até ao século XIX quando a cultura da batata invadiu a Europa. Explicada assim a associação de produtos diferentes, mas com idêntica funcionalidade...

A mente projecta-nos em várias direcções e, no caso presente, levou-me até aos anos 60, à oral de Antropologia Cultural e ao professor Jorge Dias. Nesse exame que mais parecia uma maieutica socrática, aprendia-se muito, coisas para nunca mais esquecer. Tal é o caso do tubérculo americano, pomme de terre, cujo nome passou a designar uma outra variedade de pomme (maçã).

Mais uma prova da complexidade cerebral. O símbolo do concreto ou como coisas simples sugerem situações e pessoas. Desta vez, a memória viva de um Professor que morreu precocemente. Jorge Dias, personalidade fascinante, que merece ser lembrado.

Adeus, olá!




O Senhor do Adeus, um registo em fado...

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Morreu o Senhor do adeus !

Quando o calendário assinala a festa e o convívio, os media publicam uma notícia triste: a morte de João Serra, o Senhor do adeus durante a noite de S. Martinho. Figura popular de Lisboa que, no Saldanha, acenava, sorrindo... para quem passava de carro.

As origens burguesas transpareciam no porte e no gesto de uma existência que a perda da mãe lançou num isolamento indescritível. A solidão da noite contornava-a, saindo de casa para a Praça do Saldanha, onde "convivia" com os passantes. Partiam dos jovens as manifestações mais esfusiantes e essas buzinadelas, acenos rasgados e gritos deixavam-no feliz. Devo confessar que, da primeira vez, julguei-o mal. Desconhecia a sua história.

Desde então, aquela aparente insanidade passou a significar o drama dos solitários desta cidade...e de todas as vilas e aldeias deste mundo. Gente que busca o jardim, que toma o autocarro até fim da linha e, de imediato, regressa. Gente que trata pelo nome os empregados do supermercado, do café, da farmácia e do banco. Gente que, embora conhecida por "todos no bairro", recebe pouca atenção daqueles com quem entabula conversa. Vagarosos e sem pressa, uns, enquanto outros prosseguem na agitação da corrida diária.

Todavia, o Senhor do adeus conquistou muitos "amigos". Mereceu até as honras de um fado e hoje foram muitos os que, no Saldanha, repetiram o seu gesto. E nessa postura e riso podia-se adivinhar emoção e tristeza...

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Há 21 anos em Berlim...

No dia 9 de Novembro de 1989 começava a queda do Muro de Berlim. A memória da História forçou a mudança: duzentos anos depois da Revolução Francesa e nas vésperas de comemorar o Armistício em 1918. A liberdade triunfava, a esperança reinava...

Efemérides de um tempo por nós vivido. E, hoje, 21 anos depois, que futuro para a Europa?

Worten, compras e empregados


Um desabafo de quem foi às compras. Um aparelho de tv na Worten. Entendo que alguns não gostem da Worten, mas não é o meu caso. Neste grande espaço do grupo Belmiro de Azevedo encontro sempre tudo, desde o mais básico electro-doméstico à mais sofisticado aparelhagem audio-visual. A dificuldade reside na escolha. Acertada a compra com a promessa de ligação do novo aparelho à Zon Box. ficou marcada a data de entrega para hoje, dia 9 de Novembro das 14 às 20 horas. Aqui começa o problema.

Hoje, às 12 h 26 m, recebi um contacto telefónico, feito de um número desconhecido, da parte da Worten. Uma simpática senhora inquiria da minha disponibilidade para receber o citado aparelho "dentro de meia hora". Como não tenho por hábito dificultar a vida a ninguém, acedi. Mas, receando uma entrega atabalhoada devido ao adiantado da hora, repeti a pergunta acerca da ligação da TV. Resposta afirmativa. Começa a contagem de espera. Exasperante.

Passados mais de 60 minutos, contactei o número de atendimento geral da Worten que, durante largos minutos, me "deu música". Entretanto, tocam à porta. Um empregado entra com uma caixa que deposita na sala. Declara que não tem ordens para ligar o aparelho. Chama um segundo empregado que, durante mais de cinco minutos, clamou contra o trabalho e os vendedores das Lojas Worten que só querem vender para receber as comissões. Perdi a paciência e respondi-lhe que, sendo assim, o melhor seria levar o aparelho. E neste desaguisado, fui nomeando a vendedora de Telheiras, pedindo-lhe que a contactasse. Que não, porque ele pertencia a uma empresa de distribuição. Se era assim, sugeri-lhe que telefonasse ao seu chefe. Esperou pelo contacto do chefe e assisti a uma conversa mais mansa. Que não, só devia fazer a ligação aos quatro canais. Face a tudo isto, perguntei qual o tempo necessário para ligar à Zon Box e ainda quanto me cobraria pela prestação desse serviço. Cinco minutos foi a resposta.

Não pude deixar de comentar que, se tivesse começado logo, já estaria na rua. E só nesse momento o empregado recalcitrante começou a abrir a caixa. Em menos de cinco minutos o aparelho ficou a funcionar em todos os canais e não vi introduzir nenhum soft ware. Pelo menos, a embalagem do cd continua por abrir...

Notas finais. A primeira para condenar a falta de profissionalismo da maioria dos empregados. Inqualificável a falta de educação com que tratam os clientes. Para a Worten fica um conselho. Depois da formação dada aos vendedores, que considero impecável, cuide dos serviços de entrega. Há por aí muitas empresas e desempregados...Talvez falte é vontade de trabalhar. Por fim, à maneira das fábulas, direi que este caso prova que vale mais cumprir o estipulado do que facilitar. E ainda concluí que nunca se deve trabalhar de estômago vazio...

domingo, 7 de novembro de 2010

Elis Regina




Elis Regina. Apetece ouvi-la, muitas e muitas vezes.

sábado, 6 de novembro de 2010

Novembro, crisântemos e finados...

A tradição e os clichés persistem no nosso imaginário. É assim Novembro, mês de finados e de crisântemos, o mesmo é dizer culto da família e daqueles que já partiram. Ausência sem regresso que a lembrança aviva, contornando a morte.

Tempo especial para recordar. Ninguém escapa a isso, mesmo os que recusam as manifestações exteriores nos cemitérios. Para traduzir esses sentimentos de perda, escolhi José Luís Peixoto num poema com o qual me identifico. Palavras onde todos nos reconhecemos, apetece-me dizer.


"Na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de põr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco. "

(JOSÉ LUÍS PEIXOTO, in "A Criança em Ruínas"/ Edições Quasi

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Leopoldo III, rei da Bélgica


O interesse pelo nosso mundo passa também pelas efemérides. Passatempo, diversão, pretexto para divagar e recordar. Aconteceu hoje...

No dia 3 de Novembro de 1901 nasceu Leopolodo III da Bélgica que reinou entre 1934 - 1951. Participou na I Guerra Mundial e, estando já no "ofício de rei", viveu os efeitos do imperialismo nazi. As dificuldades do post II Guerra Mundial e o ambiente de conflitualidade geraram um desgaste político que conduziu à sua abdicação, sucedendo-lhe seu filho, Balduíno, que reinou até ao fim dos seus dias em 1993.

A memória do povo belga persiste no registo do rei Leopoldo III e do "casamento perfeito" com a Princesa nórdica, neta do rei Oscar II da Suécia e de Frederico VIII da Dimamarca. Dessa união nasceram três filhos: Josefina Carlota, Balduíno e Alberto. Porém a rainha Astrid não estava destinada à felicidade. Morreu inesperadamente no dia 29 de Agosto de 1935, próximo de Lucerne, num desastre de automóvel, que Leopoldo conduzia.

Mais tarde, em 1941, o Rei casou morganaticamente com Lilian Baels, que ficou conhecida como Princesa de Réthy. Deste casamento nasceram três filhos.

Para mim esta memória contém outra memória. A de um dia 29 de Agosto ( 1975) na Bélgica quando um jornal assinalava a data daquele fatídico acidente. E como as recordações são como as cerejas, na minha mente passei as imagens de um casamento régio que a RTP ( ainda nos primórdios) transmitiu em directo: Balduíno, o rei de sorriso triste, e a terna Fabíola. Aconteceu no dia 15 de Dezembro de 1960.

Memórias Alentejanas do Século XX

Memórias Alentejanas do século XX, uma recolha de testemunhos que a investigadora Maria Antónia Pires de Almeida acaba de publicar. Enfoque dado às fontes orais que, partindo das histórias de vida daqueles que viveram a chamada reforma agrária. contribuem para a compreensão desses tempos conturbados.

Leitura obrigatória para os estudiosos da História do Alentejo e não só. Saiba porquê.

"Este livro reúne uma série de entrevistas realizadas com o objectivo de estudar o processo da Reforma Agrária que se iniciou no Sul de Portugal no final de 1974 e se prolongou, nalguns casos, por duas décadas. Depois dos factos apurados, o que fica é a memória de toda uma população afectada por uma experiência marcante e controversa. Com a passagem do tempo, importa não esquecer uma particular vivência da ruralidade que já não existe, mas que formou gerações de pessoas num espaço hoje já irreconhecível. Depois da leitura destes testemunhos, talvez se volte a olhar para o espaço rural alentejano, agora desertificado, como um controverso lugar também de vida, onde muitas pessoas, ao ritmo das estações e dos trabalhos agrícolas, desenvolveram os seus projectos pessoais, assumiram interesses comuns e se envolveram numa dinâmica social e política ímpar em Portugal em que deixaram ficar a sua marca. A autora alia o seu legado familiar pessoal à sua actual qualidade de cientista e académica para, dando voz aos verdadeiros protagonistas da sua obra, prestar com ela, no rescaldo da história, a sua própria homenagem pessoal a todos os alentejanos."

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Inverno em Moscovo

Moscovo prepara-se para viver mais um Inverno. Entretanto, regista-se o primeiro nevão que mal deixa vislumbrar a Basílica de S. Basílio.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Barbie ou Sindy?


Nada como o bom humor para aliviar a tensão. Esse é tom do Comendador Marques de Correia, o cronista semanal da Única, o qual revela, em meu entender, a outra face do Director do Expresso. Do último sábado, transcrevo os últimos parágrafos de O nosso país é um mar de dúvidas, perante o qual temos um mar de incertezas. Obrigatório ler e sorrir...

"...há os que, não gostando de Sócrates, se interrogam: o Passos será melhor? Ou seja, é como hesitar entre comprar uma Barbie e uma Sindy - parecem iguais, servem para o mesmo, mas só uma é original.

Deste modo, para aprender a viver com Sócrates, o essencial é aprender a viver como estamos...Não vale a pena pensar no futuro, porque é deprimente e tem PPP (Parcerias Público Privadas ) para pagar a preços cada vez mais elevados. Pensemos, pois, no presente - temos Sócrates até Maio que vem...é inevitável. Imaginemos, mesmo sendo mentira, que viver num país com Sócrates é estar no melhor dos mundos - com anjos, harpas e nuvens de algodão. Se não for capaz de ver as coisas assim, está no Inferno! E, como se explica na religião, se está no Inferno a culpa é sua!"

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Falando ainda de Viana da Mota

Continuo a falar de Viana da Mota. Dedicatória da fotografia que, em Setembro de 1885, o Mestre oferece ao discípulo: "A José Vianna da Motta, saudando os seus futuros sucessos. Fr. Liszt". Voto profético que Viana da Mota cumpriu.

Portugal à deriva

Falharam as negociações para viabilizar o OE para 2011, razão para imaginar este País à deriva. Será possível ainda chegar a bom porto? Bem sei que o "mau tempo" dificulta a marcha, mas melhores dias virão e depois da tempestade chega sempre a bonança...

Quero pensar assim, mas...Que alternativas para Portugal? No espectro político actual não enxergo ninguém capaz de endireitar as contas públicas, imprimindo o optimismo e confiança necessários à tranquilidade e paz social.

Que os políticos coloquem o interesse de Portugal acima das suas conveniências partidárias e vaidade pessoal, sedenta de protagonismo. Esse é ponto. Uma situação que atribuo à inexistência de valores. Encontrar um político com sentido ético será difícil, um obstáculo maior se restringirmos a "geração" à volta dos cinquenta anos. Os "velhos" opinam, aconselham, mas eles, impantes e vaidosos, continuam surdos, medindo forças num "braço de ferro"...

Políticos todos iguais nesta feira de vaidades e de cinismo. Impera o protagonismo e a demagogia. Todos bem falantes, apelam ao bem do povo e da pátria que dizem querer regenerar. Por isso criticam, vociferam e prometem o impossível. Gastam à tripa forra o "nosso dinheiro" e, deixando-se enredar em esquemas fraudulentos, recebem "luvas" e "mais luvas". Agem com toda a naturalidade e assim, perdido que foi o sentido da decência, continuam a tratar das "suas vidinhas". Se porventura acontece um momento mais quente de irritação, lançam acusações graves como mentiroso, ladrão, criminoso... Epítetos tais que julgaríamos ver discutidos na barra dos tribunais, mas não. Ninguém levanta processos a ninguém!

Por tudo isto, apetece-me pedir socorro. Quem nos acode nesta tormenta?

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Viana da Mota






Lembrando um compositor especial, José Viana da Mota. Durante os 80 anos de vida (1868 - 1948 ) assistiu à passagem do século, atravessando as mudanças que marcaram a primeira metade do século XX. Nascido na Monarquia, viveu a implantação da República, o 28 de Maio de 1926 e a instauração do Estado Novo. Tempo conturbado por confrontos ideológicos e políticos que desembocaram em duas Guerras Mundiais, a última das quais terminou num ambiente de bipolarização e de guerra fria.

Excluindo todas essas vicissitudes, remeto para a história de vida de José Viana da Mota, um menino prodígio que contou com a protecção mecenática do rei D. Fernando II, tendo sido, em 1885, um dos últimos alunos do velho Franz Liszt.

domingo, 24 de outubro de 2010

Mónica e David

Mónica e David, um documentário da vida real que a RTP2 transmitiu há poucas horas. Diz-se na sinopse que "Explora o casamento de um jovem casal com síndrome de Down e da família que se esforça para atender às suas necessidades."

Assinalou-se no dia 21 o Dia Internacional do Síndrome de Down. Deficiência genética que, embora limitando o desenvolvimento, não restringe totalmente as capacidades de aprendizagem. Geralmente dóceis, estas crianças fazem da afectividade de que são dotadas um instrumento de aprendizagem e de integração social. E se não bastasse a observação do quotidiano, o documentário de hoje elucidava-nos.

O desenvolvimento deve-se muito ao empenhamento da família. Uma tarefa difícil, porque muitas vezes o "pai" parte, deixando tudo a cargo da mulher. O pai de David abandonou-o quando ele ainda era bebé. E Mónica chora e lamenta o silêncio do "pai de sangue" na data do seu aniversário. A ternura que une os dois jovens e a compreensão e apoio familiar são inexcedíveis. Sem pormenorizar, direi que o filme aborda todas as vertentes do problema: o crescimento e aprendizagem da criança, a afectividade e sexualidade, a necessidade de autonomia e superprotecção familiar, a preocupação com o futuro desses deficientes.

Boas razões para lembrar à sociedade, pelo menos uma vez por ano. Razões suficientes para proteger as instituições de apoio aos portadores de deficiência. Por exemplo, a Crinabel. Mas existem muitas outras.

sábado, 23 de outubro de 2010

Portugal, ranking das escolas do Secundário

Maria de Lourdes Rodrigues, Ministra da Educação entre 2005-2009, teria um projecto que não soube ou não quis desenvolver. Com uma inaudita falta de senso atacou os professores, atribuindo-lhes a causa de todos os males. Erro político crasso, porque não se pode educar, hostilizando aqueles que merecem e devem ser respeitados. E estes, humilhados e ofendidos, desanimaram e saíram, mesmo afectados na sua pensão. Debandada geral que alterou profundamente o quadro docente das escolas públicas.

Desmotivação do professores é um dos muitos factores explicativos do baixo rendimento das escolas públicas do ensino secundário. Remete para aí o ranking das escolas,

" Este ano, à semelhança do ano passado, nove das dez escolas com melhor média são privadas, enquanto que entre as que apresentam piores médias estão sete públicas e três escolas portuguesas no estrangeiro (que têm estatuto de privadas).

Assim, o Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto, é o que consegue a melhor classificação: uma média de 14,82 valores em 394 exames. A primeira pública volta a ser, tal como em 2009, o Conservatório de Música de Calouste Gulbenkian, em Braga, no quinto posto, com uma média de 14,24 valores, mas apenas em sete exames.

A lista das classificações regista, no entanto, algumas diferenças se forem apenas consideradas as escolas onde se realizaram pelo menos 100 provas. Nesta tabela, as dez escolas com melhor média são todas privadas e nove são nos distritos de Lisboa ou do Porto e a restante em Coimbra.Tendo em consideração este critério, a Secundária Infanta D. Maria, em Coimbra, passa a ser a melhor pública."

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Mariana Rey Monteiro

O mundo do espectáculo está de luto. Morreu Mariana Rey Monteiro. Filha de Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro, a Actriz que contava 87 anos de idade, deixou-nos anteontem. No Teatro D. Maria II viveu momentos de glória, mas também aí experimentou o sofrimento naquela noite de Dezembro em que o "seu Teatro" foi consumido pelo fogo. Soube ultrapassar dias conturbados depois do 25 de Abril e participou na primeira telenovela portuguesa.

Grande senhora na vida real e nos palcos. É assim que gosto de a relembrar em Vila Faia, Ela que soube também representar papeis modestos. Exemplo disso é o registo na série Gente Fina, onde contracenava com sua Mãe. Embora retirada, Mariana deixa um vazio no público e nos seus amigos e colegas de profissão. Basta olhar o sentimento de tristeza no rosto daqueles que a acompanharam esta manhã na Igreja do Santo Condestável, recordando a sua bondade e delicadeza...

domingo, 17 de outubro de 2010

Eliminação da Pobreza e da Exclusão Social


O calendário assinala mais um Dia Internacional. Desta vez, para a erradicação da pobreza e da exclusão social. Fenómeno que, todos nós, cidadãos do mundo, devemos tomar consciência, porque o "polvo da crise" agiganta-se, invadindo o Planeta.

O espaço planetário reparte-se entre países ricos e países pobres. Fala-se muito da globalização e da assimetria económico-financeira entre Estados. Questão subjacente ao quadro socio-económico de cada país, independentemente do regime ou bloco. Porém, em todos a mesma realidade: desigualdade e injustiça num crescendo número de pobres que é directamente proporcional ao acumular de fortunas das elites económicas e políticas. Em qualquer qualquer Estado, um ponto comum: uma osmose nunca vista entre o mundo empresarial e dos negócios e os quadros políticos e administrativos!

Desigualdade e injustiças que suscitam uma reflexão séria e capaz de lutar pela mudança do sistema. Mas primeiro, um alerta para a necessidade de coesão social. Por isso, neste tempo do "salve-se quem puder", dominado pelo império da corrupçao e do egoísmo, apela-se à reposição dos valores da compaixão e solidariedade...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Fénix, nome de esperança...

O resgate dos mineiros no Chile transporta-nos à Antiguidade e ao mito da Fénix: uma ave que renasce das cinzas. Um mito aplicado à natureza humana e à esperança na imortalidade. Este o nome que o Chile escolheu para a cápsula que há-de conduzir os mineiros à superfície e à vida. Hoje, a Fénix é um produto da ciência e da técnica que nos faz acreditar no milagre da libertação...

Da Internet retirei imagens e texto alusivos a estas duas ideias de Fénix. A hiperligação Cápsula Fénix espelha bem a complexidade deste processo...Veja como funciona!


"A fênix ou fénix (em grego ϕοῖνιξ) é um pássaro da mitologia grega que, quando morria, entrava em auto-combustão e, passado algum tempo, renascia das próprias cinzas. Outra característica da fénix é sua força que a faz transportar em vôo cargas muito pesadas, havendo lendas nas quais chega a carregar elefantes.

Teria penas brilhantes, douradas, e vermelho-arroxeadas, e seria do mesmo tamanho ou maior do que uma águia. Segundo alguns escritores gregos, a fénix vivia exatamente quinhentos anos. Outros acreditavam que seu ciclo de vida era de 97.200 anos. No final de cada ciclo de vida, a fénix queimava-se numa pira funerária. A vida longa da fénix e o seu dramático renascimento das próprias cinzas transformaram-na em símbolo da imortalidade e do renascimento espiritual.

Os gregos parecem ter se baseado em Bennu, da mitologia egípcia, representado na forma de uma ave acinzentada semelhante à garça, hoje extinta, que habitava o Egito. Cumprido o ciclo de vida do Bennu, ele voava a Heliópolis, pousava sobre a pira do Deus , ateava fogo em seu ninho e se deixava consumir pelas chamas, renascendo das cinzas. "

Cohn Bendit e a Europa




Proclamar as verdades. É preciso coragem e Cohn Bendit mostra como se faz. Importa ouvi-lo para compreender a hipocrisia dos políticos europeus!!

Para avivar a memória: Cohn Bendit emergiu como político no Maio de 68 em Paris. Evoluíu e hoje é uma voz conceituada no Parlamento Europeu.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Mineiros em Atacama

Lá longe, em pleno deserto de Atacama, continuam retidos 33 mineiros. Localizados a 700 metros de profundidade, esses homens nunca perderam a esperança de regressar à superfície e abraçar os familiares que, diga-se, tocaram a unir esforços, apelando às autoridades competentes. Um esforço colectivo que mobilizou técnicos e políticos, familiares, amigos e todo o povo chileno. Mais ainda, este sentimento de esperança ultrapassou fronteiras até aos lugares mais recônditos, cujas agências noticiosas registam a par e passo os avanços técnicos na perfuração do subsolo.

Tenho acompanhado as notícias que, desde 5 de Agosto, dão conta do estado dos mineiros e dos seus familiares que acamparam à entrada da mina. Vivem em ansiedade numa atenção expectante a todos os sinais que, felizmente, se perspectivam em avanços optimistas, porque as primeiras previsões de resgate têm sido largamente antecipadas. Do Natal para os meados de Outubro e, mais ainda, para hoje. Diz-se que lá pelas 22 horas, hora de Lisboa, deverá começar a operação de resgate.
Não me vou esquecer de rezar, tal como milhares de pessoas no Chile e no mundo. Espera-se o milagre nesta noite de oração que, curiosamente, coincide com a vigília de oração em Fátima que antecede a peregrinação de 13 de Outubro. Por tudo isto, compreende-se a sugestão de uma mulher chilena que, nesse espaço inóspito de Atacama, pedia a construção de um santuário. Um lugar de recolhimento e oração para dar graças a Deus, porque a fé move montanhas!!

Morreu Joan Sutherland

La Stupenda, o epíteto dado a Joan Sutherland. A "voz inesquecível" que ficou associada à carreira de Pavarotti, que muito a admirou, calou-se para sempre este domingo na Suíça.

Desta Soprano de quarenta anos de carreira de uma vida de quase 84 anos, ( nasceu em Sidney em 1926), restam as memórias de quem a ouviu. E também ela guardou as suas lembranças dos palcos e das terras que percorreu. De Portugal ficou-lhe a noite de 24 de Abril em S. Carlos e o dia seguinte quando o encerramento do aeroporto a impediu de embarcar. Mais tarde, havia de confessar que este facto lhe deu a oportunidade de desfrutar do maravilhoso Sol de Portugal nesse 25 de Abril de 1974...que amanheceu pleno de todas as esperanças!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

"Pior do que tá não fica..."



As eleições no Brasil decorreram num ambiente festivo com o seu quê de anedótico. Este spot que foi visto como uma paródia aos "males da democracia", afinal, não foi...

Tiririca foi eleito e agora chovem as denúncias contra o novo deputado que, muito provavelmente, nem chegará a tomar posse.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Carolina Beatriz Angêlo


No momento em que se comemora a implantação da República, apetece-me falar da conquista do direito de voto das mulheres em Portugal.

Cirurgiã e activista dos direitos femininos, Carolina Beatriz Ângelo foi a primeira mulher a votar em Portugal. Estava-se em 1911, a República acabara de ser implantada em Outubro de 1910, e Carolina «torceu» a seu favor um dos «buracos» da lei ou, se se quiser, da língua portuguesa.
Carolina Beatriz Ângelo nasceu na Guarda em 1877, onde fez os estudos primários e secundários. Em Lisboa, estudou medicina, concluindo o curso em 1902. Nesse mesmo ano, casou-se com Januário Barreto, seu primo e activista republicano. Tornou-se a primeira médica portuguesa a operar no Hospital de São José, dedicando-se mais tarde à especialidade de ginecologia. A militância cívica iniciou-a em 1906, em conjunto com outras médicas, vindo a aderir a movimentos femininos a favor da paz e da implantação da República e à Maçonaria e tornando-se defensora dos direitos das mulheres, nomeadamente o de votar.

Por toda a Europa, e não só, havia anos que as sufragistas reivindicavam ruidosamente este direito para as mulheres e a Nova Zelândia tinha-se tornado o primeiro país a concedê-lo em 1893. A primeira lei eleitoral da República Portuguesa reconhecia o direito de votar aos «cidadãos portugueses com mais de 21 anos, que soubessem ler e escrever e fossem chefes de família». Carolina Ângelo viu nesta redacção da lei a oportunidade de a subverter a seu favor, dado que, gramaticalmente, o plural masculino das palavras inclui o masculino e o feminino.

Viúva e com uma filha menor a cargo, com mais de 21 anos e instruída, dirigiu ao presidente da comissão recenseadora do 2º bairro de Lisboa um requerimento no sentido de o seu nome «ser incluído no novo recenseamento eleitoral a que tem de proceder-se». A pretensão foi indeferida pela comissão recenseadora, o que a levou a apresentar recurso em tribunal, argumentando que a lei não excluía expressamente as mulheres. A 28 de Abril de 1911, o juiz João Baptista de Castro proferia a sentença que ficaria para a História: «Excluir a mulher (…) só por ser mulher (…) é simplesmente absurdo e iníquo e em oposição com as próprias ideias da democracia e justiça proclamadas pelo partido republicano. (…) Onde a lei não distingue, não pode o julgador distinguir (…) e mando que a reclamante seja incluída no recenseamento eleitoral». Assim, a 28 de Maio de 1911, nas eleições para a Assembleia Constituinte, Carolina Beatriz Ângelo tornou-se a primeira mulher portuguesa a exercer o direito de voto.
Não sem um pequeno incidente, que a mesma relatou ao jornal A Capital: «No final da primeira chamada, o presidente da assembleia [de voto], Sr. Constâncio de Oliveira, consultou a mesa sobre se deveria ou não aceitar o meu voto, consulta na verdade extravagante, porquanto, estando recenseada em virtude duma sentença judicial, a mesma não tinha competência para se intrometer no assunto». O seu gesto teria como consequência imediata um retrocesso na lei: o Código Eleitoral de 1913 determinava que «são eleitores de cargos legislativos os cidadãos portugueses do sexo masculino maiores de 21 anos ou que completem essa idade até ao termo das operações de recenseamento, que estejam no pleno gozo dos seus direitos civis e políticos, saibam ler e escrever português, residam no território da República Portuguesa». As mulheres portuguesas teriam de esperar por Salazar e pelo ano de 1931 para lhes ser concedido o direito de voto e, ainda assim, com restrições: apenas podiam votar as que tivessem cursos secundários ou superiores, enquanto para os homens continuava a bastar saber ler e escrever.
A lei eleitoral de Maio de 1946 alargou o direito de voto aos homens que, sendo analfabetos, pagassem ao Estado pelo menos 100 escudos de impostos e às mulheres chefes de família e às casadas que, sabendo ler e escrever, tivessem bens próprios e pagassem pelo menos 200 escudos de contribuição predial…

Em Dezembro de 1968 foi reconhecido o direito de voto político às mulheres, mas as Juntas de Freguesia continuaram a ser eleitas apenas pelos chefes de família. Só em 1974, já depois do 25 de Abril, seriam abolidas todas as restrições à capacidade eleitoral dos cidadãos tendo por base o género.

domingo, 3 de outubro de 2010

Subjectividade em Arte!!!



Enviado por um Amigo, mail deveras interessante que não pude deixar de publicar.

Por aqui se prova que nem sempre o "hábito faz o monge" ou como a pretensão de saber nos pode levar ao engano. Ou ainda que nem sempre o que parece, é: assim nas coisas como nas pessoas...

"O tempo anda mais devagar nos nossos pés..."


A relatividade do tempo...todos a vivemos. Mas subjectividades à parte, veja-se como Einstein revolucionou essa noção. O artigo do Expresso de ontem, intitulado Cabeças Relativas da autoria de Nuno Crato, explica com clareza a questão da "velocidade" do tempo.

" Se compararmos dois relógios, um junto ao mar e outro a 1000 metros de altitude, o que está mais abaixo atrasa-se em relação ao outro cerca de de três segundos em cada milhão de anos. E não se trata de um problema dos relógios. É o próprio tempo que anda mais devagar em locais onde a força gravítica é maior. Mas o efeito é muito pequeno. Para se notarem os efeitos previstos por Einstein, seriam necessárias velocidades perto da da luz ou então escalas astronómicas. A verificação experimental das diversas previsões revelou-se difícil. mas foi sendo conseguida aos poucos. (...)

Isto quer dizer que com estes relógios, que se nos pusermos de pé podemos verificar a diferença de tempo entre os nossos pés, os nossos joelhos, a nossa barriga, o nosso peito e a nossa cabeça. O tempo anda mais devagar nos nossos pés, que estão mais perto do solo, e mais depressa na cabeça. Mas não nos entusiasmemos. A diferença é da ordem de um décimo milionésimo de segundo ao fim de 80 anos. Nada que se perceba. Por isso, leitor, se sentir a cabeça a acelerar, não deite as culpas sobre Albert Einstein."

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Recado a Lisboa



João Villaret,uma voz imortal aviva as memórias de outrora.
Para "matar saudades" e contar aos mais novos as coisas desta Lisboa...

sábado, 25 de setembro de 2010

Jornalistas há muitos...

O alvo, desta vez, são os jornalistas. De outros tempos, segundo Trindade Coelho. Mas quem sabe se não persistem alguns traços nesta caracterização da classe?!...

Da obra citada na anterior mensagem, Grandes Repórteres Portugueses da I República, o texto intitula-se Contraste.

" Em toda a parte do Mundo, fora das horas regulamentares da tarefa, o verdadeiro profissional é um homem de sport, um homem de sociedade um centro de convivência. Ainda há noites, ao penetrar na arena do Coliseu, clara à luz romana de Maio, eu saudei, num ruidoso grupo de senhoras decotadas e de gentlemen evening dress, que alegremente haviam jantado no Excelsior, alguns jornalistas estrangeiros.
Encontro-os em Florença, em Veneza e no Lido; encontro-os nos dancings da moda, nos hotéis de luxo, nas grandes recepções. Têm a alma e a existência em desafogo. Possuem a alegria de viver. Trabalham, viajam, divertem-se - vivem, em suma, integrados num grande meio e num grande século.

Em Portugal, por motivos que seria longo e triste enumerar, o profissional da Imprensa é um homem que só na sua formidável energia interior encontra o estímulo que a sociedade nunca lhe concede.
Falo, é claro, do verdadeiro jornalista. Não me refiro àquele que, falido no seu segundo ano de liceu, habitualmente ingressa nas gazetas, onde logo inicia a crítica e a orientação da Coisa Pública, talvez no exemplo histórico daquela delambida filha de "Madame" que, no tumulto sanguinolento da Fronda, sossegadamente disse um dia:
- Minha mãe,: falemos dos negócios do Estado, hoje que faço cinco anos..."

Conselheiro Acácio e os jornalistas

Conselheiro Acácio, a personagem intemporal de Eça. Conhecemo-lo bem e com ele lidamos diariamente. Desta vez, o registo crítico de Vitorino Nemésio avança com um tipo por demais visto... texto curto e directo que retirei de Grandes Repórteres Portugueses da I República.

"Ouvi dizer outro dia ao conselheiro Acácio:
- Fulano? Ah, bem sei, coitadinho! É um pobre repórter do Século. Costuma vir aqui maçar-me com entrevistas... Esses repórteres, que praga!

O conselheiro Acácio costuma pedir as entrevistas, e até faz as despesas da prosa."

Vitorino Nemésio, Páginas de Memórias in Grandes Repórteres Portugueses da I República

O valor de uma Mulher



Audrey Hepburn, mulher linda e elegante, deixou-nos a receita da verdadeira beleza. Vale a pena experimentar a sabedoria destas palavras. Uma receita válida também para os homens...porque afinal somos todos iguais!

Fado Malhoa

O Fado, José Malhoa





Poucas horas depois de a RTP evocar este fado clássico...a voz de Amália regista-o.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A minha Aldeia

Porto Covo, foto in Internet


DA MINHA ALDEIA vejo quanto da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver.

Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos

Josefa de Óbidos

Menino Jesus Salvador do Mundo, 1673, Igreja Matriz, Cascais.

Filha de pai português e de mãe sevilhana, Baltazar Gomes Figueira e D. Catarina d´Ayala e Cabrera, Josefa nasceu na cidade-natal de sua mãe. Cedo veio para Portugal, onde cresceu e exerceu o seu mester. Fixou-se na terra que a posteridade haveria de associar ao seu nome: Josefa de Óbidos (1630-1684) que continua como garante do património da sua localidade de adopção.

A segunda metade do século XVII em Portugal saldou-se por um reduzido número de pintores, facto que mais contribuiu para dar fama a um caso raro de mulher-artista. Óbidos e muitas outras igrejas e museus do País guardam muitas das suas obras de temática religiosa e não só. Bem conhecidas são as naturezas mortas em telas coloridas de expressão naturalista misturadas com grinaldas de flores à maneira barroca. Produção artística multifacetada que, reflectindo a mentalidade de uma época, recebeu também a influência do espaço de vida de Josefa. É o que pode subentender-se das palavras de Vítor Serrão.


"Encafuada nas muralhas medievais da vila de Óbidos, ora meditando ao sopro marinho da Várzea obidense e à calma do planalto da sua Quinta da Capeleira, esta mulher pintora deleitou-se nos efeitos lumínicos e na plasticididade naturalista da observação directa, sem outra escola de base do que a ditada pelos seus talentos multiformes; devia ser pessoa de hábitos solitários e de sincera alma mística, com uma existência pautada por certa banalidade bucólica de usos e costumes - lembremos que designava as suas vacas do Casal da Capeleira por carinhosos epítetos: a Galante, a Cereja, a Formosa -, limitando as suas deslocações ao aro de Peniche, do Bombarral e das Caldas, ou mais excepcionalmente, à zona de Alcobaça, Coimbra e Buçaco, onde trabalhou, e é neste quadro provinciano que encontramos as raízes da sua arte, por vezes enternecedora e saborosa, com todos os defeitos e potencialidades."
Vítor Serrão, O Essencial sobre Josefa de Óbidos

domingo, 19 de setembro de 2010

VIAJAR , Viajantes e Turistas à descoberta de Portugal no tempo da I República

Ainda no Terreiro do Paço não deve perder a Exposição VIAJAR, percurso de rotas e memórias de viagem em Portugal.
Siga a hiperligação e visite os diferentes núcleos devagar, observando as imagens (fotos, filmes e quadros) e textos. Retratos da vida social e política do País que despertava para o Turismo em todas as suas vertentes...

Notei o enfoque patriótico dado aos lugares e monumentos desde os princípios do século XX aos tempos da República. É o mesmo sentido das Maravilhas de Portugal!

Estado, Medicina e Sociedade no Tempo da I República


Centenário da República, eventos e exposições que não deve perder. No Terreiro do Paço, agora renovado, é possível ver, rever e aprender muita coisa acerca do CORPO nos últimos cem anos em Portugal e no Mundo.

A hiperligação revela o essencial dos cinco núcleos que abordam o tema. Mas nada como visitar in locu. Tanta coisa para reflectir acerca da medicina, os avanços da ciência e das mentalidades. E perante aquelas operações cirúrgicas (filmadas em 1906 e 1911), dê graças a Deus por viver no século XXI...

Muito interessante o último núcleo, Corpos Excluídos. Mutilados de guerra e acidentados do trabalho, loucos, prisioneiros e prostitutas. Marginalizados pela sociedade que, pouco a pouco, vão adquirindo direitos. Por exemplo, o uso do capuz exigido a todos os penitenciários até 1913, ano da abolição desse estigma que os coarctava da sua identidade. Um caso para meditar num tempo em que os direitos dos arguidos e dos presos parecem ilimitados!...

sábado, 18 de setembro de 2010

Escola Pública, Anos Setenta

Escola Preparatória de Nuno Gonçalves, foto Arquivo Municipal, Internet

Outrora a Avenida General Roçadas era assim, frente à Escola de Nuno Gonçalves. O modelo dos carros, a existência de lugares de estacionamento e a calma no passeio não suscitam grandes dúvidas quanto à data da foto que, com toda a probabilidade, remonta aos finais da década de Cinquenta, inícios de Sessenta.

Escola Técnica Elementar que, depois da chamada reforma de Veiga Simão em 1968, passou a Ciclo Preparatório do Ensino Secundário. A mudança implicou a alteração na frequência que, sendo exclusivamente masculina, passou também a admitir meninas. A novidade traduzia-se num espírito de super protecção às raparigas que usufruíam da liberdade de circular pela "escada dos professores", evitando deste modo choques e atropelos.

A qualidade humana e pedagógica do Director e Subdirector, Drs. Francisco Xavier Roberto e Eduíno de Jesus, sabiam criar um ambiente agradável, onde dava gosto trabalhar. Embora superlotada, a Escola mantinha uma organização exemplar mercê de um esforço conjunto de professores e empregados. Muitos hão-de lembrar ainda esses tempos de disciplina quando o Regulamento ditava o uso de bata branca para professores e alunas. Agora, que um novo ano lectivo começa, recordo essas regras de 1972-73, sorrindo...



"CIVISMO ESCOLAR
(...) Nos corredores anda-se, não se corre nem se patina; fala-se, não se grita e, muito menos, se assobia.
- Atenção às escadarias: trânsito pela direita.
- Nos recreios não não é permitido jogar a bola com o pé, nem outros jogos de que possam resultar danos materiais ou pessoais. (....)
- A Escola é a nossa casa e não nos diminuímos cuidando da sua limpeza.
Os papéis, as cascas de fruta, os caroços, etc., devem ser lançados nos recipientes apropriados. (...)
- É proibida a compra de guloseimas aos vendilhões - proibido e perigoso: pela saúde e pela limpeza e trânsito da Avenida - , bem como a permanência nas casas de negócio.
- Nos caminhos de casa para a Escola e da Escola para casa o aluno é já aluno da Escola com todos os direitos e deveres...


A ESCOLA E A FAMILIA
- Delicado é o problema de educar, e dele não é possível desempenhar-se cabalmente a Escola sem a colaboração da Família dos alunos.
- Comece-se por ter cuidados especiais com a pontualidade e aprumo do educando ao sair de casa: um atraso nas refeições implica o comer depressa, o vir a correr, procedimentos de que podem resultar inconvenientes e perigos.
- A falta de aprumo é tristeza; sobretudo doloroso numa criança. E agrada tanto vê-los penteados, de fatinho limpo! Parece que sobre eles voejaram felizes e atentos os olhos dos Pais.
E não será a falta de aprumo índice de indisciplina, de qualquer espécie de desordem? (...)
- Alguns Encarregados de Educação acham que é indispensável acompanhar os seus educandos à Escola. Mas será, de facto, indispensável? Apareçam sim, na Escola, para saber como se porta o educando: mas não o venham trazer pela mão, nem mandem a avó ou a criada. Os companheiros po-lo-ão a ridículo e far-lhe-ão passar maus bocados. (...)


SERÁS UM BOM ALUNO
...Se fores
pontual,
assíduo às aulas e todas as actividades circum-escolares em que estejas inscrito ou para que a tua presença tenha sido solicitada,
aplicado nos teus estudos,
bem comportado dentro e fora das aulas, dentro e fora da Escola,
exemplar em todas as tuas acções,
solidário com os teus companheiros
leal,
franco,
verdadeiro,
cortês,
asseado. (....)"

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Gente feliz com Vacas!

Alentejo visto do Céu, foto in Internet, Olhares.pt

Uma mensagem que serve de contraponto à anterior. Sim, é verdade. Nós, os humanos, também podemos encontrar um pouco de felicidade no contacto com as vacas. Um artigo do Expresso ( 14 de Agosto último ) dá conta de uma experiência na Holanda, onde um casal de empresários acrescentou uma nova vertente à sua produção leiteira. Chamemos-lhe Abraçar as Vacas, uma aposta destinada a combater o stress. Bom remédio para todos, mas particularmente recomendada ao público urbano...

Para conhecer este projecto, que vem ganhando um número crescente de adeptos, transcrevo alguns excertos. E já agora, não haverá por cá empresários interessados neste negócio?


"As pessoas da cidade trazem consigo uma atmosfera diferente, diz a nossa anfitriã. Primeiro, têm de de se sentar algum tempo e sacudir a sua pressa. Em seguida, os grupos, - geralmente famílias comemorando um aniversário ou ou funcionários num dia de teambuilding - começam num estábulo próximo da vacaria, Este é o local onde podem escolher o seu macacão azul. É uma precaução necessária, porque o cheiro das vacas pode infiltrar-se com facilidade em nossas roupas.

Quando chega a altura de visitar as bezerras, Marret Hupkes diz-nos: "A regra mais importante é libertar-se do seu ego. As vacas são animais de manada e querem que você se integre. Se não adoptar a atitude delas, vão-se embora."

Chega, por fim, o momento de abraçar algumas vacas. "Ande devagar, seja discreto", diz a agricultora. "Preste atenção às orelhas e aos olhos. Se as orelhas estiverem para a frente, significa que a vaca está alerta. Se os olhos estiverem semicerrados, significa que a está relaxada."

Quando nos deitamos ao lado de uma vaca , sobre a palha, apercebemos-nos de que ela é muito maior do que parecia de longe. É de meter respeito: não deve ser fácil ter o peso de 500 quilos (...) . "Digo às pessoas para nunca se deitarem em cima da vaca, mas sim ao lado, e encostadas a ela, de contrário não seria agradável para o animal. Caso se sinta completamente relaxado, não se surpreenda se a vaca encostar a cabeça contra si", diz Hupkes. E acrescenta que anseia pelo Verão, quando todos os visitantes se podem deitar na erva e as vacas se vão sentar junto deles, por todo o lado. Como se fossem, de facto, uma manada.

"É raro uma vaca zangar-se.Se o fizer é porque tem boas razões. Lembro-me de uma visitante que queria ministrar às vacas um tratamento reiki. Não sei porquê, já que a vaca estava de perfeita saúde. Pôs as mãos perto da vaca para lhe enviar energia. De súbito o animal deixou-se cair em cima da mulher. Graças a Deus não lhe aconteceu nada. Provavelmente a vaca queria mostrar que-lhe que não estava achar piada nenhuma", diz Hupkes. "Para sua informação, a vaca também saiu ilesa".

Marijke Diel